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Indústria dos combustíveis fósseis arrasa litoral do Espírito Santo

Há décadas que o litoral do Espírito Santo vem sendo degradado pelos incontáveis projetos da indústria dos combustíveis fósseis – on e offshore – que eliminam a biodiversidade e impactam severamente o povo capixaba, especialmente pescadores, povos indígenas e comunidades tradicionais.

O Estaleiro Jurong Aracruz está localizado bem no centro dos problemas ambientais e sociais da região. Sem uma ampla consulta às populações impactadas, o estaleiro foi construído em Barra do Riacho no município de Aracruz sobre uma região que abriga o mais importante banco de corais do Atlântico Sul causando a extinção de espécies que só viviam ali. Após Jurong Aracruz foi decretado o extermínio de uma espécie de cavalo marinho (Hippocampus reidi) e da estrela-do-mar (Oreaster reticulatus), esta última integrante da lista vermelha dos animais em extinção.

Para pedir o fim deste legado de destruição que se repete em várias regiões do Brasil e praticamente todos os países, milhões de pessoas no mundo se mobilizam para dizer NÃO à indústria dos combustíveis fósseis. Entre 2 e 15 de maio acontecerá o movimento global ‘LIBERTE-SE DOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS’ (Break Free 2016) que pretende chamar a atenção para as mudanças climáticas causadas ao meio ambiente e às populações pela queima de carvão, gás e petróleo.

O movimento global LIBERTE-SE defende a permanência do hidrocarboneto no subsolo e prevê no mesmo período ações pacíficas em vários países pedindo o desinvestimento em fósseis como única alternativa para conter as mudanças climáticas. No Brasil, as ações estão sendo conduzidas pela 350.org Brasil em parceria com a COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil e pela Sustentabilidade – Fundação Cooperlivre Arayara, Rede Paraense Evangélica de Ação Social, Fórum Ceará no Clima, Cáritas Brasileira Regional Paraná e diversas entidades e organizações brasileiras. Para saber mais detalhes e como participar basta acessar http://liberte-se.org/ .

Vamos mudar essa história

Suja, perversa e injusta em sua essência, a indústria petrolífera e suas similares estão com os dias contados para dar lugar a um novo sistema de produção de energia 100% limpa, sustentável e com justiça climática. Para conter o aumento do aquecimento global, temos que deixar os fósseis no solo e partir para as renováveis como solar, eólica, hídrica e de biomassa.

Para a diretora da 350.org Brasil e América Latina, Nicole Figueiredo de Oliveira, o Jurong Aracruz é emblemático por representar o modus operandi da indústria do hidrocarboneto: Impositiva, injusta e predadora. “Somente com investimentos em energias renováveis vamos mudar essa história”.

O estaleiro é responsável por fornecer plataformas marítimas para que a Petrobras continue a explorar combustíveis fósseis. A mesma Petrobras que instala plataformas em alto mar que servem de abrigo aos cardumes de peixes e os deixam fora do alcance dos pescadores artesanais. Estes são proibidos de chegar a menos de 500 metros das chamadas de áreas de exclusão. Bem em frente ao estaleiro, passa o polêmico gasoduto da Transpetro, que também corta as áreas indígenas.

“O absurdo maior é que foi ele construído contrariando todos os pareceres técnico-ambientais, além de não cumprir as dezenas de condicionantes ambientais relevantes para evitar os impactos socioambientais, e mesmo assim obteve a Licença de Operação”, destaca o Eng Dr. Juliano Bueno de Araujo, fundador da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil e pela Sustentabilidade – e coordenador de Campanhas Climáticas da 350.org.

Lama da Samarco/BHP/Vale

Após décadas de violência do Estado e da indústria dos combustíveis fósseis, a população do Espírito Santo ainda tenta assimilar os impactos da lama da Samarco/BHP/Vale, que viajou de Mariana (MG) até chegar à foz do Rio Doce.

“Não bastasse tanta opressão da indústria petrolífera, o povo capixaba não se conforma com mais esta devastação de seu litoral e teme pelo futuro”, alerta Luiz Afonso Rosário, coordenador para povos e comunidades tradicionais da 350.org Brasil.

No caso da construção do estaleiro Jurong Aracruz, Luiz Afonso diz que “é impossível saber exatamente quantos sítios arqueológicos foram cimentados pelas estruturas do estaleiro, vizinho ao território indígena homologado dos Tupinikim, portanto, impactado diretamente e nem sequer fizeram o Estudo Indígena no licenciamento”, ressalta.

O coordenador para povos e comunidades tradicionais afirma ainda que a área onde foi construído Jurong Aracruz é território de pesca tradicional dos pescadores da região, contendo cascalho e lama no fundo, próprio para a pesca do camarão 7 barbas, entre outras inúmeras espécies comerciais. “No processo de dragagem, houve a remoção do fundo e turbidez, afugentando espécies de captura durante o período de 3 anos, sem qualquer tipo de compensação aos pescadores e indígenas”, lembra.

Por ser uma obra de grande porte, centenas de funcionários foram contratados, pressionando a região, principalmente nos finais de semana e feriados, resultando em invasões do território indígenas, pesca e caça clandestinas, aumentando a drogadição e incentivando à prostituição, bem como consumo de bebidas e aumento de pequenos crimes e delitos. “Quando a obra acabar teremos como legado uma verdadeira tragédia. Temos que parar agora”, alerta Luiz Afonso.

Fonte: 350.org Brasil e COESUS

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