Crise da água
O Brasil já apresenta sérios índices de crise hídrica, de norte a sul do país e que, de acordo com estudo da ANA, devem se agravar ainda mais
Apesar de ser mundialmente conhecido pela sua abundância hídrica, o Brasil corre sérios riscos de perder disponibilidade de água, conforme estudos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
Essa previsão se mostra cada vez mais próxima da realidade. As regiões norte e centro-oeste sofrem com meses de seca e estiagem. Os incêndios florestais se intensificam.
O território brasileiro tem passado por seca em todos os meses desde julho de 2014, quando teve início o acompanhamento do fenômeno pelo Programa Monitor de Secas, trabalho coordenado pela ANA.
E, como os recursos hídricos estão fortemente conectados com o desenvolvimento econômico, social e ambiental dos países, houve um aumento das necessidades por esses recursos, ao mesmo tempo em que a imprevisibilidade causada pelas mudanças climáticas, leva não somente à escassez desses recursos, como também a eventos climáticos extremos.
Regiões mais impactadas
De acordo com o estudo, as regiões hidrográficas do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste são as mais afetadas, com uma queda na disponibilidade hídrica.
Enquanto isso, a região Sul apresenta uma tendência oposta, com um possível aumento de até 5% na disponibilidade hídrica até 2040.
No entanto, essa melhoria vem acompanhada de maior imprevisibilidade climática, com aumento da frequência de cheias e inundações, desafiando a infraestrutura e a gestão de recursos hídricos da região.
Crise da água já é realidade
Essa previsão se mostra aproximada de uma realidade que já vivemos. As regiões norte e centro-oeste enfrentam meses de seca e estiagem, além de incêndios florestais intensos.
Segundo o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre junho de 2023 e junho de 2024, o bioma soma 9.014 ocorrências de focos de fogo, quase sete vezes mais que os 1.298 registrados pelo sistema no mesmo período do ano passado.
As principais causas dos incêndios são o desmatamento e o agronegócio.
Em maio, a ANA declarou situação crítica de escassez de recursos hídricos na Bacia do Paraguai.
“Pela primeira vez estamos com o Pantanal completamente seco no primeiro semestre”, declarou Rodrigo Agostinho, presidente do IBAMA.
Fogo recorde não é exclusividade do Pantanal
Ainda seguindo a linha de previsão do estudo da ANA, a seca extrema na Amazônia também já é uma realidade.
Nos primeiros seis meses de 2024, a Amazônia registrou 13.489 focos de incêndio. O pior semestre em 20 anos, com aumento de 61% em relação a 2023.
A Amazônia enfrenta uma das piores estiagens desde meados de 2023. Os incêndios florestais se intensificaram em diversos países amazônicos, como Brasil, Peru e Bolívia, sendo que este último chegou a pedir auxílio ao Brasil para combater seus incêndios.
O índice de seca na Bacia Amazônica é o pior em pelo menos duas décadas. Em julho, a ANA declarou situação crítica de escassez hídrica nos rios Madeira e Purus.
Ainda de acordo com dados coletados pela InfoAmazônia, nove em dez Territórios Indígenas da Amazônia estão sofrendo com a seca. Isso leva ao isolamento dessas populações e à dificuldade em conseguir alimentos e água.
Adaptação
Os dados mostram que é urgente criar planos de adaptação para o que está por vir e o que já está ocorrendo. Preparar as cidades e comunidades do país para enfrentar esses desafios é fundamental para garantir a nossa segurança e qualidade de vida.
Atualmente, o governo federal trabalha na construção do Plano Clima, que guiará a política climática do país até 2035.
“Nós transformamos a natureza em dinheiro e agora temos que transformar dinheiro em restauração e preservação da natureza se quisermos continuar vivendo”, disse Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
A ideia é que o Plano tenha uma construção colaborativa, com a participação do povo, por meio da ferramenta Brasil Participativo.
Fonte: ninja