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Pesquisadores querem alterar química do oceano para combater mudanças climáticas; saiba como funcionaria

Pesquisadores querem alterar química do oceano para combater mudanças climáticas; saiba como funcionaria

Experimento inédito no Golfo do Maine avalia se aumentar a alcalinidade da água pode ampliar a capacidade dos mares de absorver carbono e contribuir para conter o aquecimento global

No momento em que governos e empresas buscam alternativas para cumprir as metas do Acordo de Paris, um projeto científico nos Estados Unidos propõe uma abordagem ousada: modificar a química do oceano para capturar mais dióxido de carbono (CO₂), mostra o Inside Climate News.

Chamado LOC-NESS (Locking away Ocean Carbon in the Northeast Shelf and Slope), o estudo é liderado por Adam Subhas, do Woods Hole Oceanographic Institution, e investiga a técnica conhecida como aumento da alcalinidade oceânica (OAE). A ideia é simples na teoria: adicionar substâncias alcalinas à água do mar para neutralizar sua acidez, permitindo que ela absorva e armazene mais carbono na forma de bicarbonato, que pode permanecer estável por milhares de anos.

Como funciona o experimento

A equipe vai liberar cerca de 50 toneladas de hidróxido de sódio no Wilkinson Basin, a 64 km da costa de Massachusetts. A substância, usada para reduzir acidez em água potável, será dispersa ao longo de até 12 horas, acompanhada de um corante não tóxico que permitirá rastrear o deslocamento da pluma por satélite.

Por uma semana, drones e embarcações vão monitorar alterações na química da água, níveis de CO₂ dissolvido, presença de plâncton e clareza do mar. Ensaios em laboratório já mostraram que o hidróxido de sódio, em concentrações controladas, não causa danos significativos a espécies locais como copépodes, pequenos crustáceos que servem de base alimentar para várias cadeias marinhas.

Potencial e riscos

O OAE chama atenção porque pode, em teoria, remover gigatoneladas de CO₂ por ano, algo essencial para complementar a redução direta das emissões, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Hoje, empresas como a Ebb Carbon, na Califórnia, e a Vesta, em São Francisco, já exploram variações dessa técnica para gerar créditos de carbono no mercado voluntário.

Mas a abordagem levanta preocupações. Minerais usados em alguns métodos, como a olivina, contêm metais pesados que podem prejudicar ecossistemas. Além disso, introduzir alcalinidade rapidamente em áreas concentradas pode dificultar a adaptação da fauna marinha. Por isso, especialistas como Lisa Levin, da Universidade da Califórnia em San Diego, alertam para a necessidade de “proceder com extrema cautela” e realizar mais estudos antes de ampliar a escala.

O LOC-NESS é financiado por fontes governamentais e filantrópicas, como a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) e a Carbon to Sea Initiative. Diferentemente de projetos comerciais, não venderá créditos de carbono. O objetivo, segundo Subhas, é produzir ciência independente e transparente, que possa orientar futuras decisões sobre a viabilidade do OAE, evitando riscos ambientais e priorizando a segurança marinha.

O teste no Golfo do Maine é o primeiro experimento de OAE conduzido apenas por instituições acadêmicas em águas dos EUA e o primeiro a receber licença da Agência de Proteção Ambiental para este tipo de operação. Os resultados preliminares sobre a captura de carbono e os impactos ambientais devem sair no início de 2026.

Se bem-sucedido, o estudo poderá abrir caminho para novas formas de geoengenharia marinha como parte de um portfólio global de soluções climáticas. Mas o consenso entre os pesquisadores é claro: alterar o oceano não substitui a necessidade urgente de reduzir emissões, somente pode ajudar a ganhar tempo na corrida contra o aquecimento global.

Fonte: Um Só Planeta


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