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ALADYR apoia Projeto de Dessalinização do Ceará

As obras estão previstas para começar em setembro

Diante do iminente início da construção da planta dessalinizadora do Ceará, a Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água, ALADYR, considera que este projeto será um marco inicial da expansão da dessalinização potável no Brasil.

Em um passo decisivo rumo à segurança hídrica e à sustentabilidade, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) avança com o projeto da planta dessalinizadora de Fortaleza. Essa iniciativa conta com o constante apoio da Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (ALADYR), considerada por esta como um marco fundamental para a região.

Eduardo Pedroza, diretor da ALADYR no Brasil, tem expressado o firme apoio da associação ao projeto. “Este projeto”, afirma Pedroza, “é de suma importância para a sustentabilidade hídrica para Fortaleza, o Ceará, e inspirador para o país”. Com uma visão de futuro, o diretor da ALADYR antecipou que a planta de Fortaleza “abrirá caminho para que outros projetos de dessalinização sejam desenvolvidos em grandes cidades do litoral brasileiro e dará início a uma nova era na gestão da água com maior diversificação da matriz hídrica “.

Consciente da magnitude do desafio, Pedroza acrescentou que a ALADYR se mantém à disposição dos responsáveis pelo projeto com toda a sua expertise e experiência. Isso reforça o compromisso da associação de acompanhar de perto cada avanço, dada a relevância que a obra representa para o país.

Dessalinização de Vanguarda em Fortaleza

A necessidade urgente de diversificar as fontes de abastecimento de água no Brasil, em especial em estados como o Ceará, é uma realidade inegável. Embora a Cagece atenda a mais de 5,5 milhões de pessoas em 152 municípios cearenses, a vulnerabilidade diante da escassez hídrica tem se evidenciado nos últimos anos. Em novembro de 2017, por exemplo, o volume de água armazenada nos reservatórios do estado caiu a preocupantes 8,6%, reflexo da severidade das secas prolongadas e da crescente pressão sobre os recursos hídricos convencionais. Embora tenha havido uma recuperação notável, atingindo 45,8% em novembro de 2024, essa situação é cíclica e a dependência de açudes e bacias hidrográficas continua sendo um risco constante. A falta de chuvas adequadas pode esgotar rapidamente as reservas e impactar diretamente o fornecimento para consumo humano, agricultura e indústria.

Dessa forma, a dessalinização da água do mar surge como uma solução robusta, de fonte praticamente inesgotável, que alivia a pressão sobre mananciais e oferece uma fonte complementar essencial para o consumo humano. Essa tecnologia permite que cidades costeiras assegurem um fornecimento contínuo e previsível, independentemente das variações nas chuvas ou da disponibilidade de água doce continental.

“A dessalinização é uma prática consolidada mundialmente para atender populações em áreas com déficit hídrico, e sua implementação em Fortaleza representa um passo importante para garantir a resiliência hídrica de longo prazo da capital do Ceará e de sua Região Metropolitana”, acrescentou a ALADYR.

Dessalinização de vanguarda

O projeto de Fortaleza foi estruturado sob o modelo de Parceria Público-Privada (PPP), desenhado para garantir uma implementação eficiente e uma operação contínua de alta qualidade. Esse modelo possibilita a mobilização de capital privado, a transferência de tecnologia e de conhecimento especializado, além de acelerar a execução de infraestruturas que, de outra forma, poderia levar muito mais tempo para se desenvolver sob modelos de financiamento puramente públicos.

Está previsto que a planta produza um fluxo de um metro cúbico por segundo de água potável, uma contribuição vital para a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), que abriga 3,9 milhões de habitantes. As análises de viabilidade foram minuciosas e contemplaram todos os aspectos essenciais para o sucesso do projeto.

