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Qualidade da água em reservatórios e a provisão de serviços ecossistêmicos: uma abordagem qualitativa

Resumo

Qualidade da água em reservatórios – Os reservatórios são sistemas artificiais importantes no cenário nacional, são marcados por diversos impactos socioambientais durante sua construção e por proporcionam diversos benefícios para a sociedade. Todavia, tem sido observada a perda de qualidade da água destes sistemas, o que afeta a provisão de serviços ecossistêmicos. Diante da necessidade de investigações, o presente trabalho empregou uma abordagem qualitativa para estabelecer relações entre variáveis indicadores de qualidade da água e suas relações com os serviços ecossistêmicos/benefícios proporcionados pelos reservatórios de Barra Bonita (BB), Santo Grande (SG), Itupararanga (IT) e Jaguari Jacareí (JJ). Constatou-se que, mudanças nas variáveis limnológicas alteram os serviços ecossistêmicos proporcionados pelos reservatórios, devido aos prejuízos para a manutenção da biodiversidade e a desregulação de processos ecológicos. A abordagem qualitativa demonstrou-se robusta para a avaliação de serviços ecossistêmicos proporcionados pelos reservatórios, as informações geradas podem servir de base para a elaboração de medidas de conservação dos recursos hídricos e tomada de decisão, visando evitar gastos com o tratamento da água e prejuízos para atividades humanas.

Introdução

Nos últimos 50 anos, ocorreu um rápido aumento do número de reservatórios ao redor do globo (50 mil > 15 metros, 17 milhões > 100 m²) (IPES, 2019), com destacada importância para o cenário brasileiro; pelo seu papel na geração de energia elétrica e no abastecimento público. Na última década, tem sido vivenciada uma crise hídrica que afeta diversos setores econômicos e a manutenção dos ecossistemas naturais. Porém, a situação tende a se agravar em razão das mudanças climáticas, que influencia diretamente no volume dos reservatórios (RAULINO; SILVEIRA; LIMA-NETO, 2021).

Apesar de possuírem diversos impactos socioambientais associados à sua construção (ARANTES; SOUZA, 2021; SOARES; OLIVEIRA, 2021) e contribuírem com a emissão de gases de efeito estufa (GRUCA-ROKOSZ; CIESLA, 2021), os reservatórios podem fornecer diversos benefícios para a sociedade, tais como provisão de água, retenção de nutrientes, atividades recreativas, entre outros. Estes benefícios podem ser entendidos como serviços ecossistêmicos, que são os benefícios proporcionados aos seres humanos por meio do funcionamento dos ecossistemas e manutenção do capital natural (MEA, 2005; KUMAGAI et al., 2021).

Todavia, quando a integridade dos ecossistemas é alterada em seu funcionamento e em sua estrutura, a provisão de serviços ecossistêmicos pode ficar comprometida (BURKHARD et al., 2012). Quando ocorre a degradação da qualidade da água destes sistemas e as variações em seu fluxo, perdas e prejuízos podem ser observados nos benefícios e serviços ecossistêmicos proporcionados pelos reservatórios.

Emerge, assim, a necessidade de se realizar uma avaliação destes serviços, considerando as ações (vetores) envolvidas, as mudanças na qualidade da água e a sua relação com as mudanças nos serviços ecossistêmicos/benefícios. Os vetores podem ser compreendidos como “fatores naturais ou induzidos pelo ser humano que direta ou indiretamente ocasionam uma mudança em um ecossistema” (MEA, 2005).

A avaliação monetária de serviços ecossistêmicos acaba sendo empregada para comunicar os valores proporcionados pelo capital natural, mas existem dimensões que não são passíveis de serem avaliadas (SUKHDEV; WITTMER; MILLER, 2014). Na literatura, avaliações têm sido realizadas para a valoração dos serviços ecossistêmicos prestados por ambientes lênticos (e.g. PERIOTTO; TUNDISI, 2013; ZHAO; LIU, 2015; REYNAUD; LANZANOVA, 2017), mas não existe um consenso acerca da valoração destes serviços ecossistêmicos (REYNAUD; LANZANOVA, 2017). Muitas vezes, a adoção de métodos qualitativos acaba sendo indicada, dada a influência socioeconômica que as avaliações podem sofrer (SILVA et al., 2019).

Informações desta natureza contribuem com a tomada de decisão (WANG et al., 2021). A utilização eficiente dos reservatórios deve ser propiciada e; estes sistemas necessitam que seus benefícios e eventuais interferências sejam considerados (TUNDISI; MATSURA TUNDISI; TUNDISI, 2008). Neste sentido, os índices de qualidade da água e as suas variáveis constituintes podem ser de grande valia para a verificação de relações entre parâmetros limnológicos e serviços ecossistêmicos (KEELER et al., 2012; VAN HOUTVEN et al., 2014) em reservatórios, oferecendo subsídios para a tomada de decisão e reforçando a importância do manejo adequado destes ambientes.

Os reservatórios de Barra Bonita (BB), Itupararanga (IT), Jaguari-Jacareí (JJ) e de Salto Grande (SG) estão localizados no interior do Estado de São Paulo, em uma das regiões mais populosas e industrializadas do Brasil. Estes reservatórios são influenciados por diversas atividades antropogênicas, recebem descargas de efluentes com maior ou menor intensidade, são eutróficos ou hipereutróficos, além de desempenharem um importante papel provendo água para grandes regiões metropolitanas ou mesmo gerando energia elétrica (SOTERO-SANTOS, 2006; MARTINS et al., 2011; MORAES PEDRAZZI et al., 2013; GAZONATO-NETO et al., 2014). Dado o contexto brasileiro, uma avaliação dos serviços ecossistêmicos proporcionados por estes sistemas pode trazer implicações práticas para a tomada de decisão.

Diante do exposto, o presente trabalho tem como premissa que a perda da qualidade da água em reservatórios compromete a provisão de serviços ecossistêmicos. Assim, o objetivo foi estabelecer uma abordagem qualitativa para a análise das relações entre as das variáveis constituintes de um indicador de qualidade da água com mudanças nos serviços ecossistêmicos/benefícios proporcionados pelos reservatórios citados, apontando possíveis mudanças de valor e salientando estratégias de manejo.

Autor: Fabio Leandro da Silva, Ângela Terumi Fushita, Marcela Bianchessi da Cunha-Santino e Irineu Bianchini Júnior.

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