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Produtores ajudam a preservar rios do Oeste da Bahia

Estudo mostra que 82% das bacias da região estão conservadas

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Pelo menos 18% das bacias hidrográficas do oeste da Bahia tem algum problema de preservação, enquanto os outros 82% continuam conservados e tem potencial de crescimento para a irrigação. Os dados fazem parte de um estudo que está em andamento sobre os rios da região, um dos maiores polos agrícolas do país.

“Esta é uma informação essencial para planejar e decidir o que melhor fazer para equacionar algum problema que já exista ou que ainda pode ser evitado, ou mesmo para expandir a agricultura irrigada desta região”, afirma o pesquisador Everardo Mantovani, professor da Universidade Federal de Viçosa e coordenador da pesquisa.

O levantamento faz parte do projeto que está mapeando o Aquífero Urucuia, um conjunto de formações geológicas que acumulam água no subterrâneo e ajudam a manter os rios perenes. O diagnóstico vem sendo realizado desde 2017 e é promovido pelos próprios agricultores da região através da Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa) e pela Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste (AIBA).

O estudo está sendo acompanhado ainda pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri), Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento (SIHS) e pelo Instituto Water for Food da Universidade do Nebraska, nos USA.

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Rios do Oeste estão sendo mapeados através de pesquisas promovidas pelos próprios agricultores. (Foto: Georgina Maynat)


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O projeto permite que as águas superficiais, ou seja, as águas dos rios, sejam monitoradas através de um sistema de sensores informatizados que mostram qual a vazão dos rios da região. A ferramenta está em operação desde o ano passado e pode ser acessada pela internet.

Outros recurso utilizado é uma software chamado de “visual mod flow”, que inclui um mecanismo de modelagem de água subterrânea através de um programa de computador. Com base em modelos hidrogeológicos, que contam com dados sobre tipos de rocha e outras informações obtidas a partir de perfurações já existentes, os especialistas querem analisar o volume de água total do aquífero.

“O desafio é saber a exata dimensão subterrânea do aquífero. Este programa vai mostrar a disponibilidade de água e o que não conseguimos ver aqui de cima. Com estes dados será possível programar e oferecer ferramentas e dados para uma real gestão das águas”, completa o pesquisador.

Crescimento dos espaços irrigados

Através do projeto, os pesquisadores já traçaram a evolução da área plantada e o crescimento dos espaços irrigados no Oeste entre os anos de 1990 e 2018. Agora os dados estão sendo disponibilizados para a população, universidades, comitês de bacias hidrográficas, secretarias municipais e estaduais.

“É uma ferramenta de inteligência territorial e de governança. Através destes dados acreditamos que os próprios gestores e agentes públicos, junto com as comunidades que vivem nesta região, podem verificar o potencial da área e decidir sobre ocupação do solo e uso eficiente dos recursos hídricos”, completa o pesquisador.

Estima-se que cerca de 30 mil agricultores atuem diretamente sobre a área do aquífero Urucuia, a maior parte é de pequenos produtores rurais. Dos 2,2 milhões de hectares plantados na região, cerca de 8% são irrigados.

“O debate sobre os recursos hídricos muitas vezes é realizado com base emocional e do achismo. Este trabalho ajuda a colocar informações concretas para tomada de decisões com base em dados científicos. Só assim poderemos planejar para não faltar água no futuro”, completa Mantovani.

O projeto, que deve ser concluído até 2021, é financiado com recursos do Programa para o Desenvolvimento da Agropecuária (Prodeagro) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Proteção de nascentes

A água que corre da nascente Veredinha, dentro da Fazenda Barreirinha, em Barreiras, está limpa. Ela continua transparente até em dia de chuva, quando a corrente fica mais intensa e com maior possibilidade de contato com agentes poluentes.

“Em dias de chuva a água chegava a sair barrenta, principalmente depois de entrar em contato com dejetos que por ventura tivesse ao redor da nascente. Agora apesar de estar chovendo ela fica assim clarinha e não se mistura com as outras águas”, afirma o agricultor José da Silva Sousa.

A nascente fica no Vale do Cinturão Verde onde se concentram muitos agricultores familiares. A água que brota nesta região ajuda a dar volume a um dos afluentes do Rio Grande, um dos principais rios do oeste da Bahia, que por sua vez é afluente da Bacia do Rio São Francisco.

