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Como está o tratamento de efluentes um ano depois de episódio da água alterada em Porto Alegre

A busca por respostas definitivas sobre os motivos foi abandonada pelas autoridades, mas entende-se que houve ganho para o ambiente.

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Atividades da Cettraliq estão suspensas desde agosto de 2016, quando empresa foi apontada como responsável por problemas na águaFoto: Omar Freitas / Agencia RBS

Pouco mais de um ano depois do fim de um período em que a água de Porto Alegre saía da torneira com gosto e cheiro ruins, a busca por respostas definitivas sobre os motivos foi abandonada pelas autoridades, convencidas de que a empresa Cettraliq, fechada em agosto de 2016, foi a responsável pelo problema. Mesmo que a Justiça ainda não tenha decidido se a companhia terá de dar reparação financeira ao município, o episódio serviu como alerta ambiental. Depois dele, foram elaboradas regras mais rígidas para o licenciamento de empresas que tratam efluentes industriais.

— Foi um período muito ruim para a fiscalização e para a companhia também. Mas, para o Estado, houve uma melhoria. Apesar de todo o desgaste, o final é ambientalmente positivo — avalia a engenheira química Fabiani Vitt, chefe da Divisão de Controle da Poluição Industrial da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).

Em agosto do ano passado, os porto-alegrenses já conviviam havia três meses com sabor e odor de mofo na água tratada quando o problema terminou — dias depois de a Fepam suspender as atividades da Cettraliq. O episódio levantou questionamentos sobre o licenciamento e a fiscalização do  serviço de tratamento de efluentes.

Diretriz Técnica – FEPAM

Uma diretriz técnica emitida pela Fepam em fevereiro deste ano restabeleceu as normas para o licenciamento desse tipo de atividade no Estado. Pelo menos três pontos sofreram alterações significativas. A partir da publicação do documento, centrais estão proibidas de realizar lançamentos em redes compartilhadas, tendo de construir tubulações específicas para despejar o resultado do tratamento. O órgão ambiental também passou a exigir a implantação de laboratórios para controle operacional nesse tipo de empreendimento _ para realizar a análise de efluentes e de processos —, além de vetar a colocação de leitos de secagem de lodo, que costumam causar odores em níveis elevados.

Segundo a Fepam, as centrais que já operavam antes da diretriz foram orientadas a realizar as adaptações e receberam prazo para readequação. Apontada como uma das principais razões para que o órgão estadual tenha permitido o funcionamento da Cettraliq por mais de uma década, mesmo diante de denúncias recorrentes sobre emissões proibidas, a escassez de empresas aptas a realizar o tratamento de efluentes também parece ter ficado no passado.

Atualmente, seis centrais realizam esse trabalho para outras companhias — há também as que tratam efluentes apenas de uma indústria ou de um conjunto específico de empresas.

— As novas absorveram a demanda. Até porque não aumentou o número de denúncias relativas a esse tipo de descarte — diz Fabiani.

Saneamento não sofreu alterações 

Apesar do período traumático, a alteração temporária do sabor e do cheiro da água não teve reflexos no saneamento em Porto Alegre. O problema é considerado “pontual” pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), que, à época, realizou diversas de análises para tentar identificar a substância que causou odor e gosto ruins na água tratada. Sem sucesso. A busca de respostas foi abandonada, e o órgão agora briga na Justiça contra a Cettraliq pela reparação dos gastos no período.

— (A alteração na água) foi um evento pontual, atípico. Por isso, é bem difícil de a gente prever. Existe o monitoramento através dos órgãos ambientais, mas também tem de haver fiscalização. E acredito que haja — disse a diretora-geral do Dmae, Luciane de Freitas.

No entendimento do Dmae, o tratamento realizado atualmente é suficiente para seguir atendendo às normas federais, e as ações do departamento diante de imprevistos são consideradas satisfatórias — durante os meses de odor e gosto ruim, o órgão modificou o tratamento, adicionando carvão ativado à água para tentar amenizar o impacto sensorial.

Conheça as principais centrais que tratam efluentes no Estado 

Nova Época Resíduos e Efluentes

Cidade: Portão
Licença: renovada em maio de 2017. Válida até outubro de 2020
Pode tratar: 280 m³ / dia
Tipos de efluentes: provenientes de valas de aterros, fossas sépticas, indústria coureiro-calçadista, alimentícia, químicas e de plásticos e borrachas, metal mecânicas e galvanoplastias, fumageiras e laboratórios de controle de qualidade

Hydroquímica Tratamento e Análises Químicas

Cidade: Guaporé
Licença: renovada em outubro de 2016. Válida até outubro de 2020
Pode tratar: 80 m³ / dia
Tipos de efluentes: efluentes de indústrias da galvanoplastia e metal mecânicos (50 m³), soluções oleosas e aquosas (3,6 m³), efluentes de tingimento e serigrafia, detergentes, cabines de pintura e corantes (26,4 m³)

Flucor Service

Cidade: Caxias do Sul
Licença: renovada em janeiro de 2017. Válida até fevereiro de 2020
Pode tratar: 54,48m³/dia. Após a ampliação, autorizada em janeiro, poderá tratar 200m³/dia.
Tipos de efluentes: a ampliação prevê um aumento da capacidade produtiva mensal de 1.635 m³ (atual) para 6 mil m³ mensais. Destes, 2 mil m³ são efluentes galvânicos e o restante de tipologias diversas. Não está autorizada a receber resíduos líquidos com baixo ponto de fulgor (abaixo de 93° C), tais como solventes, líquidos inflamáveis e líquidos combustíveis, nem resíduos agroquímicos, óleos lubrificantes, efluentes contendo metais pesados e efluentes contendo compostos orgânicos voláteis (VOC’s) com concentração superior à 5%.

NWasem

Cidade: Estrela
Licença: renovada em novembro de 2013. Venceu em setembro de 2016 e foi prorrogada. Está em processo de renovação.
Pode tratar: 3,5 mil m³ / mês
Tipos de efluentes: 1,5 mil m³ / mês de fossas e sumidouros e 2 mil m³/ mês de efluentes industrias

Fundacorp 

Cidade: Garibaldi
Licença: de setembro de 2008. Venceu em setembro de 2012, foi prorrogada e está em processo de renovação.
Pode tratar: 3,5 mil m³ / mês de alguns tipos e 58 m³ / dia de outros
Tipos de efluentes: 1,5 mil m³ / mês de fossas e sumidouros e 2 mil m³ / mês de efluentes industrias 50 m³ / dia de efluentes líquidos domésticos de fossas sépticas e 8 m³ / dia de efluentes líquidos industriais (de cabines de pintura)

Tratho Efluentes 

Cidade: Canoas
Licença: de julho de 2016. Válida até julho de 2020.
Pode tratar: 500 m³ / dia (máximo 11 mil m³ / mês)
Tipos de efluentes: efluentes sanitários gerados em restaurantes e refeitórios (200 m³ / dia), efluentes industriais, efluentes de laboratórios físico-químicos, chorume de aterros industriais e sanitários (200 m³ / dia), efluentes gerados em oficinas mecânicas e lavagens de veículos automotivos (100 m³ / dia)

Por: Bruna Vargas
Fonte: ZH Porto Alegre

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