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Agricultura usa mais águas residuais não tratadas do que se imaginava

Levantamento mundial revelou que pelo menos 30 milhões de hectares a até 40 km de centros urbanos são irrigados com esse tipo de recurso

Novo estudo estima que, hoje, existem pelo menos 30 milhões de hectares de terras agricultáveis pelo mundo localizadas perto de grandes cidades sendo irrigadas com águas residuais sem tratamento. O número é 50% maior do que a estimativa mais usada até a publicação desse estudo. Os dados são de levantamento conduzido por um consórcio de profissionais das universidades da Califórnia em Berkeley, Stanford, e Católica de Leuven, além do IWMI (International Water Management Institute).

O material foi publicado na revista científica Environmental Research Letters, da rede IOP Science. Ainda de acordo com a pesquisa, mais de 800 milhões de pessoas, entre elas habitantes das cidades que consomem produtos cultivados nas regiões irrigadas por essas águas, além de fazendeiros e intermediários, correm riscos de contaminação.

Insumo perigoso

“Há quem chame essas águas de esgoto, mas trata-se, em sua grande maioria, de água que foi consumida em ambiente doméstico e devolvida à natureza sem tratamento”, disse Pay Drechsel, co-autor do estudo vinculado ao IWMI, à BBC. “Raramente há efluentes industriais [nessa água]”, afirmou.

Mas o perigo existe. Drechsel lembrou que, embora boa parte desses efluentes domésticos cheguem diluídos, rio abaixo, às regiões agricultáveis, eles são insumos significativamente perigosos tanto para o fazendeiro, que fará a captação para irrigação, quanto para quem compra e consome os produtos desse fazendeiro. Levantamento feito em Gana, por exemplo, na África, registrou níveis altíssimos de bactérias como o E.Coli, por exemplo, além de vírus e parasitas na água sem tratamento.

Reuso é bom

“O reuso de efluentes domésticos urbanos é absolutamente compreensível – e defensável – dada a combinação de crescimento da poluição generalizada das águas e a diminuição na oferta de água potável – principalmente nos países em desenvolvimento”, afirmou Anne Thebo, da Universidade da Califórnia em Berkeley, também à BBC. “Mas, enquanto o investimento no tratamento dessas águas antes do lançamento delas no meio ambiente for inferior ao crescimento populacional, cada vez mais gente estará exposta aos perigos que esse tipo de recurso carrega”. disse.

Além da dificuldade de investimento, existe uma barreira cultural a ser vencida. Não são poucos os fazendeiros que dizem preferir águas residuais sem tratamento para irrigar suas plantações. A lógica, segundo eles, é de que a água, sem tratamento, carrega mais nutrientes do que a água tratada. Mal sabem eles dos riscos que o líquido representa para eles e seus clientes.

Confira a íntegra (em inglês) do estudo “A global, spatially-explicit assessment of irrigated croplands influenced by urban wastewater flows”. O acesso é gratuito.

 

Fonte: Juntos pela Água.

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