Alemanha e Itália enviam menos da metade das comitivas da cúpula de 2024; representação da Indonésia diminui 37% Pequenos países insulares, ameaçados pelo aumento do nível do mar, têm equipe 21% menor
A delegação da China na COP30 é de 114 pessoas, queda de 40% em relação aos 190 membros na conferência climática de 2024, realizada em Baku, no Azerbaijão. Os 27 países da União Europeia cortaram ainda mais suas comitivas: somados, inscreveram 790 representantes, 46% a menos que os 1.456 na cúpula anterior. A Folha comparou a lista provisória de participantes do evento deste ano, divulgada pela ONU na última segunda-feira (10), com o documento publicado no início da COP29. Assim, foi possível identificar se houve diminuição ou aumento das inscrições de cada país para a edição no Brasil. O número consolidado deve mudar até o final da COP30, já que o total se refere apenas às pessoas credenciadas e pode diminuir com desistências. A comparação com a lista provisória do evento de 2024 reflete as estatísticas iniciais das duas conferências.
Delegações de 194 partes, como são chamadas as nações nas conferências do clima da ONU, inscreveram-se para a edição de Belém. Neste ano, os membros oficiais dos países somam 11,5 mil pessoas, 34,8% a menos que na COP29, quando eram 17,6 mil inscritos. O levantamento considera apenas as pessoas credenciadas que fazem parte das equipes dos governos. Ao todo, a COP30 registrou a inscrição de 56,1 mil pessoas, uma redução de mais de 10 mil participantes em comparação com o ano anterior, quando 66,7 mil estavam registrados na lista inicial.
As delegações oficiais dos países somam 20,5% do total de participantes em Belém. O restante se divide entre sociedade civil, imprensa e equipes da ONU, além de pessoas também nomeadas pelos governos, mas que não integram as comitivas de negociação, como empresários e pesquisadores.
“A presidência da COP30 não comenta comparativos com edições anteriores do evento, uma vez que cada conferência é organizada por um país-sede distinto e sob diferentes circunstâncias logísticas”, disse a organização à Folha.
A China, maior emissora dos gases que aquecem o planeta, já havia sinalizado em agosto que planejava enviar uma equipe reduzida à COP30, sem dar uma explicação para isso. A embaixada chinesa no Brasil não respondeu aos questionamentos da reportagem. Os países da União Europeia enviaram 666 representantes a menos na edição deste ano.
A Folha procurou a chefia da delegação no Brasil, mas não obteve retorno. Em termos absolutos, a maior quebra no bloco foi a da Alemanha, que reduziu sua delegação à metade, com 87 membros neste ano contra 177 em 2024. A Itália cortou a equipe em 54% e inscreveu 67 pessoas, ante 146 em Baku. A Bélgica havia mobilizado 56 pessoas para a COP29, mas registrou apenas 31 na COP30. Já a comitiva da Bulgária encolheu de 68 para 4, e a da Polônia passou de 49 para 14.
A Espanha tem 33 integrantes em Belém, número inferior aos 48 em Baku. A França, por sua vez, enviou 80 pessoas ao Pará, acima dos 63 no ano anterior. Portugal tem 76 representantes nesta edição, 12 a menos que na conferência no Azerbaijão. A delegação indicada pela própria União Europeia à COP30, e não pelos países do bloco, é de 65 pessoas, abaixo das 78 na COP29. Os Estados Unidos não enviaram representação oficial a Belém. No ano anterior, a comitiva americana somava 247 membros –o vazio deixado por essa lacuna equivale a menos da metade dos 666 europeus que deixaram de comparecer à COP30.
Apesar da ausência do governo de Donald Trump, os EUA têm uma espécie de delegação informal na conferência, com ex-funcionários da gestão Obama e governadores. A Indonésia cortou 37% de sua delegação: 236 pessoas representaram o país na COP29, e agora são 147. Os pequenos Estados insulares, grupo de 39 nações com risco de desaparecer devido ao aumento do nível do mar, diminuíram suas equipes em 21%.
Juntos, enviaram 957 participantes neste ano, contra 1.211 no evento anterior. Esses países foram contemplados com o aumento do subsídio da ONU para custear a estadia em Belém, na tentativa de contornar a crise gerada pelos altos preços de hospedagem na capital paraense. O valor diário por pessoa passou de US$ 144 (R$ 759) para US$ 197 (1.038) em setembro.
As nações menos desenvolvidas também receberam o ajuste no auxílio. A redução das comitivas desse conjunto foi de 4%: eram 4.815 na COP29, e agora são 4.538. O grupo dos negociadores africanos, composto por 54 países do continente, reduziu a equipe em 6%: a comitiva de 6.457 pessoas na edição de Baku passou para 6.088 em Belém.
A Etiópia, escolhida como sede da COP32 em 2027, também cortou sua delegação à metade. Foram 161 membros em 2024, e agora são 79. O Egito teve uma redução em proporção similar, com 118 pessoas em Baku contra 57 em Belém. A delegação do Azerbaijão na COP30 tem 135 integrantes, bem abaixo dos 995 do ano passado —redução explicada pelo fato de ter sediado a cúpula anterior. Até a última sexta-feira (7), 27 países ainda negociavam hospedagem em Belém para o evento, segundo as estimativas da Casa Civil, e 160 haviam confirmado reservas. O número não foi atualizado depois.
O preço das diárias de hotéis na capital paraense se tornou uma crise internacional, com nações pedindo para transferir o evento a outro local. O governo brasileiro criou em 18 de agosto uma força-tarefa para contatar individualmente os países e orientar a reserva de quartos, além de ter contratado dois navios de cruzeiro para hospedar parte das delegações.
Fonte: Folha
