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Avaliação da qualidade da água do Rio Paraopeba em Brumadinho, após rompimento da barragem B1 e considerações técnicas acerca da alteração do ponto de captação nesse manancial para abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte

Resumo

O rompimento da barragem de rejeitos B1 em Brumadinho do complexo da Mina Córrego do Feijão da Mineradora Vale SA, que ocorreu em 25/01/2019, atingiu o ponto de captação de água, para fins de abastecimento público da Região Metropolitana de Belo Horizonte, situado no rio Paraopeba. Dessa forma, este trabalho tem por objetivo principal avaliar a qualidade da água do rio no ponto de captação existente que foi atingido pela lama da barragem B1. O trabalho também apresenta considerações técnicas acerca da viabilidade da alteração do mencionado ponto de captação de água. Para fins de avaliação da qualidade da água do manancial em questão, foram considerados os resultados de monitoramento publicados pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas no Informativo nº 54 de outubro de 2019. A análise estatística dos resultados indicou que não houve diferença significativa (p<0,05) para a qualidade da água dos pontos BP036 e BPE2 situados, respectivamente, a montante e a jusante do local atingido pela lama, a partir de agosto de 2019, para os parâmetros monitorados, com exceção de Manganês Total. Cabe salientar que as concentrações do parâmetro Manganês Total, relatadas pelo IGAM no ponto BPE2, são inferiores a 0,5 mg/L desde maio de 2019. Essa concentração de 0,5 mg/L é o padrão das águas de Classe 3, que também podem ser destinadas “ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado”, conforme estabelecido no art. 4º, IV, “a” da DN conjunta COPAM/CERH nº 01/2008, ou seja, nas concentrações encontradas, o manganês pode ser removido por métodos usuais de tratamento de água. Conclui-se, portanto, que não há justificativa técnica para a alteração do ponto de captação de água para abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, vez que o investimento financeiro para essa alteração não resultará em ganhos significativos na qualidade da água bruta. Dessa forma, não se justifica a modificação da estrutura de captação já existente. Em virtude do aporte histórico de micropoluentes no rio Paraopeba pelo lançamento de esgoto sanitário, efluentes industriais e outros – mesmo a montante do trecho atingido pela lama da barragem B1 – o investimento de recursos financeiros em aprimoramento do tratamento da água para potabilização, com adoção de tecnologias complementares adequadas, tais como, por exemplo, osmose reversa, nanofiltração, processos avançados de oxidação, adsorção em carvão ativado, após sistema convencional, traria maiores benefícios à população atendida pelo sistema Rio Manso, quando comparado à alteração do ponto de captação.

Introdução

No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem de rejeitos B1 do Complexo da Mina Córrego Feijão, localizada no município mineiro de Brumadinho, rompeu, liberando para o ambiente grande volume de lama. A mencionada barragem possuía volume de 12,7 milhões de metros cúbicos na ocasião do acidente (MPMG, 2019). Diversas edificações foram afetadas pelos resíduos, resultando em grande número de óbitos (259 mortos até 05/10/2019 e 11 desaparecidos) e dano ambiental de elevada dimensão e repercussão (FREITAS; ALMEIDA, 2020).

O município de Brumadinho possui população estimada para 2018 de 39.520 habitantes (IBGE, 2019), localiza-se na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), no estado de Minas Gerais, Brasil, e possui como principal atividade econômica a mineração de ferro, que gera resíduos no processamento. Os resíduos que extravasaram para o ambiente em virtude do rompimento da barragem B1 foram acondicionados a úmido, com risco de rompimento, especialmente devido ao método construtivo com técnicas de alteamentos a montante.

Além de perdas de vidas humanas, os rejeitos da barragem ocasionaram impactos negativos nos âmbitos sociais e ambientais, devido principalmente à perda de vegetação e à alteração da qualidade das águas da bacia do rio Paraopeba, que constitui importante manancial de abastecimento da capital do estado mineiro e de outras cidades.

Devido ao fato de o ponto de captação operado pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) ter sido atingido pela lama, foi proposta alteração do ponto de captação para local situado a cerca de doze quilômetros a montante da atual. Essa alteração torna necessária a intervenção em uma área de 42.143 m² (para construção de equipamentos para captação), além da interferência em uma área de 1.671.255 m² para instalação de rede que interligará a nova captação à estação de tratamento de água (ETA) Rio Manso. A adutora percorrerá cerca de 13 km, atravessando a mancha urbana do município de Brumadinho, até a ETA Rio Manso, requerendo 120 metros de largura, conforme Decreto Estadual nº 359/2019.

Essa interferência ocasionará restrição do uso do solo na região, impactando negativamente a população brumadinense, devido ao traçado da adutora de água bruta com futuros riscos de rompimento advindos de sua operação, além da travessia da linha de transmissão de alta tensão e respectiva radiação eletromagnética em seu entorno.

Diante deste contexto, o presente trabalho tem por objetivo principal avaliar eventuais alterações da qualidade da água do rio Paraopeba no ponto de captação da COPASA existente atualmente, situado em Brumadinho/MG, em virtude do lançamento dos rejeitos (lama) oriundos do rompimento da barragem B1 do complexo da Mina Córrego Feijão da Mineradora Vale S/A. O trabalho também se propõe a apresentar considerações técnicas acerca da viabilidade da alteração do ponto de captação de água para abastecimento da RMBH.
Autores: Alexandra Fátima Saraiva Soares e Felismina Saraiva Soares.

 

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