Frequentemente definido como “rio morto” ou “cloaca”, o Yamuna é, há décadas, um dos rios mais poluídos da Índia, com águas imundas, apesar dos enormes gastos do governo em projetos de limpeza.
Considerado sagrado para os hindus, o Yamuna adquire um tom escuro e com grandes manchas brancas de espuma tóxica arrastadas pela correnteza por causa do esgoto sem tratamento, rejeitos industriais e agrícolas que nele são jogados. Apesar da situação em que se encontra, há quem se banhe diariamente em suas águas ou faça algum tipo de ritual em algum ponto dos seus 1.376 quilômetros, que banham a capital indiana e o mausoléu do Taj Mahal.
Milhares de indianos vindos das zonas rurais do noroeste do país utilizam o rio quando chega o mês de novembro para mergulhar e praticar antigas tradições religiosas, como o “Chhath”.
“O rio está extremamente poluído, mas acho que as pessoas que vieram para o festival não pensam muito nisso, porque muita gente não tem estudo”, conta à Agência Efe Prashant Prashad, de 34 anos, um dos poucos participantes que se mantiveram longe da água.
De acordo com o ativista ambiental Manoj Misra, a poluição do Yamuna começou a aumentar de forma alarmante nos anos 70, com a maior atividade industrial e o intenso uso de pesticidas. A situação terminou de piorar quando 99% do fluxo foi desviado para dois canais dedicados à irrigação, em 2002, após a construção de uma barragem 200 quilômetros ao norte de Delhi.
“Desde então está morto e incapaz de abrigar qualquer tipo de vida”, explica Misra.
Mas não são só ecologistas que consideram que a situação do rio alcançou níveis assustadores. O Tribunal Nacional Verde (NGT), um órgão judicial especializado em casos ambientais, esclareceu em uma sentença de 2015 que “no estado atual o Yamuna é apenas uma cloaca”, apesar de décadas de esforços inúteis para melhorar a qualidade das águas.
Planos de reabilitação
A Índia iniciou nos anos 90 três planos de reabilitação que custaram mais de 30 bilhões de rúpias (R$ 1,5 bilhão). As duas primeiras fases do Plano de Ação do Yamuna foram lançadas em 1993 e 2001, com orçamento de quase 15 bilhões de rúpias (R$ 757 milhões), e a terceira teve início em 2013, com 16 bilhões de rúpias (R$ 807 milhões), de acordo com o ministro de Recursos Hídricos, Vijay Goel, numa resposta enviada ao Parlamento em julho.
A construção de usinas de tratamento de águas e esgoto era uma parte significativa destes projetos, mas em alguns casos elas não foram suficientes e em outros nem sequer chegaram a sair do papel. Esse é o caso de 17 centros de tratamento de água previstos no último plano, mas que ainda não começaram a ser construídos, reconheceu o NGT em outubro ao Delhi Jal Board, o órgão público encarregado da gestão das águas residuais na capital.
O problema é que apenas 46% da cidade tem tratamento de água e esgoto e as usinas que recebem as descargas funcionam com 40% da capacidade, segundo denunciou à Agência Efe Alok Sikka, pesquisador do departamento dedicado à Índia do Instituto Internacional para a Gestão da Água (IWMI). Como se não bastasse, 54% do restante acaba em poços espalhados por toda a cidade até serem retirados por caminhões e despejados diretamente no Yamuna, conforme explicou Krishna Rao, outro membro desta organização de pesquisa científica.
Para Rao, a poluição do rio está diretamente ligada à campanha Swachh Bharat (ou Índia Limpa) lançada pelo governo em 2014 e que pretende colocar “um vaso sanitário em cada casa”. O problema, segundo ele, é que “ninguém está pensando o que acontece com as águas sujas”.
Por: David Asta Alares.