A fonte de água está protegida graças ao projeto de recuperação de nascentes que vem sendo implantado na região desde 2017. De lá para cá, mais de 40 nascentes já foram recuperadas ou receberam algum tipo de intervenção.

O projeto desenvolvido pela Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa) e pela Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) em parceria com secretárias municipais já abrange mais de nove municípios da região.

Aplicação do método “Caxambu”

O sistema é simples e envolve a utilização do método chamado de Caxambu. É uma técnica de baixo custo, onde são colocadas pedras sobre as nascentes e a área de escoamento do olho d´água fica protegida com cimento e vegetação.

Depois de proteger a saída da água, evitando o contato com agentes poluentes, é feito o isolamento de uma área de pelo menos 20 metros ao redor da fonte. O perímetro da mata ciliar fica protegido contra erosão e contra o pisoteio do gado. Desta forma a nascente pode continua sendo alimentada pela água da chuva sem risco de esgotamento ou de escoamento do recurso hídrico.

No povoado de Tábua da Água Vermelha a água da nascente é usada para manter as plantações de verduras e para abastecer o reservatório do gado em época de seca.

“Usamos cerca de 30% da água para uso imediato dentro da propriedade, e os outros 70% seguem o curso normal. Além disso plantamos árvores nativas ao redor da nascente, como ingazeiras e buritis, pois o reflorestamento ajuda a preservar a mata e o equilíbrio da área”, completa o agricultor.

A iniciativa faz parte de um projeto que inclui ainda a execução de pequenas barragens em estradas para evitar o assoreamento de córregos e rios e a recuperação de áreas de preservação permanente, as chamadas APPs.

Como previsto no código florestal, os agricultores desta região costumam preservar faixas de 30 a 500 metros da área de vegetação associada a mananciais hídricos. Somando toda a área do Oeste, isso representa cerca de 452 mil hectares nas bacias hidrográficas dos rios Carinhanha, Corrente e Grande.

Um monitoramento por satélite realizado pela Embrapa mostrou que 64% do bioma cerrado na Bahia estão conservados. Segundo o levantamento, do total de 11,6 milhões de hectares de terras desta região, cerca de 3,6 milhões de hectares em vegetação nativa estão intocados e outros 2,3 milhões de hectares correspondem a reserva legal.

“A água é um bem essencial para o ser humano e para todas as outras espécies. Temos que preservar”, conclui o agricultor que faz parte da terceira geração de produtores rurais da família.

Fórum discute inovação e sustentabilidade

As ações implementadas no Oeste da Bahia para garantir a sustentabilidade no campo e a preservação ambiental em áreas agrícolas serão discutidas durante o I Fórum de Inovação e Sustentabilidade para a Competitividade (FISC) – Barreiras. O evento será realizado no Auditório da Câmara de Vereadores da cidade de Barreiras, nessa sexta-feira (22), das 8h às 11h30.

O I Fórum de Inovação e Sustentabilidade para a Competitividade – edição Barreiras é uma realização do Ibama, WWI, ABAPA com apoio editorial do jornal Correio e patrocínio do Grupo Horita.

Programação

8h15 – Inovação tecnológica na agricultura – Leandro Carrion, gerente de otimização da Jonh Deere.
8h35 – O papel da agricultura para sustentabilidade e preservação ambiental – Evaristo de Miranda, Chefe da Embrapa Territorial.
9h05 – Direito Ambiental – Rodrigo Justus, Assessor técnico sênior de meio ambiente da CNA.
9h25 – Mesa Temática – Moderador: Rodrigo Alves,  Superintendente do IBAMA
10h05 – Oeste da Bahia na era da Eco-nomia – Eduardo Athayde, WWI – World Walcth Institute
10h25 – Cotonicultura no estado da Bahia – Júlio Cézar Busato, Presidente da ABAPA.
10h40 – Projeto do estudo sobre o aquífero Urucuia e o potencial de irrigação no oeste da Bahia – Everardo Mantovani, professor titular da Universidade Federal de Viçosa.
10h55 – Algodão Brasileiro Responsável – Fernando Rati, gestor técnico da Abrapa.
11h10 – Mesa Temática – Moderador: Rodrigo Alves, Superintendente do Ibama.
11h30 – Encerramento

Fonte: Correio 24 horas.

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