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Pesquisa desbrava Bacia do Guariroba/MS e apresenta suporte a gerenciamento

No Brasil, o gerenciamento de bacias hidrográficas restringe-se, historicamente, a água superficial e a vegetação, com planos de manejo desprovidos de estudo sobre água subterrânea.

bacia-guariroba

O “Estudo hidrológico, sedimentológico e hidroquímico de águas superficial e subterrânea como suporte ao gerenciamento de bacia hidrográfica (Águas MS)”, realizado por pesquisadores da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (Faeng) mostrou a relevância da interação entre a universidade e a sociedade, no caso a Prefeitura Municipal de Campo Grande e os proprietários da referida bacia. Neste projeto, o Laboratório de Águas Subterrâneas e áreas Contaminadas (Lasac) estudou a relação entre as águas superficiais e as águas subterrâneas da bacia, indicando como é inadequado e incompleto o gerenciamento das bacias hidrográficas baseado somente em seus recursos superficiais.

“Essa é uma realidade da maioria das bacias brasileiras. Em Campo Grande, o Plano de Manejo também não prevê informações sobre água subterrânea. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente reconheceu, em apresentação dos resultados do projeto no Conselho Municipal de Meio Ambiente, que futuras atualizações do plano devem conter esses estudos. A grande maioria das bacias brasileiras tem a descarga da água subterrânea na superficial. Então, a importância em se reconhecer e se considerar isso é muito grande”, explica a professora Sandra Gabas que coordena as pesquisas sobre águas no Lasac com o professor Giancarlo Lastoria.

A pesquisa, recém apresentada no XX Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, é parte de um projeto maior proposto por professores da Faeng em edital do CNPq em 2013, coordenado pelo professor Teodorico Alves Sobrinho e que inclui outras vertentes como a erosão na Bacia do Guariroba.

“Nós propusemos estudar a relação entre a água superficial e a água subterrânea, considerando o contexto de gerenciamento integrado de recursos hídricos em bacias hidrográficas”, diz a professora.

Qualidade da água

Os pesquisadores realizaram estudo hidrogeológico da água subterrânea e da qualidade de água, tanta subterrânea como superficial, entre 2014 e 2017. As pesquisas tiveram também a participação de um doutorando, quatro mestrandos e acadêmicos participantes na Iniciação Científica.

Os levantamentos são exclusivos para a Bacia do Guariroba, que está a 30Km do centro de Campo Grande, englobando aproximadamente 360Km² de extensão, com variação de altitude de 450 metros, próximo ao lago, até 650 metros.

Foi verificada a condutividade hidráulica, para verificar quão rápido a água infiltra no material. Por 24 meses, os pesquisadores acompanharam 14 poços tubulares de abastecimento de propriedades no local e seis pontos de água superficial (córregos), além de duas nascentes (minas d’água).

Também foi feito o levantamento geofísico, como método de investigação do subsolo. “Instalamos alguns equipamentos na superfície, em arranjos pré-determinados e também sensores. Fizemos a aplicação de uma corrente elétrica no solo, em determinados pontos, e o acompanhamento, por meio de sensores, de sua transmissão, indicando a resistividade elétrica das camadas em subsuperfície, o que nos indica como é organizado o substrato rochoso e o armazenamento da água nos poros das rochas”.

Mapa potenciométrico apresentou como a água subterrânea se distribui e se movimenta na rocha. “Existem diferenças de comportamento da rocha em relação a corrente elétrica aplicada. Com a presença da água há maior condução de corrente elétrica. Constatamos grande variabilidade da resistividade elétrica no pacote rochoso, formado por arenito e basalto”. A geofísica apontou profundidade da espessura de arenito variando entre 5 a 62 metros.

Aquífero Bauru

De maneira geral, a bacia do Guariroba apresenta bastante água, sendo responsável por aproximadamente 40% do abastecimento público de Campo Grande, que também recebe água do Lajeado e de água subterrânea de poços espalhadas pela cidade.

“Queríamos identificar a relação da água superficial e da água subterrânea na área de proteção ambiental do Guariroba, definir o quanto a água subterrânea é responsável pela manutenção da vazão mínima dos rios”, diz a pesquisadora.

Eles acreditavam que deveria haver descarga do aquífero Bauru (formado pelo pacote de arenitos) para manutenção do nível de base das drenagens, mas precisavam provar, o que foi feito em tese de Doutorado. Por dois anos foram medidos a variação do nível do aquífero e a vazão das drenagens. Menores vazões estão relacionadas a descarga da água subterrânea.

A variação do nível d´água dos poços mais profundos apresenta pouca interferência da chuva. No entanto, os poços mais rasos apresentam grande influência sazonal do aquífero livre (lençol freático), o qual garante as vazões mínimas durante a estação seca.

No Plano Estadual de Recursos Hídricos, a avaliação é de que a infiltração ou a recarga do aquífero Bauru fosse em torno de 10%. Mas a pesquisa apontou que a recarga é de 33%. “Isso significa que o aquífero tem mais água do que se imaginava”, afirma a professora.

O aquífero tem espessura de 50 a 100 metros de profundidade nas proximidades de Campo Grande e na calha do rio Paraná chega a 300/400 metros de espessura, sendo considerado o maior aquífero do Estado em termos de utilização, abastecendo um grande número de cidades.

Análise da água

Está mais exposto que o Aquífero Guarani, porque é livre, ou seja, não há nenhum pacote de rocha acima dele, de forma que todas as atividades na sua superfície infiltram diretamente no aquífero, com velocidade dependendo da mobilidade do poluente no meio. Os elementos ou substâncias mais móveis, como os solúveis em água, são mais rápidos para infiltrar e se dispersar no aquífero.

Com relação ao aquífero Bauru, os pesquisadores realizaram estudo da vulnerabilidade natural à contaminação do aquífero na bacia, a qual é definida por algumas características intrínsecas do aquífero. “A atividade humana em cima dessa área representa, conjuntamente com a vulnerabilidade natural o perigo a contaminação do aquífero. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de uma aluna de Engenharia Ambiental indicou então que temos alto perigo de contaminação do aquífero por poluentes como o nitrato, agroquímicos, como glifosato, entre outros”.

Um dos problemas encontrados pelos pesquisadores – e que não é exclusivo da Bacia do Guariroba, é a existência de fossa, ou de galinheiros e chiqueiros próximos aos poços. Nos casos em que os poços eram rasos, foi detectada a contaminação por nitrato.

“Não esperávamos encontrar essa realidade porque são propriedades de alto poder aquisitivo. Felizmente, não acontece na maioria, mas existem”, diz Sandra.

De maneira geral, a água da bacia é de boa qualidade. Foram feitas coletas e análises químicas de água superficial e subterrânea tanto em estação chuvosa quanto em estação seca. As análises efetuadas priorizaram os parâmetros para a classificação hidroquímica das águas da bacia. As águas subterrâneas são preponderantemente bicarbonatadas cálcicas e as águas superficiais, bicarbonatadas mistas (cálcio-sódicas). Ambas as águas apresentam qualidade para serem utilizadas em projetos de irrigação, dessedentação animal e recreação. Em relação ao seu uso para consumo humano, não houve recursos no projeto para a determinação de todos os parâmetros requeridos pela portaria de potabilidade de água.

Fonte: UFMS

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