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Reúso da Água uma estratégia essencial frente à crise hídrica global

Reúso da Água: uma estratégia essencial frente à crise hídrica global

A água é essencial para a vida, mas sua disponibilidade tem se tornado cada vez mais limitada em diversas regiões do mundo.

O crescimento populacional, a intensificação das atividades econômicas e os impactos das mudanças climáticas têm colocado pressão sem precedentes sobre os sistemas hídricos globais. Esse cenário exige soluções inovadoras e sustentáveis para garantir o acesso à água de qualidade para as gerações atuais e futuras.

Crescente pressão sobre os recursos hídricos

A demanda global por água deverá aumentar entre 20% e 30% até 2050, impulsionada principalmente pela produção de alimentos e energia para sustentar o crescimento populacional e os padrões de vida. No século XX, o consumo de água doce para atividades humanas aumentou mais de sete vezes, refletindo um modelo de uso intensivo e, muitas vezes, pouco eficiente.

As mudanças climáticas agravam esse quadro. Eventos extremos, como ondas de calor e secas prolongadas, reduzem a disponibilidade de água e aumentam a concentração de poluentes. Isso dificulta o tratamento e a potabilização. Atualmente, mais de 40% da população mundial já enfrenta algum grau de escassez hídrica, e a previsão é de que, até 2050, mais 1 bilhão de pessoas vivam sob estresse hídrico extremo.

O Brasil em alerta

Embora seja reconhecido por sua abundância de recursos hídricos, o Brasil também sofre com a crise da água. A seca de 2024 foi a mais extensa da história, atingindo mais da metade do território nacional e afetando 12 grandes rios, especialmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Amazônia. Além disso, a disponibilidade per capita de água doce tem diminuído ao longo dos anos, reflexo direto do crescimento populacional e da pressão sobre as bacias hidrográficas.

Projeções da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) indicam que, até 2040, as principais bacias brasileiras poderão enfrentar uma redução de até 40% na disponibilidade de água. O impacto não se restringe ao abastecimento humano: setores estratégicos como energia e agricultura também correm riscos significativos.

Reúso da água: conceito e benefícios

Nesse contexto, o reúso da água surge como uma alternativa fundamental. Em outras palavras, trata-se do processo de recuperação de águas residuárias provenientes de banheiros, lavanderias, esgoto ou processos industriais. Após esse processo, o tratamento torna a água adequada e, consequentemente, a reaproveita em diferentes finalidades, como irrigação, processos industriais e, em alguns casos, até para consumo humano.

Entre os principais benefícios do reúso estão:

  • Redução da pressão sobre mananciais
  • Diminuição de custos para a indústria
  • Aproveitamento de nutrientes presentes no esgoto
  • Geração de energia a partir de águas residuárias
  • Maior resiliência diante da escassez hídrica

Estudos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) apontam que apenas 11% do esgoto tratado no mundo é reutilizado, revelando um enorme potencial a ser explorado. O mesmo organismo estima que o esgoto poderia fornecer eletricidade para meio bilhão de pessoas por ano. Além disso, poderia suprir até 13% da demanda global de fertilizantes agrícolas.

Exemplos de aplicação

O reúso já é realidade em diversas partes do mundo. Por exemplo, Israel reutiliza cerca de 90% do esgoto coletado, destinando-o majoritariamente à agricultura. No Brasil, destacam-se iniciativas como o Aquapolo Ambiental, no ABC Paulista, um dos maiores empreendimentos de produção de água de reúso industrial do mundo. Além disso, outro exemplo é o fornecimento de água de reúso pela Sanepar (PR) para indústrias em Araucária há mais de 20 anos.

No âmbito da agricultura familiar, experiências como a do Centro Sabiá, em Pernambuco, também mostram que o reúso de águas cinzas pode fortalecer a segurança alimentar. Essa prática contribui para a sustentabilidade em comunidades do Semiárido.

Barreiras e perspectivas

Apesar do potencial, o reúso ainda enfrenta desafios. Barreiras culturais, como o chamado fator eca, dificultam sua aceitação para consumo humano. Questões regulatórias e os custos de implantação também são obstáculos. Entretanto, avanços têm ocorrido: a Lei nº 14.546/2023 estimula o aproveitamento de águas cinzas e da chuva, enquanto o Projeto de Lei 1641/2019 propõe incluir o reúso entre os fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos.

Caminhos para o futuro

O reúso da água não deve ser visto apenas como uma alternativa emergencial, mas como uma estratégia estruturante para o futuro. Com tecnologias de tratamento cada vez mais acessíveis, políticas públicas adequadas e campanhas de conscientização, é possível transformar o reúso em prática amplamente difundida, reduzindo a pressão sobre os mananciais e fortalecendo a segurança hídrica.

Frente a um cenário de crise global, investir em reúso significa não apenas garantir o abastecimento de água, mas também promover sustentabilidade, economia circular e resiliência climática.

Fonte: elaborado por Portal Tratamento de Água com auxílio de IA.


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