Jean Paul Prates, ex-presidente da Petrobras, diz à coluna que o preço do quilo do H2V tem de cair dos atuais US$ 6 para US$ 2. E mais: apreensão na SRH, Cogerh, Sohidra e Funceme
Qual será o futuro dos projetos de produção do Hidrogênio Verde no Ceará, no Brasil e no resto do mundo? Esta pergunta surge na boleia do discurso do 47º presidente dos Estados Unidos (que foi também o 45º), Donald Trump, que disse e repetiu, na segunda-feira, 20, que seu governo focará na perfuração de poços de petróleo.
E como se estivesse dando adeus ao esforço mundial de livrar-se das energias fósseis o mais rápido possível, ele, imediatamente, assinou ato administrativo por meio do qual os EUA se retiraram do Acordo de Paris, um tratado internacional voltado para a redução das emissões de carbono a que aderiu o governo das grandes nações.
Ora, sem a intensa e efetiva participação dos EUA no projeto de transição energética (substituir o petróleo e seus derivados por fontes limpas e renováveis, como as energias solar fotovoltaica e eólica onshore e offshore, algo necessário para manter a vida no planeta), será mínima a chance de esse esforço alcançar sucesso.
O ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que esteve ontem em Fortaleza e conversou rapidamente com esta coluna, mantém o otimismo e assegura que o Brasil está fazendo e fará toda a sua parte nesse projeto global de defesa e preservação do meio ambiente.
Otimista em relação ao H2V, Prates diz que – para ser capaz de competir com o gás natural – o custo de produção de um quilo de Hidrogênio Verde “tem de cair mais de 50%, ou seja, o quilo do hidrogênio tem de alcançar um valor de venda de US$ 2”.
Ele acrescenta que, hoje, o custo de produção do H2V onde ele já é produzido “ainda é muito alto, por volta dos US$ 6 por quilo”.
Jean Paul Prates explica:
“O custo da energia, algo que temos com grande vantagem tanto offshore (dentro do mar), quanto onshore (em terra firme) é, na verdade, o custo dos eletrolisadores, e seu preço está caindo”.
Para os neófitos: eletrolisador é um dispositivo que permite produzir hidrogênio por meio de um processo químico (eletrólise) capaz de quebrar as moléculas da água em hidrogênio e oxigênio através da eletricidade, de acordo com o Google.
O discurso de Donald Trump levanta e aprofunda a suspeita de que, sob seu comando, os EUA dobrarão seus investimentos na exploração do petróleo onde ele estiver – no Golfo do México (ou da América?) ou na Groelândia, uma ilha gigantesca vizinha ao Polo Norte de propriedade da soberana, independente e democrática Dinamarca.
Se isto acontecer – e deve acontecer – o mundo será dividido em dois: o que trabalha para trocar, até 2050, as energias sujas por energias renováveis (e a China está incluída nesse time), e mundo que quer preservar o status quo, qual seja, o do aquecimento global, que é liderado pelos EUA do presidente Trump.
Não obstante essas dificuldades da nova geopolítica, mantêm-se otimistas o governo do Ceará, a Federação das Indústrias e grandes empresas nacionais e estrangeiras que celebraram Memorandos de Entendimento para construir unidades industriais de produção do Hidrogênio Verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém.
Até o primeiro semestre deste ano, a gigante australiana Fortescue deverá confirmar seu investimento de US$ 5 bilhões no Pecém para fabricar H2V. O mesmo deverá fazer a brasileira Casa dos Ventos, liderada pelo cearense Mário Araripe.
Esses bilionários investimentos, porém, só serão implementados quando 1) houver demanda para o Hidrogênio Verde e 2) se o cenário mundial em relação às mudanças climáticas estiver desanuviado, o que não acontece hoje, principalmente depois do que disse segunda-feira, 20, e segue dizendo Donald Trump.
A China poderia liderar o esforço pela transição energética? – é outra pergunta que surge. A resposta, porém, vem rodeada de dúvidas poque os chineses ainda são grandes poluidores. De acordo com o Google, em 2022 – o último ano com dados disponíveis – a China aparecia como a maior emissora de CO2, seguida pelos EUA, Índia, Rússia e Japão.
No entanto, entre os 10 maiores emissores de CO2 do mundo, os EUA são o país com os níveis mais altos de emissões por habitante.
APREENSÃO E INSEGURANÇA NA SECRETARIA DE RECUROS HÍDRICOS
Há um clima de nervosismo, apreensão e insegurança entre os servidores da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) e de suas vinculadas Cogerh, Sohidra e Funceme.
Esta coluna apurou que o novo titular da SRH, deputado estadual Fernando Santana, pediu a relação de todos os funcionários ocupantes de cargos comissionados e, também, dos terceirizados.
Uma fonte da SRH disse à coluna que Fernando Santana fará uma extensa troca de servidores da pasta e dos organismos a ela vinculados, substituindo os atuais comissionados e terceirizados por pessoas de sua confiança e da confiança dos partidos que compõem a base de apoio político ao governo do estado.
A SRH é a responsável por todas as políticas de recursos hídricos em execução no Ceará, incluindo os projetos de duplicação do Eixão das Águas, de construção do Cinturão das Águas e de cisternas emergenciais.
Fonte: Diário do Nordeste