Do ponto de vista social e hídrico, a planta beneficiará diretamente cerca de 720 mil moradores da RMF. Do ponto de vista econômico, o valor projetado para fornecimento da água dessalinizada, estimado em R$ 2,17/m³ em novembro de 2024, tem se aproximado dos custos atuais de outras estações de tratamento da RMF. É importante ressaltar que o custo total de entrega de água potável às residências em Fortaleza, a partir de fontes convencionais, inclui a produção, o bombeamento e, em alguns casos, o custo adicional de utilização de infraestrutura como o Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), que pode adicionar R$ 0,63/ m³ aos custos atuais, que variam de R$ 0,69/m³ a R$ 1,10/ m³ para produção e entrega.

Eficiência Energética

Apesar do consumo específico de energia de 3 kWh/m³, incluindo-se todo o processo de dessalinização e entrega da água produzida, a planta de Fortaleza pode reduzir esse impacto no sistema elétrico. Isso será possível pela redução do bombeamento e tratamento de volumes correspondentes de água bruta de fontes distantes, o que por si só representa uma economia estimada de 2,01 kWh/m³.

Além disso, ao permitir redução de retirada de água do PISF que seria destinada à Fortaleza, o correspondente volume tem potencial de geração de energia pelas Usinas Hidrelétricas à jusante de 1,24 kWh/m³, resultando em um benefício líquido de 0,25 kWh/m³. Se fosse acrescentado o uso de energia fotovoltaica ou eólica para alimentar a planta, seu balanço energético se tornaria ainda mais favorável, contribuindo potencialmente com 3,25 kWh/m3 adicionais ao sistema nacional, quando se compara com a solução convencional vigente.

Segundo os diretores da Cagece, a viabilidade ambiental também foi um pilar fundamental no desenho do projeto. A preocupação com o impacto do descarte de salmoura, subproduto concentrado do processo de dessalinização, tem levado à realização de estudos detalhados, incluindo modelos hidrodinâmicos avançados. Esses estudos têm permitido projetar sistemas de disposição que asseguram que a descarga no oceano seja mínima e não provoque impactos adversos significativos no ecossistema marinho. A implementação de tecnologias de difusão e a escolha estratégica dos pontos de descarga garantirão uma diluição rápida e eficaz da salmoura.

Adicionalmente, o projeto está inserido em iniciativas mais amplas como o “SmartBrine”, um esforço colaborativo que explora vias para a valorização da salmoura. Este programa busca transformar esse subproduto em recursos úteis, como produtos químicos, minerais ou até mesmo energia.

Horizonte de sucessos

Quanto aos prazos, apesar da necessidade de alterar a localização original da planta, os serviços preparatórios para o início das obras terão início logo que todos os trâmites legais por parte de órgãos de controle, externos à CAGECE, sejam concluídos. A expectativa é que a obra seja iniciada em setembro de 2025. Esse ajuste, embora tenha implicado uma reprogramação no cronograma, faz parte de um processo de otimização para garantir a melhor localização e as condições operacionais mais eficientes.

O contrato de concessão no âmbito da PPP tem duração de 30 anos. O investimento estimado em custos de implantação (CAPEX) é de R$ 500 milhões, enquanto o valor total do contrato supera R$ 3,1 bilhões, englobando investimentos iniciais, custos financeiros, de licenciamento e de operação durante toda a vigência da concessão.

Este projeto é uma resposta direta e efetiva à crise hídrica do Ceará, também um exemplo de resiliência e desenvolvimento sustentável aplicável a outras regiões costeiras do Brasil. Ao demonstrar a viabilidade técnica, econômica e ambiental da dessalinização em larga escala, a planta de Fortaleza estabelecerá um precedente nacional de grande valor. Servirá como modelo e fonte de aprendizado para futuras iniciativas em outras cidades costeiras brasileiras que enfrentam desafios semelhantes.

Fonte: Aladyr


Mais sobre este autor:

Fundada em 30 de novembro de 2010, no âmbito do II Seminário Internacional de Dessalinização na cidade de Antofagasta, Chile. A AADYR é uma associação sem fins lucrativos que promove conhecimentos oportunos e experiências em torno de tecnologias de dessalinização, reuso de água e tratamento de efluentes, a fim de otimizar a gestão hídrica na América Latina e garantir o acesso à água potável dentro de padrões de qualidade, eficiência, sustentabilidade, desenvolvimento econômico e futuro social.

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