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A mudança climática está afetando o solo e a fundação de prédios urbanos

Há uma ameaça silenciosa abaixo de grandes cidades do mundo — e os prédios construídos nelas não foram projetados para lidar com isso.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, aborda a relação entre a mudança climática e a mudança no solo de áreas urbanas. Trata-se da primeira pesquisa a quantificar deformações no solo causadas por ilhas de calor abaixo da superfície e o efeito disso na infraestrutura civil.

Eventualmente, a análise foi publicada no periódico Communications Engineering no dia (11/07) e aponta que, conforme o solo esquenta, ele também se deforma. Esse fenômeno faz com que a fundação de prédios e o solo ao redor se mova bastante; e, por conta das expansões e contrações, ela pode chegar a rachar. Portanto, isso afeta a durabilidade e a performance operacional da estrutura desses imóveis a longo prazo.

De acordo com os pesquisadores, vários prédios já devem ter tido problemas e outros terão ainda mais por conta do aumento das temperaturas esperado nos próximos anos.

“A mudança climática do subsolo é uma ameaça silenciosa”, diz Alessandro Rotta Loria, engenheiro e pesquisador da Universidade Northwestern e líder do estudo, em comunicado. “O solo está ficando deformado como consequência das variações de temperatura, e nenhuma estrutura ou infraestrutura civil existente foi projetada para resistir a essas variações.”

Loria aponta que esse fenômeno não chega a ser perigoso para a segurança das pessoas, mas afetará operações normais dos sistemas de fundação e a infraestrutura no geral.

Mudança climática (no subsolo)

Em muitas áreas urbanas ao redor do mundo, o calor continua a se difundir dos prédios e transportes subterrâneos, aumentando a temperatura do solo rapidamente. Assim também, pesquisas anteriores sobre o assunto indicam que as superfícies de grandes cidades esquentam entre 0,1 e 2,5ºC por década.

Chamado de mudança climática do subsolo, esse fenômeno tem causado problemas ecológicos, como a contaminação da água do solo, e de saúde, incluindo asma e ataques cardíacos.

“No geral, as cidades são mais quentes que as áreas rurais porque os materiais de construção às vezes prendem o calor derivado da atividade humana e da radiação solar para depois o liberá-lo na atmosfera. Esse processo tem sido estudado por décadas. Agora, estamos investigando seu equivalente no subsolo que, em sua maioria, é conduzido por atividade humana.”

Ao longo dos últimos anos, Alessandro Rotta Loria e sua equipe instalaram uma rede sem fio de mais de 150 sensores de temperatura na superfície e no subsolo da região central de Chicago, nos Estados Unidos, incluindo locais como porões de prédios, túneis de metrô e estacionamentos. Assim também, para comparação, os pesquisadores também instalaram os dispositivos numa área verde longe de prédios e sistemas de transporte de subsolo.

Conforme os dados coletados mostram que as temperaturas do subsolo da região chegam a ser 10ºC mais quentes que as da área verde. Dessa forma a temperatura do ar do subsolo pode chegar a 25ºC. Quando o calor se espalha pelo solo, ele pressiona os materiais, que se expandem e contraem com as mudanças de temperatura.

“Não é como se o prédio fosse colapsar do nada. As coisas vão acontecendo lentamente. As consequências para a operacionalidade das estruturas e infraestruturas pode ser ruim, mas vai demorar até que consigamos vê-las. É provável que a mudança climática do subsolo já tenha causado rachaduras e assentamentos excessivos da fundação que não associamos a esse fenômeno porque não estávamos cientes dele”, pontua Loria.

Segundo os especialistas, acreditam que, no futuro, as estratégias de planejamento deveriam integrar tecnologias geotermais para coletar o calor e redistribui-lo para prédios com espaço para aquecimento.

“O que não queremos é usar tecnologias para resfriar ativamente estruturas subterrâneas, porque isso consome energia. Mas, atualmente, há uma infinidade de soluções que podem ser implementadas”, complementa Loria.

Fonte:GALILEU

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