NOTÍCIAS

Pesquisadores buscam metodologia para analisar contaminação em rios

                                 rio-ecod.jpg
Pesquisadores brasileiros visitaram o Rio Athabasca, no Canadá, que, em outubro de 2013, foi poluído pelo rompimento da barragem de uma mina de carvão
Foto: Tatiana Furley/Divulgação

Dentro de uma semana a tragédia de Mariana (MG) completará seis meses. Em 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem, da mineradora Samarco, causou a morte de 19 pessoas, provocou destruição da vegetação nativa e poluiu a bacia do Rio Doce. De lá pra cá, muitos estudos foram feitos, mas uma pergunta ainda não foi claramente respondida: qual o real impacto do episódio para a qualidade da água e dos peixes?

Estudos da Marinha e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que atestaram a existência de altos níveis de metais pesados no Rio Doce, não conseguiram mostrar se a contaminação está relacionada ao rompimento da barragem. Além disso, a pesca foi proibida em diversos pontos da bacia, a pedido do Ministério Público Federal. Trata-se de uma medida de precaução já que, segundo os promotores, não há informações científicas seguras sobre a qualidade dos peixes para o consumo humano.

O cenário de dúvidas fez com que um grupo de pesquisadores brasileiros viajasse ao Canadá para conhecer uma metodologia de análise dos rios que leva em conta dois fatores: a importância de observar os indicadores biológicos e não apenas os físicos e químicos, e a necessidade de uma pesquisa regular, que não seja feita somente após os desastres. Ao longo das últimas semanas, eles se reuniram com servidores da Agência Ambiental Canadense e pesquisadores da Universidade de Alberta, na cidade de Edmonton.

Os pesquisadores trazem na bagagem uma nova aposta: monitoramentos mensais dos peixes e dos sedimentos que se depositam no fundo do rio

No estado de Alberta, a comitiva brasileira também visitou o Rio Athabasca que, em outubro de 2013, foi poluído pelo rompimento da barragem de uma mina de carvão. Cerca de 680 metros cúbicos de rejeitos atingiram o leito e escoaram por até mil quilômetros. Posteriormente, na cidade de Vancouver, o grupo conheceu de perto as consequências de outra tragédia, ocorrida em 2014, desta vez envolvendo uma mina de cobre e ouro.

Recuperação dos rios
A recuperação dos rios contou com a colaboração da metodologia de análise canadense. De volta ao Brasil na quinta-feira, 28 de abril, os pesquisadores trazem na bagagem uma nova aposta: monitoramentos mensais dos peixes e dos sedimentos que se depositam no fundo do rio.

“No Brasil, estamos acostumados a avaliar somente o contaminante. Pegamos amostras das água e dos peixes e dizemos se ali há contaminação acima do permitido pela legislação. Mas isso não é suficiente. Precisamos de indicadores biológicos ou indicadores de efeito, isto é, analisar o comportamento dos contaminantes, do ambiente e dos seres que nele habitam. Porque um contaminante pode estar acima dos limites legais e não estar causando efeito nenhum. E o contrário também pode ocorrer, de um contaminante dentro dos padrões estabelecidos estar causando algum impacto”, explicou o ecologista e toxicologista Fernando Aquinoga.

Sedimentos e peixes
A bióloga Tatiana Furley relatou que os pesquisadores canadenses envolvidos com a tragédia do Rio Athabasca estudaram em detalhes os peixes e os sedimentos. “O sedimento no fundo do rio é o depósito final do contaminante. Sua análise é muito importante, pois ele interfere no comportamento do rio. Os crustáceos comem esse sedimento e depois servem de alimentos aos peixes. Além disso, uma enchente pode, no futuro, movimentar os sedimentos e espalhar novamente o contaminante”, disse.

Na metodologia canadense, a equipe responsável pelo estudo dos peixes precisa ir muito além da análise química. Não basta apenas coletar amostras para dizer se as espécies estão contaminadas por metais pesados. Cada detalhe é importante. “É preciso observar os números da população, se os animais estão saudáveis, se alimentando, se reproduzindo. Peixes refletem a qualidade da água do rio e uma análise precisa nos diz muita coisa. Devemos observar o fígado, os ovos, as gônadas, o metabolismo. É fundamental analisar se o estresse do ambiente está prejudicando o metabolismo. E fazer também uma comparação das populações de uma parte do rio que sofreu impacto e de outra que não foi afetada”, acrescenta Fernando Aquinoga.

Novo protocolo
Fernando Aquinoga e Tatiana Furley são pesquisadores da Aplysia, uma empresa especializada em avaliação e monitoramento ambiental. Após o rompimento da barragem em Mariana, eles chegaram a fazer estudos no Rio Doce, contratados pela mineradora Samarco. Além dos dois, a comitiva brasileira contou também com o oceanógrafo Felipe Niencheski, professor da Universidade Federal de Rio Grande (Furg). Com base na experiência que têm no Brasil e no que viram no Canadá, o grupo pretende sugerir novo protocolo a ser observado para pesquisas futuras da qualidade das águas das bacias.

“Precisamos começar a monitorar o corpo hídrico dos nossos rios. É uma abordagem cem por cento preventiva. No Canadá, o Rio Athabasca tinha dados de 40 anos de medição. E aí podemos comparar o antes e o depois. Se fizermos estudos de forma regular, uma eventual tragédia será menos custosa para os governos, as empresas e as populações. Os impactos podem ser mais facilmente contornáveis”, afirmou Felipe Niencheski. Um projeto piloto está sendo elaborado pela Aplysia para adaptar a metodologia canadense com base nas espécies brasileiras. Com o apoio do governo do Espírito Santo, inicialmente seriam analisados três rios capixabas: Benevente, Jucu e Santa Maria da Vitória.

De acordo com Tatiana Furley, o grupo também quer disseminar o conhecimento e envolver mais pesquisadores. “Estamos falando de uma metodologia que exige parceria de vários atores. Reside aí o sucesso canadense. Por meio de um diagnóstico mais preciso do tamanho real do problema, conseguimos desenhar um plano de como atuar, por quanto tempo e que órgãos precisam ser envolvidos em ações de longo e médio prazo”.

(Por Leo Rodrigues, da Agência Brasil)

ÚLTIMAS NOTÍCIAS:

CATEGORIAS

Confira abaixo os principais artigos da semana

Abastecimento de Água

Análise de Água

Aquecimento global

Bacias Hidrográficas

Biochemie

Biocombustíveis

Bioenergia

Bioquímica

Caldeira

Desmineralização e Dessalinização

Dessalinização

Drenagem Urbana

E-book

Energia

Energias Renováveis

Equipamentos

Hidrografia / Hidrologia

Legislação

Material Hidráulico e Sistemas de Recalque

Meio Ambiente

Membranas Filtrantes

Metodologias de Análises

Microplásticos

Mineração

Mudanças climáticas

Osmose Reversa

Outros

Peneiramento

Projeto e Consultoria

Reciclagem

Recursos Hídricos

Resíduos Industriais

Resíduos Sólidos

Reúso de Água

Reúso de Efluentes

Saneamento

Sustentabilidade

Tecnologia

Tratamento de Água

Tratamento de Águas Residuais Tratamento de águas residuais

Tratamento de Chorume

Tratamento de Efluentes

Tratamento de Esgoto

Tratamento de lixiviado

Zeólitas

ÚLTIMAS NOTÍCIAS