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Congresso ABES/Fenasan 2018 – A evolução dos sistemas de descarga por gravidade para bacias sanitárias e seu impacto na rede coletora de esgotos

Promovida há 29 anos consecutivos pela AESabesp – Associação dos Engenheiros da Sabesp, a Fenasan – Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente é hoje consolidada e reconhecida como uma das mais importantes feiras do setor de saneamento realizadas no Brasil e no exterior.

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E em caráter simultâneo com o Encontro Técnico da AESabesp – Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente é considerada como o maior evento do setor na América Latina. A Fenasan foi realizada entre os dias 18 e 20 de setembro no Expo Center Norte em São Paulo.

Sob o tema “É chegada a hora de alavancar o saneamento ambiental no Brasil”, a edição de 2018 contou com a parceria da IFAT – Feira Internacional para Gestão de Água, Esgoto, Lixo e Resíduos, concebida na Alemanha e considerada como o maior evento mundial em soluções ambientais.

O Engenheiro Sanitarista, Ricardo Reis Chahin, Gerente da Divisão do Programa de Uso Racional da Água da Sabesp, apresentou no dia 18 de setembro, “A evolução dos sistemas de descarga por gravidade para bacias sanitárias e seu impacto na rede coletora de esgotos”.

Segundo Ricardo Chain, a preocupação com o consumo consciente de água tem se tornado um constante desafio dos pesquisadores e da indústria mundial nos últimos anos. Estudos demonstram que atualmente cerca de 35% da água consumida em unidades habitacionais é utilizada em bacias sanitárias. Desde 2001 as bacias comercializadas no Brasil demandam 6,8 litros por acionamento.

O trabalho em questão tem como objetivo avaliar o desempenho de bacias sanitárias de 4,8 litros por acionamento bem como o funcionamento do sistema de esgotos sanitários quando estas bacias forem instaladas. Este trabalho priorizou o sistema de descarga composto por bacia sanitária com caixa acoplada e foi realizado em três etapas: revisão bibliográfica, etapa laboratorial e análise em campo. Foram realizadas filmagens na rede pública de esgotos sanitários, onde foi possível identificar depósitos de sólidos, que podem ter ocorrido devido à redução do volume de água despejado na rede pública. Durante esta etapa, embora os usuários não tenham relatado problema no desempenho das bacias sanitárias, o monitoramento dos dados revelou a necessidade de acionamentos sucessivos em algumas residências. Desta forma não é possível afirmar que a utilização de bacias sanitárias de 4,8 litros por descarga não cause impacto no desempenho do sistema de esgotos sanitários.

Com o objetivo de aprimorar a qualidade na construção civil, na década de 1990 a Secretaria de Habitação do Ministério das Cidades implementou o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat – PBQP-H. Um Programa do Governo Federal que tem como meta elevar os patamares da qualidade da Construção Civil, por meio da criação e implementação de mecanismos de modernização tecnológica e gerencial, incluindo conceitos e metas de sustentabilidade, contribuindo para ampliar o acesso à moradia digna para a população de menor renda. A busca por esses objetivos envolve um conjunto de ações, entre as quais se destacam:

  • Avaliação da conformidade de empresas de serviços e obras;
  • Melhoria da qualidade de materiais;
  • Formação e requalificação de mão-de-obra;
  • Normalização técnica;
  • Capacitação de laboratórios,
  • Avaliação de tecnologias inovadoras;
  • Informação ao consumidor, e
  • Promoção da comunicação entre os setores envolvidos.

Para combater a não conformidade no PBQP-H foram criados Programas Setoriais de Qualidade – PSQs cujo objetivo é garantir que os produtos comercializados no Brasil atendam as Normas Técnicas e as Diretrizes de Uso Racional da Água. Cabe ressaltar a importância, em especial para louças e metais sanitários, cujo não atendimento às Normas Técnicas podem ocasionar em aumento no consumo de água. O PSQ, através de uma entidade gestora técnica de terceira parte, avalia se as empresas fabricam, comercializam e distribuem os produtos-alvo do PSQ em conformidade com as normas técnicas da ABNT. A avaliação é realizada a partir de compras dos produtos-alvo no varejo, ensaios em laboratório e divulgação dos resultados. As empresas que comercializam produtos que não estão em conformidade com as Normas Técnicas estão sujeitas às sanções legais, visto que no Brasil, de acordo com o “Código de Defesa do Consumidor” não é permitido comercializar produtos que não estão de acordo com as Normas Técnicas.

Desta forma, a indústria nacional e internacional vem trabalhando para reduzir o volume de água consumido por sistemas de descargas ao longo do tempo. Estudos demonstram que atualmente cerca de 35% da água consumida em unidades habitacionais é utilizada em bacias sanitárias.

Atualmente os sistemas por gravidade comercializados no Brasil devem utilizar 6,8 litros por descarga. Os principais sistemas de descarga existentes são:

SISTEMAS POR GRAVIDADE

São os sistemas mais comuns no Brasil, sendo o foco principal deste trabalho. Fazem a limpeza através da ação da gravidade. Podem ser encontrados em 3 tipos, conforme ilustrado a seguir, pelas figuras 6 a 8:

sistemas-por-gravidade

SISTEMAS A VÁCUO

São sistemas mais complexos, utilizam a sucção sução para remover os dejetos, os modelos mais modernos demandam de 0,5 a 1,5 litros por uso. São compostos por três partes:

  • Central de Vácuo: é composta por tanque coletor, bombas de vácuo, quadros elétricos e de comando e bombas de esgotamento do tanque para enviar os efluentes para a rede publica.
  • Rede a Vácuo: é composta por válvulas de manobra, tubos e conexões de PVC, que são projetadas para atingirem os pontos de coleta do esgoto na saída de cada bacia sanitária.
  • Caixas de passagem: são distribuídas ao longo da Rede a Vácuo, tendo a função de receber o esgoto proveniente dos pontos de coleta por gravidade e a vácuo.

