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Minerais críticos x estratégicos: entenda o papel do Brasil na nova geopolítica energética

Minerais críticos x estratégicos: entenda o papel do Brasil na nova geopolítica energética

Enquanto o mundo acelera a transição para uma economia de baixo carbono, um novo mapa do poder começa a ser desenhado — não mais por petróleo, mas por minerais como lítio, grafite, cobalto, nióbio e terras raras.

São os chamados minerais críticos e estratégicos, peças-chave para a produção de baterias, turbinas, chips, painéis solares e insumos militares.

O Brasil aparece com destaque nesse mapa. Detentor de uma das maiores reservas naturais do mundo, o país pode se tornar protagonista da nova economia “verde”, mas o caminho está longe de ser simples.

Um estudo recente da Deloitte expõe essa encruzilhada: há uma chance histórica de industrialização sustentável, mas também o risco de repetir o velho modelo extrativista, com impactos sociais e ambientais.

Mas, afinal, qual a diferença entre minerais críticos e minerais estratégicos? Apesar de muitas vezes usados como sinônimos, os dois conceitos têm enfoques diferentes.

Os minerais críticos são aqueles cuja oferta está em risco ou sob pressão, seja por restrições geopolíticas, alta concentração produtiva, dependência externa ou vulnerabilidade logística. Setores industriais e tecnológicos de um país consideram-nos indispensáveis.

Já os minerais estratégicos são aqueles que um país ou grupo de países considera vitais para sua segurança nacional, soberania industrial ou objetivos climáticos de longo prazo — mesmo que a oferta não esteja necessariamente ameaçada.

Na prática, um mesmo mineral pode ser considerado crítico e estratégico, dependendo do contexto. O lítio, por exemplo, é crítico por ser fundamental na produção de baterias e estratégico por estar no centro da política de mobilidade elétrica global. Já as terras raras, dominadas pela China, são críticas por risco de fornecimento e estratégicas por sua aplicação em defesa, energia e tecnologia.

O Brasil

O relatório “Minerais Críticos: Oportunidades e Desafios para o Brasil”, do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDS) e do Ministério de Minas e Energia (MME), mapeia 36 minérios de alto interesse econômico e geopolítico.

Entre os destaques com alto potencial no Brasil, estão: Terras raras – 2ª maior reserva do mundo (ex: neodímio, disprósio, samário); Lítio – grandes jazidas em Minas Gerais e Nordeste, com exportações já em curso; Nióbio – o Brasil detém mais de 90% das reservas conhecidas globalmente; Grafite natural – essencial na produção de baterias de veículos elétricos; Cobre, manganês e cobalto – insumos clássicos da indústria de energia e eletrônica.

Apesar da riqueza mineral, o Brasil enfrenta gargalos estruturais: baixa capacidade de refino, infraestrutura limitada, dependência tecnológica, além da ausência de uma política industrial articulada com agregação de valor.

Atualmente, o país é majoritariamente exportador de matéria-prima, sem controle sobre as etapas mais lucrativas da cadeia global, como o refino, a purificação e a fabricação de componentes industriais.

Visando a mudança do cenário, o BNDES lançou um edital de R$ 1 bilhão para financiar projetos no setor, com prioridade para minerais críticos. O objetivo é fomentar cadeias completas — do subsolo à indústria de base — em território nacional.

O governo também elabora uma Política Nacional de Minerais Estratégicos e Críticos, que será lançada ainda este ano. A ideia é garantir segurança jurídica, atrair investimentos e evitar que o Brasil fique refém de interesses externos.

Mas há um alerta: a história já mostrou os riscos do modelo extrativista. A exploração de ouro, ferro, petróleo e até do próprio nióbio rendeu pouco em termos de desenvolvimento soberano para o Brasil. Especialistas e movimentos sociais cobram que a transição mineral venha com justiça ambiental e inclusão social.

Impactos ambientais

A exploração de minerais críticos pode causar problemas ambientais se feita sem controle. O refino de terras raras, por exemplo, exige produtos químicos agressivos e gera rejeitos contaminantes. O avanço do lítio no Vale do Jequitinhonha (MG), por exemplo, tem provocado inflação local, pressão sobre serviços públicos e conflitos sobre a gestão dos royalties.

A recomendação do relatório do MME é enfática: qualquer avanço na exploração desses minérios precisa considerar políticas de mitigação ambiental, consulta a comunidades e estratégias de redistribuição de renda.

O fato é que a corrida global por minerais críticos está em andamento, e se intensificará nos próximos anos. Caso queira assumir um papel de protagonista, o Brasil precisa agir agora, com regulação, inovação tecnológica e compromisso com o desenvolvimento sustentável.

Fonte: Um só planeta


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