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Lagoa da Pampulha/MG consumirá mais R$33 milhões em desassoreamento mas nata verde e mau cheiro devem continuar

Com tratamento químico suspenso, nata retorna à lagoa. Prefeitura de BH investe R$ 33 mi em desassoreamento, mas não há prazo para retomar recuperação da qualidade da água

pampulha

O preço da sujeira: o valor a ser investido até 2022 em desassoreamento do reservatório é de R$ 33,7 milhões. R$ 100 milhões é o volume aproximado de recursos públicos que serão investidos na lagoa em seis anos

O mau cheiro havia desaparecido e voltou a dar orgulho ver o espelho d’água de um dos cartões-postais de Belo Horizonte. Mas bastou a estiagem chegar para velhos problemas voltarem à tona na Pampulha. Nas últimas semanas, quem passa pela lagoa em pontos como as imediações da igrejinha, em frente à Avenida Fleming, logo percebe uma espécie de nata verde tomando conta de grande extensão da superfície, acompanhada de um odor insuportável.

Por enquanto, não há horizonte para a continuidade do tratamento da qualidade da água, cujo contrato foi encerrado em março. Sem os produtos químicos que garantiam um aspecto mais limpo e elevaram o reservatório a uma categoria superior na classificação ambiental, a prefeitura da capital estuda novo contrato, enquanto investe novamente em desassoreamento. Com essa finalidade, a represa vai consumir mais R$ 33,7 milhões até 2022. Com o valor, chega a mais de R$ 100 milhões o dinheiro público usado a partir dos últimos dois anos na lagoa.

130 mil metros cúbicos por ano de sedimentos

Foi publicado esta semana no Diário Oficial do Município (DOM) o novo contrato de R$ 33,7 milhões para as obras de revitalização do lago. O prazo de execução dessa etapa das intervenções é de 48 meses, contados a partir da ordem de serviço. De acordo com a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smobi), serão retirados aproximadamente 130 mil metros cúbicos por ano de sedimentos e terra do fundo do manancial, até 2022. Em quatro anos, serão 520 mil metros cúbicos. Na primeira etapa desse trabalho de desassoreamento, foram retirados 850 mil metros cúbicos de sedimentos da lagoa. O trabalho foi feito ao longo de um ano e concluído em outubro de 2014.

Já a retirada de lixo do espelho d’água, sob responsabilidade da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), é diária, conta com dois barcos e uma balsa e custa R$ 19 milhões por ano. Cerca de 30 servidores trabalham nesse aspecto da manutenção. O volume de sujeira recolhido no local é de cerca de 10 toneladas por dia durante o período de estiagem e de 20 toneladas diárias no período chuvoso. A secretaria acrescenta que o canal dos córregos Ressaca/Sarandi é limpo anualmente, a fim de minimizar o carreamento de sedimentos para a lagoa.

Os trabalhos de melhoria da qualidade da água da Lagoa da Pampulha a partir de produtos químicos duraram de abril de 2016 a março deste ano, com investimento de R$ 36 milhões. Depois de um ano de tratamento, os cinco parâmetros de poluição medidos pela administração municipal se encaixaram nos limites da classe 3, estabelecidos em resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A categoria possibilita o consumo da água por animais, irrigação, pesca amadora e o chamado contato secundário pelo ser humano em atividades como canoagem, remo ou passeios de barco.

Tecnologias distintas e complementares

Essas iniciativas contemplaram a aplicação de duas tecnologias distintas e complementares: uma destinada à degradação de matéria orgânica e à desinfecção (redução da presença de coliformes fecais), e a outra desenvolvida especificamente para reduzir as concentrações de fósforo e controlar a floração de algas. A intervenção prevê duas fases: a de alcance da classe 3 e outra de manutenção do patamar.

“A sociedade tem que entender que tem que pagar o condomínio para ter a Lagoa da Pampulha bem. Assim como nós precisamos pagar um condomínio para que o prédio em que a gente mora se mantenha íntegro e limpo, para que aconteça o mesmo com a lagoa há uma despesa permanente” – Ricardo Aroeira, diretor de gestão de Águas Urbanas da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, em declaração dada ao EM em maio, sobre a necessidade de gastos permanentes com a represa

Porém, a continuidade do processo, interrompido em março deste ano, ainda não tem data. Como mostrou o Estado de Minas em maio, a prefeitura já decidiu manter o sistema de tratamento da qualidade da água, considerado um sucesso pela administração. Mas ainda está definindo quais serão os critérios do novo contrato, e só depois disso será possível saber quanto o programa vai custar aos cofres públicos.

Secretaria Municipal de Obras

 

 

A Secretaria Municipal de Obras informa que ainda está sendo analisado internamente o processo de contratação de empresa para dar continuidade aos trabalhos.

“No entanto, é fundamental que se tenha a compreensão de que, mesmo com o enquadramento da água da Lagoa da Pampulha em classe 3, ela continuará sujeita a variações em sua qualidade, pois se trata de um lago urbano, que sempre será afetado por fontes poluidoras (poluição difusa em função da lavagem do solo pelas chuvas, eventuais vazamentos no sistema de esgotamento sanitário, lançamento de efluentes domésticos e/ou industriais clandestinos) que podem superar a sua capacidade de autodepuração”, ressalta a pasta.

A secretaria sustenta que o diferencial alcançado durante os serviços de recuperação é que a lagoa se tornou mais resiliente, “respondendo em curto prazo às agressões provocadas pelo aporte de poluentes que provocam alterações na qualidade de sua água, estando com a sua capacidade de autodepuração aumentada em função da ação dos remediadores aplicados durante o tratamento”.

Desconfiança

No feriado municipal de quarta-feira, a orla da Pampulha estava lotada de pessoas correndo, caminhando, pedalando ou simplesmente contemplando o espelho d’água. Famílias inteiras aproveitaram o dia livre para passear e praticar esporte. Mas crianças ou adultos tinham, invariavelmente, a atenção desviada para a mancha verde que tomava conta do ponto próximo à Igreja São Francisco de Assis. Os comentários comuns remetiam ao aspecto desolador e ao mau cheiro quase insuportável que pairava no ar.

A advogada Flávia Diniz, de 37 anos, moradora do Bairro Serrano, na Região da Pampulha, caminhava com a sogra, Maria Freitas, de 81. “Tenho a impressão de que o problema está aumentando, pois antes o mau cheiro se concentrava perto do Parque Ecológico. É uma pena, pois a lagoa estava muito bonita”, disse.
O casal Shirley Iara da Silva Veiga, de 50, e Jardel Moia Monteiro, de 34, estava revoltado com o que via. Ao passar pelo local, o gestor em segurança disparou, atônito: “É esse nosso cartão-postal – podre”. Para a enfermeira, o aspecto colocava em xeque os investimentos anunciados em despoluição. Os dois duvidam da classificação de nível 3 que já foi atribuída à lagoa.

“É uma vergonha isso”, disse Jardel. Para Shirley, a esperança acaba ficando nas mãos da própria natureza: “No período das águas, pelo menos, a chuva esconde e escoa essa sujeira”.

Fonte:Em.com.br.

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