Um estudo da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Ministério do Meio Ambiente mostra que organizações criminosas que contrabandeavam mercúrio para o Brasil migraram do Peru para a Bolívia para fugir da fiscalização peruana.
O metal é uma ameaça à saúde humana e ao meio ambiente, pois é usado frequentemente pelo garimpo ilegal de ouro na Amazônia.
O que aconteceu
A maior parte do mercúrio usado no Brasil é ilegal, e o país se tornou o principal destino do produto na América do Sul, mostra o relatório da agência obtido pelo UOL. As principais rotas que abastecem o mercado ilegal brasileiro hoje partem da Bolívia e da Guiana. Por ser um grande produtor de ouro, o Peru ocupava essa função de enviar mercúrio ilegal ao Brasil até 2015, quando os peruanos adotaram maiores controles e fiscalização sobre o metal.
Com objetivo de se evadir da fiscalização estabelecida no Peru, as organizações criminosas que lá atuavam realocaram suas operações para a Bolívia, mantendo, a partir desse país, sua estrutura de abastecimento de mercúrio para a região amazônica.
Relatório da Abin, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Ministério do Meio Ambiente
Da Bolívia, o mercúrio entra por Rondônia, Mato Grosso, Acre e Mato Grosso do Sul. O mercúrio que vem da Guiana entra por Roraima. O uso de mercúrio para garimpar ouro na Amazônia contamina principalmente populações ribeirinhas e indígenas na região, pois eles consomem peixe contaminado pelo metal, aponta a Abin.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) diz que a concentração de mais de duas ppm (partes por milhão) no organismo indica riscos à saúde e que, com mais de seis, há efeitos adversos. Os principais são danos neurológicos, como tremores, insônia, perda de memória, dores de cabeça, fraqueza muscular e até a morte.
61 estudos mostraram níveis de concentração mais de duas vezes maior que a necessária para haver efeitos adversos entre ribeirinhos e indígenas da Amazônia.
A população urbana da Amazônia também sofre com a contaminação. Um estudo de 2023 em mercados na Amazônia identificou que 21,3% dos peixes comercializados em regiões urbanas tinham contaminação por mercúrio em níveis acima dos limites seguros à saúde.
Considerando o alto potencial de contaminação pelo consumo elevado e regular de pescado, os riscos à saúde não se limitam a pequenas comunidades ribeirinhas e se estendem também a populações de pequenos e médios centros urbanos situados nas calhas dos rios onde ocorre extração de ouro e uso de mercúrio em grande quantidade. Relatório da Abin
A Abin propõe o cumprimento da Convenção de Minamata para mitigar a contaminação por mercúrio. Isso inclui observar os processos de fabricação e importação legal, com a manipulação correta do metal. “O gerenciamento adequado do mercúrio utilizado em processos industriais regulares reduz a disponibilidade da substância para eventual desvio direcionado a práticas ilícitas”, diz a agência.
Outras medidas envolvem a fiscalização, como uma rede de monitoramento de mercúrio em terras indígenas, e redes de laboratório para monitorar a saúde humana, inclusive nas cidades. A Abin diz defender o combate ao garimpo ilegal, com a retirada de garimpeiros de terras indígenas e áreas de conservação ambiental e a identificação de “assinatura geoquímica do ouro” —-medida que permite revelar qual a origem do metal extraído.
Fonte: Ecoa Uol