A figura 9 a seguir ilustra este sistema.

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SISTEMAS PRESSURIZADOS

Estes sistemas não são comercializados no Brasil. Fazem a limpeza com 4 litros por descarga, desde que instalados em bacias apropriadas. A figura 10 a seguir ilustra este sistema. É comercializado apenas em conjunto com a bacia, para garantir a eficiência do produto.

RESULTADOS DO ESTUDO LABORATORIAL

O Gerente da Sabesp explicou, que foram ensaiados 20 modelos de bacias sanitárias, produzidos por 7 fabricantes, entre as quais havia 18 bacias projetadas para funcionar com 4,8 litros e 2 bacias comercializadas no mercado nacional, projetadas para 6,8 litros, mas reguladas para 4,8 litros por descarga.

Na primeira fase dos ensaios foram aprovados 13 modelos, que a seguir foram submetidos ao ensaio de remoção de pasta de soja não encapsulada, cujo resultado foi satisfatório para todos os modelos.

Posteriormente, na segunda fase dos ensaios de laboratório, estes modelos foram submetidos aos ensaios de remoção de pasta de soja encapsulada e transporte de pasta de soja. Nesta segunda fase foram aprovados 5 modelos. Estes 5 modelos estão aptos a serem testados em campo, em condições normais de uso. O Anexo II apresenta o resumo do resultado dos ensaios que foram considerados para aprovação, nas duas fases dos ensaios realizados nas 20 bacias sanitárias. Não estão apresentados os resultados dos ensaios de remoção de pasta de soja encapsulada e transporte de pasta de soja.

Anexo II Resumo do resultado dos ensaios realizado nas 20 bacias sanitárias

ensaios-realizados

Ricardo Reis Chain destacou nas conclusões, que a realização de ensaios laboratoriais demonstrou que a redução do volume de água por descarga pode ser uma solução viável para reduzir o volume de água potável consumido em edificações. Foram ensaiadas bacias projetadas para funcionar com 4,8 litros por descarga e bacias projetadas para 6,8 litros por descarga e reguladas para 4,8 litros por descarga. Dessas últimas, todas foram reprovadas nos ensaios laboratoriais ao não atender os requisitos mínimos exigidos nas Normas vigentes. Isso comprova que a simples redução no nível de água na caixa de descarga não é uma solução viável para reduzir o volume de água consumido pelas bacias e reflete a necessidade de evolução das bacias sanitárias.

“O principal problema ocorre no desempenho do sistema de esgotos sanitários. A redução do volume por descarga sem o estudo aprofundado dos efeitos gerados no sistema, pode causar depósitos de sólidos na tubulação, levando a entupimentos. Das 20 bacias ensaiadas, 80% atenderam a este requisito (transporte de sólidos), que está previsto na normalização atual. Na etapa de campo, verificou-se que os modelos de 4,8 litros/descarga aprovados na etapa laboratorial apresentaram desempenho distinto quando instalados em campo, variando de redução até aumento do consumo de água, em relação às bacias de 6,8 litros/descarga”, explicou.

As bacias sanitárias de melhor desempenho em campo, ou seja, as que trouxeram redução do consumo de água e não apresentaram problemas aos usuários, foram aquelas com bom desempenho no ensaio de pasta de soja encapsulada, que não faz parte dos ensaios previstos na normalização nacional. Isso pode ser um indicador que o ensaio de transporte de pasta de soja é adequado para avaliar bacias sanitárias de 4,8 litros por descarga.

No estudo de campo, embora os usuários não tenham relatado problemas no desempenho das bacias sanitárias, o monitoramento dos dados revelou a presença de acionamentos sucessivos em algumas residências, que refletiu no aumento do consumo de água das residências após a troca das bacias sanitárias. Esta constatação ressalta a afirmação de que a redução do consumo de água não pode ser obtida apenas com a redução do volume por descarga, sem que a bacia atenda aos requisitos mínimos de funcionamento para o novo volume estipulado.

Houve redução do consumo de água em apenas 5 das 10 casas monitoradas, no entanto, o volume médio utilizado nas bacias sanitárias não reduziu, indicando a existência de acionamentos sucessivos. Mesmo com a declividade do coletor horizontal acima da declividade mínima admissível, verificou-se depósitos de sólidos na tubulação ao longo de todo o monitoramento, o que não ocorria anteriormente com as bacias de 6,8 litros por descarga.

“Contudo podemos concluir que a redução do volume por descarga de 6,8 para 4,8 litros pode ocorrer, mas ainda necessita uma evolução, pois a maioria das peças ensaiadas não atendeu aos requisitos mínimos de desempenho e as que atenderam ocasionaram acúmulos de sólidos na rede coletora de esgotos”, finalizou Ricardo Reis Chain.

Gheorge Patrick Iwaki

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