Seguradora espanhola faz parceria com Reservas Votorantim para restaurar mata no sul de SP; governo quer incentivar iniciativas semelhantes
Uma área de Mata Atlântica localizada na região sul do Estado de São Paulo deverá ser recuperada nos próximos anos com investimento da seguradora espanhola Mapfre. O projeto é elaborado em parceria com a Reservas Votorantim, do grupo Votorantim. O governo paulista quer incentivar, a partir do próximo ano, iniciativas semelhantes, atraindo mais capital privado para ações de recuperação de matas nativas em áreas públicas. Reservas Votorantim para restaurar mata no sul de SP; governo quer incentivar iniciativas semelhantes
Em troca, essas empresas passam a ter a possibilidade de compensar suas emissões de gases de efeito estufa. É o caso da Mapfre. O grupo tem como meta zerar até 2050 as emissões de suas unidades pelo mundo. Em alguns países, essas metas deverão ser cumpridas muito antes.
A unidade da companhia no Brasil conseguiu reduzir suas emissões de 11 mil toneladas de carbono por ano para 6 mil. A maior parte dessas emissões vem do deslocamento diário dos funcionários em automóveis, transporte público e avião.
Com 2.600 funcionários no Brasil, a seguradora chegou a um ponto em que não parecia mais possível continuar reduzindo os números de forma tão expressiva. A solução foi compensar as emissões por meio da aquisição de créditos de carbono.
A empresa diz que, até o fim do ano, vai zerar suas emissões com a compra de créditos. “Mas nos pareceu que poderíamos dar um passo além da compra do crédito de carbono. E surgiu uma oportunidade de fazermos um investimento mais ambicioso na restauração de uma parte da Mata Atlântica”, disse ao Valor o CEO da seguradora, Felipe Nascimento.
Serão restaurados 29 hectares (ou 29 campos de futebol) de Mata Atlântica em terras públicas, no parque estadual Carlos Botelho. O parque tem 37 mil hectares e se estende pelos municípios de Capão Bonito, São Miguel Arcanjo e Sete Barras, no Vale do Ribeira.
A administração do Carlos Botelho informa que o parque é “um dos mais importantes refúgios da vida selvagem da região do sudeste do Estado” e também um corredor ecológico que conecta porções da Mata Atlântica.
A área do parque onde Mapfre e Votorantim vão investir requer restauração de parte da floresta. Serão plantadas 40 mil mudas. Segundo Nascimento, a Mapfre não vai divulgar o valor a ser aportado.
“Esse investimento deverá ser suficiente para cobrir os créditos de carbono que necessitamos para zerar a partir de 2028”, disse. “Zeramos em 2024 com a compra de crédito de carbono e esse investimento [no parque] vai permitir que a gente neutralize nossas emissões sem precisar recorrer a compra de crédito.” Estamos falando de acionistas e clientes cada vez mais preocupados com essa questão”
— Felipe Nascimento
A Reservas Votorantim afirma que vai fechar 2024 tendo plantado cerca de 400 hectares de floresta – plantios bancados por negócios variados interessados em sequestrar carbono. O projeto com a Mapfre é o maior até agora.
“A Mata Atlântica captura tanto carbono quanto a Amazônia por hectare, 350 quilos de carbono por hectare”, disse David Canassa, diretor executivo da Reservas Votorantim. “E a Mata Atlântica, assim como a Amazônia, sofre o risco de regredir, por causa das pressões das mudança climáticas. Então, é preciso ajudá-la, fazendo projetos de restauração ecológica.”
Um dos pontos de atenção é o risco de incêndio – ainda que a Mata Atlântica não tenha um histórico de fogo como áreas da Amazônia. Brigadas estaduais de incêndio e um monitoramento frequente por parte das empresas envolvidas no projeto do parque tendem a reduzir o risco.
“Mas, claro, sempre temos que estar atentos”, disse Canassa.
Na semana passada, foi sancionada lei federal que estabelece regras para o comércio de crédito de carbono. A Mapfre não planeja vender créditos do projeto, mas neutralizar suas próprias emissões. A iniciativa, diz a empresa, vai numa rota valorizada não só pelo acionistas.
“Estamos falando de acionistas preocupados com essa questão e vemos clientes cada vez mais sensíveis a isso. Estamos convencidos de que, com o amadurecimento desse processo, as empresas que forem mais responsáveis serão as mais bem avaliadas do ponto de vista do valor das ações”, avaliou o executivo.
Fonte: Valor
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