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Com racionamento, Brasília reduziu 12% do consumo de água em 14 meses

O governador Rodrigo Rollemberg anunciou ontem que as ações restritivas chegarão ao fim em 15 de junho

 

racionamento

Em 42 dias, o Distrito Federal colocará um ponto final no racionamento iniciado em 16 de janeiro de 2017. Nos últimos 14 meses, o brasiliense teve de se adaptar com a torneira seca uma vez a cada seis dias. A medida resultou na redução de 12% no consumo de água na capital, mas também teve impactos na economia e na agricultura, além de uma queda de R$ 110 milhões no faturamento da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb). O governador Rodrigo Rollemberg anunciou ontem que as ações restritivas chegarão ao fim em 15 de junho. “Tenho certeza de que a nossa população adquiriu novos hábitos e, daqui para a frente, vamos usar de forma racional esse bem precioso que é a água”, afirmou.

Em março, Rollemberg havia dito, pela primeira vez, que teria condições de anunciar uma data para o término do racionamento após o período chuvoso. Nesta semana, depois de reunião com representantes da Caesb e da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa), os cenários para a capital federal no período da seca foram traçados, e a expectativa é de que, em novembro, após a estiagem, o Descoberto esteja com 21,9% da capacidade total — o reservatório está hoje com 91,1%.

Com isso, Rollemberg garantiu que a data escolhida garante segurança hídrica. “Nós atuamos nesse período de uma forma absolutamente técnica. Muitas vezes, recebi sugestões de políticos, de companheiros, de que devíamos acabar com o racionamento o mais rápido possível, mas nós entendemos que devíamos fazer isso no momento adequado e em uma data que permitisse termos segurança técnica”, explicou.

Período de seca

O período de seca deste ano na capital federal não deve ser mais longo do que o normalmente registrado, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Mas algo muito mencionado por Rollemberg e por representantes da Adasa e da Caesb é que o DF não pode mais contar só com a ajuda das chuvas. Entre 2000 e 2015, além do investimento feito no sistema de Corumbá IV — previsto para entrar em funcionamento até fim deste ano —, foram gastos apenas R$ 15 milhões para garantir água à população em uma única obra realizada no Rio Pipiripau, em Planaltina. Em dois anos de crise hídrica, os investimentos foram sete vezes maiores. Agora, a expectativa é de que, com o fim do racionamento, a questão não caia no esquecimento.

Segundo a Caesb, após a entrega de Corumbá IV, mais duas obras de captação devem ser feitas. A primeira, em andamento, é da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Gama, que tratará 320 litros por segundo captados de seis córregos da região. A previsão é entregá-lo em até sete meses. A segunda — e mais complexa — é uma estrutura para captar 2,5 mil litros por segundo do Lago Paranoá, quase quatro vezes mais do que é captado hoje. A expectativa inicial era de que a empreitada custasse R$ 500 milhões, e o GDF espera aprovação de empréstimo da Caixa Econômica Federal para viabilizá-la. Representantes da Caesb e da Adasa não comentaram o fim do racionamento.

Retomada

Os setores que tiveram prejuízo financeiro com o racionamento comemoraram o término do corte. De acordo com a Federação do Comércio do DF (Fecomércio), 180 salões de beleza fecharam as portas por causa dos cortes. Cerca de 10% dos 18 mil estabelecimentos tiveram prejuízos que somam R$ 2 milhões, o que significa uma redução de 3% no faturamento. “Cada dia de suspensão do abastecimento acarretava queda de 10% das vendas, o que, naturalmente, acaba causando demissões”, disse o presidente da Fecomércio, Adelmir Santana. Segundo ele, a recuperação dessas vagas não será imediata.

O cabeleireiro Renato Ramos, 32, também apoia o término da medida. “Eu nunca quis que o racionamento acontecesse. Tentei mudar alguns hábitos, mas permaneci gastando a mesma quantidade de litros desde que abri o salão. Mudou toda a minha rotina. Todos os dias antes do corte no abastecimento, precisava me programar. Isso atrapalhou o atendimento aos clientes. Agora que vai acabar, estou mais calmo”, contou o comerciante do Guará 1.

Por causa do rodízio, Renato precisou incluir novos gastos no orçamento do salão. “Como não tem caixa-d’água no estabelecimento, precisei comprar quatro baldes de 100 litros. Além disso, instalei um sistema elétrico no lavatório de cabelo. Com tudo isso, desembolsei cerca de R$ 600. Sem falar que, quando a água acabava, tinha de comprar galões. Eu não precisaria fazer isso caso o racionamento não estivesse acontecendo”, reclamou.

Cara a cara

“Por ser extremo e não se manter, o racionamento foi a pior medida possível tomada. Ele não mantém a qualidade da água, além de ter alto custo. Sair de um racionamento sempre é uma coisa boa, porque reduz o risco de contaminação da rede. Existem medidas de contenção de consumo que não precisam recorrer à suspensão da distribuição. Por exemplo, a maior vantagem do racionamento é que, nos dias sem água, não há taxa de desperdício, que soma 30% do total entregue. No entanto, seria melhor trabalhar para diminuir esse índice de perda, melhorando o sistema, que é antigo, e substituindo-o por um novo.

Após o fim do racionamento, os próximos passos devem ser investir em educação. Temos de manter a redução do consumo ou mesmo diminuir mais ainda. Neste último ano, as pessoas se conscientizaram. Agora, precisamos regulamentar isso com a sociedade por meio de leis que incentivem o uso racional. Investimentos tanto da população quanto governamentais são necessários. Podemos substituir os equipamentos domésticos por outros de menor consumo, como privadas e torneiras. Além disso, o reúso deve ser observado. Porém, vale lembrar que esse racionamento compulsório ocorreu porque houve erro de planejamento. Alguém esqueceu de pensar no abastecimento do futuro. É uma situação que não pode se repetir”

Fonte: correio braziliense

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