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Empresas recebem resíduos de clientes da Cettraliq

Central que trata efluentes de cerca de 1,5 mil indústrias do Estado está paralisada há 15 dias

Preocupação da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), que chegou a declarar ter “certa dependência” da Cettraliq para o tratamento de resíduos de cerca de 1,5 mil empresas, o destino dos efluentes dos clientes da companhia interditada pela prefeitura de Porto Alegre tem engrossado a demanda das outras três centrais de tratamento existentes no Estado.

Responsáveis pelas empresas NW, de Estrela, Flucor, de Farroupilha, e Hydroquímica, de Guaporé, relataram um incremento nas solicitações de tratamento desde que a Cetraliq, localizada na zona norte de Porto Alegre, foi paralisada pelo órgão ambiental, há 15 dias.

— A procura aumentou, mas infelizmente conseguimos atender poucos. A minha capacidade é bem menor do que era a da Cettraliq — diz o diretor da NW, Alexandre Wasem.

A companhia de Estrela, que atua no tratamento de resíduos líquidos há mais de 10 anos, tem autorização para processar 60 metros cúbicos de efluentes por dia. O número é quase um décimo do que prevê a licença da central de tratamento interditada pela prefeitura da Capital. Além disso, há restrições para alguns tipos de resíduos, como cianetados e óleos emulsionados. Segundo Wasen, novos clientes tem uma amostra dos seus resíduos testada e só são cadastrados se o tratamento dela for eficaz.

Para a Flucor, de Farroupilha, o aumento da quantidade de efluentes para processamento não deve ser o maior problema. Embora também possam trabalhar com um volume semelhante ao da NW no Rio Grande do Sul, a companhia tem unidades em outros Estados, como Santa Catarina e São Paulo, para onde pode encaminhar os clientes. Seu sistema de tratamento é o que limita a atuação da empresa.

— A gente trabalha com uma tecnologia um pouco diferente, de evaporação, que impõe limitações. Somos especializados em alguns tipos de efluentes, como emulsões oleosas e outros produtos mais específicos — relata o diretor Luiz Antonio Madureira.

Somente nas últimas semanas, mais de 10 antigos clientes da Cettraliq buscaram a companhia para destinar seus rejeitos. Mas, em alguns casos, como os que continham substâncias inflamáveis, não foram aceitos.

Acostumada a receber efluentes do polo joalheiro, a Hydroquimica, de Guaporé, percebeu uma mudança no perfil dos clientes nas últimas semanas. Pelo menos 20 novas companhias, entre elas clientes da central de tratamento de Porto Alegre, buscaram os serviços oferecidos pela empresa.

— Estamos sabendo que muitos estão enviado para a Flucor e para a NW, que são mais próximas, mas já começaram a surgir novos clientes. Pegamos amostras para testar a tratabilidade e, se ficar bom, faremos orçamento para fechar o contrato — afirma Gabriel Bier Volff, proprietário da companhia.

Segundo Volff, apesar de ter se especializado no processamento de compostos inorgânicos, a Hydroquimica trabalha com diferentes tecnologias, o que permite uma gama abrangente de recepção de resíduos. Mas, além das restrições previstas na licença de operação, não costuma trabalhar com solventes, derivados do leite, vinícolas e cortumes.

Com atividades suspensas em 10 de agosto por emissão de resíduos acima do estipulado no licenciamento ambiental, e interdição cautelar decretada pelo município por possível relação com as alterações no cheiro e no sabor da água tratada, a Cettraliq é a maior central de tratamento de efluentes do Estado e recebe resíduos de empresas como metalúrgicas, curtumes, universidades, fábrica de tintas, revendedoras de combustíveis e indústrias química, farmacêutica e calçadista. A companhia tinha autorização para tratar até 500 metros cúbicos diariamente, mais que o dobro da soma das outras três centrais de tratamento.

A discrepância entre a empresa da Capital e as demais habilitadas para o mesmo tipo de serviço no Estado foi argumento da Fepam para justificar sucessivas negociações com a Cettraliq, que já foi autuada em pelo menos duas oportunidades pelo órgão ambiental por irregularidades: sem ela, de acordo com a Fepam, haveria o risco de que indústrias despejassem resíduos não tratados no Guaíba.

Procurado pela reportagem para atualizar a situação dos clientes da Cettraliq, o órgão estadual limitou-se a encaminhar, via assessoria de imprensa, uma nota publicada no site da Fepam em 11 de agosto, dia seguinte à interrupção das atividades da Cettraliq. A nota, que não responde aos questionamentos de ZH, informa apenas que os clientes da companhia teriam de encaminhar em, no máximo, 15 dias, “nova proposta de destinação e/ou tratamento de seus efluentes” para análise do órgão ambiental. O prazo se encerra nesta sexta-feira.

Fonte: Zh.clicrbs.com.br

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