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Esta árvore pode ajudar São Paulo a suportar o futuro climático

Comum na urbanização de cidades brasileiras desde a década de 1950, a Tipuana se mostrou resiliente em períodos críticos e pode ajudar a mitigar desafios climáticos nas cidades. Para pesquisadores, ela “não é a árvore do futuro, mas definitivamente deve fazer parte dele”

Divulgação – Jornal da USP / Foto: – Felagund/Wikimedia Commons – CC BY-SA 3.0

As cidades devem fazer adaptações com urgência para as mudanças climáticas em curso. Ambientes urbanos sofrem especialmente com os extremos de temperatura, com secas e ondas de calor devido à aglomeração populacional e ao declínio dos espaços verdes permeáveis. O reflorestamento urbano é uma das principais ferramentas das chamadas Soluções Baseadas na Natureza para atenuar estas condições, mas isso precisa de um bom planejamento. Uma das variáveis são as espécies escolhidas, que precisam ter resistência ao estresse fisiológico imposto em grandes centros.

Conhecendo a Tipuana tipu

A Tipuana tipu é uma árvore típica do norte da Argentina e sul da Bolívia, que chegou nas cidades brasileiras a partir da metade do século 20 e analisada por um grupo de pesquisa do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP. A espécie demonstrou alta tolerância ao estresse e pode ser bem-sucedida em promover a resiliência na cidade de São Paulo diante do aquecimento global. No estudo, foram observados os anéis de crescimento da árvore, que mostram cada ano de sua vida. No período de 2013 e 2014, marcado por uma seca extrema e até mesmo racionamento de recursos hídricos, o esperado seria um atraso no crescimento, mas a espécie mostrou um aumento na taxa.

“Queremos compreender como podemos usar a arborização da melhor forma possível para adaptar a cidade às mudanças climáticas. Como a gente pode construir florestas urbanas que sejam resilientes”, explica o biólogo Giuliano Locosselli, do Cena e primeiro autor do trabalho.

A espécie está entre as três mais comuns na cidade e região metropolitana. A equipe analisou unidades do polo petroquímico Capuava, em Santo André e Mauá, e em São Paulo, do Parque Santa Amélia. Em ambos, comprovou-se o crescimento pela maior taxa de fotossíntese, processo de produção de energia necessária para a sobrevivência das plantas, resultando na maior concentração de carbono, um dos benefícios que ela proporciona.

A análise foi feita de forma não destrutiva, evitando que alguma árvore tivesse que ser derrubada. Por meio de um trado de incremento, um tipo de sonda, foram retiradas amostras de 5 mm do tecido.

“Sabe quando estamos doentes e temos que fazer uma biópsia, tirar um pedacinho do tecido para analisar? Foi isso que fizemos com a planta”, explica Giuliano. Além do impacto da seca, também foi possível analisar o comportamento interno da espécie, incluindo os isótopos estáveis de carbono, usados para acessar a contribuição relativa de plantas que realizam a fotossíntese.

“O trabalho que o Giuliano desenvolveu trouxe coisas incríveis”, ressalta o professor Marcos Buckeridge do Instituto de Biociências (IB) da USP e orientador do estudo. Foi possível constatar mudanças históricas, como na composição da poluição do ar após a proibição de adição de chumbo na gasolina, em 1989. Ainda mais específico, também constatou-se as diferenças que a mudança da direção dos ventos, ocorrida em 2006, causou na Tipuana.

“Todas as variações nos anéis de crescimento de árvores são fundamentais para a gente entender o passado, e aprender com as lições para olhar para o futuro”, completa o professor.

Em espaços tombados, como o Parque da Independência, há Tipuanas que florescem em verde e amarelo/ Divulgação – Jornal da USP – Foto: Webysther/Wikimedia Commons – CC BY-SA 4.0

A inserção da Tipuana na urbanização

Atualmente, a espécie não está autorizada amplamente para arborização. Porém, a legislação, que antes proibia o plantio de espécies estrangeiras, aumentou as possibilidades. Assim permitiu-se sua presença em espaços tombados, enquanto no restante do espaço público ainda se dá prioridade para as nativas. Um desses locais, o Parque da Independência, contém Tipuanas que florescem em verde e amarelo. Definiu-se essa restrição por causa da altura que essa espécie pode chegar e danificar a rede elétrica.

Em parceria com o Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, desenvolveu-se um software que determina até que altura a árvore vai crescer. Em paralelo, com a Escola Politécnica (Poli) da USP, uma metodologia que baseia-se no centro de gravidade de cada unidade, permitindo um maior controle. Mesmo assim, o recomendado é que o crescimento da espécie aconteça em espaços grandes para não afetar nenhuma estrutura ou causar riscos para a vida das pessoas caso caiam.

“Essa abertura na lei foi muito comemorada, assim nós conseguimos estudar melhor e dar o devido valor pelo histórico de serviços prestados por ela”, completa o professor.

Ainda que venha de fora, outra vantagem da Tipuana é não ser invasora para a vegetação nativa, mas também adepta ao clima.

“Isso é muito importante quando se pensa em implementar uma espécie numa cidade, ver se ela não pode ser predatória para outras”, ressalta Giuliano.

Benefícios expressivos

Além disso, os benefícios que ela traz para a cidade são expressivos; sua longa trajetória dentro do município, o benefício estético da urbanização por aumentar a área verde, a quantidade de água produzida por evapotranspiração, e, principalmente, a redução da temperatura que ela causa na superfície, imprescindível para os próximos anos de aumentos da temperatura terrestre.

A Tipuana não é a árvore do futuro, mas definitivamente deve fazer parte dele.

“Não é possível apostarmos todas as nossas fichas nela, mas, sabendo dos benefícios que ela traz, o mínimo que podemos fazer é continuar plantando”, afirma Giuliano.

Ela já faz parte da paisagem de São Paulo, e que bom que alguém no passado tomou essa decisão, mas não deve ser a única. O aumento da biodiversidade é o caminho para um futuro minimamente confortável para a permanência humana.

“Eu concordo, acho que mais espécies são o caminho, mas não muitas porque não haverá força-tarefa científica para cuidar”, alerta Buckeridge.

Fonte: Jornal da USP


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