Preocupação com mudanças climáticas se reflete em investimentos no mercado
Créditos de carbono e ações e títulos verdes são iniciativas que fomentam iniciativas sustentáveis
A aceleração da crise climática global reforça a necessidade de fortalecimento da preservação ambiental e dos recursos naturais do planeta. Essa preocupação permeia diversos segmentos da sociedade, com reflexos inclusive nos investimentos e no mercado de capitais, cada vez mais abertos a iniciativas sustentáveis e relacionadas à bioeconomia.
Sem uma definição exata, o conceito de bioeconomia projeta um modelo de produção baseado no uso de recursos biológicos. O foco está na sustentabilidade e em soluções que possam substituir recursos fósseis e não renováveis, que, quando explorados, contribuem para a degradação ambiental do planeta.
Conforme a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a bioeconomia movimenta 2 trilhões de euros no mercado mundial e gera cerca de 22 milhões de empregos. Já o relatório Oportunidade de Negócio que Contribui para um Mundo Sustentável, do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), aponta um potencial global de US$ 7,7 trilhões em oportunidades de negócios neste mercado até 2030.
A produção de biocombustíveis, bioplásticos e biofármacos está entre os exemplos de atividades no âmbito da bioeconomia. Os investimentos nessa área proporcionam oportunidades econômicas crescentes. Promovem a sustentabilidade e são algumas das principais apostas para efetivar a transição para uma economia global de baixo carbono.
Bioeconomia e Mudanças Climáticas
No Brasil, este mercado tem se aquecido. O levantamento “Potencial do impacto da bioeconomia para a descarbonização do Brasil”, desenvolvido em parceria pela Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) e outras entidades, prevê que a bioeconomia no Brasil pode gerar faturamento industrial anual de US$ 284 bilhões até 2050.
— Desde a aliança financeira para Net Zero durante COP de 2021, em Glasgow, que hoje reúne cerca de 700 instituições financeiras, a agenda dos investimentos sustentáveis, em empresas e projetos que impulsionam a bioeconomia, ganhou muita força no mundo todo, inclusive no Brasil. É um caminho sem volta — argumenta Gustavo Pinheiro, associado sênior do think-tank internacional E3G, que promove soluções financeiras e diplomáticas para a crise climática.
Em fevereiro, a Petrobras, em parceria com a Régia Capital, anunciou a criação de um Fundo de Impacto para Projetos Socioambientais de Bioeconomia e Soluções Baseadas na Natureza. O fundo conta com R$ 100 milhões disponíveis para investimentos neste mercado.
O rápido crescimento do fundo imobiliário SNEL11, criado pela Suno Asset para o investimento em energias renováveis, também exemplifica o crescimento deste mercado no país. Lançado em dezembro de 2022, o fundo se iniciou com cerca de 3 mil cotistas, número que cresceu para os atuais 30 mil.
— Hoje, o fundo está com um pouco mais de R$ 300 milhões de patrimônio líquido, com um pipeline grande pela frente e uma forte tendência de continuar crescendo, pois o mercado está com um apetite crescente para investimentos agregados à sustentabilidade — afirma Vitor Duarte, Chief Investment Officer (CIO) da Suno.
A Randoncorp, utilizando a Rands, sua plataforma de soluções financeiras e serviço, oferece uma linha de crédito de baixo carbono com foco em estimular clientes e o mercado em geral para a adoção de tecnologias sustentáveis. A linha fornece crédito para aquisição e comercialização de sistemas, máquinas e equipamentos com maiores índices de eficiência energética. Também contribui para a redução da emissão de gases de efeito estufa.
Buscamos acompanhar as mudanças de tendências, mas principalmente atuar colaborativamente para disseminar essa cultura do lucro com sustentabilidade.
ESTEBAN ANGELETTI
Diretor de relações com investidores e finanças corporativas da Randoncorp
Impulso rumo à transição
Com o objetivo de reduzir as emissões gerais de gases de efeito estufa, uma solução desenvolvida principalmente a partir do Protocolo de Kyoto foi a criação de um mercado de créditos de carbono. Na prática, este mercado oferece a possibilidade de países e empresas que não ultrapassam seu limite de emissões venderem créditos compensatórios a terceiros que tenham extrapolado suas cotas. Isso incentiva projetos e ações sustentáveis.
No Brasil, este mercado ainda é incipiente. Uma lei federal concretizando a sua criação foi aprovada em 2024, mas ainda necessita de regulamentação para que entre efetivamente em vigor. A projeção do governo federal é de que essa regulação ocorra completamente até 2026.
Contudo, já existe o chamado mercado voluntário. Na falta de regulação para o mercado oficial, empresas começaram a negociar créditos de carbono entre si por conta própria.
— Esse mercado tem um potencial milionário, até bilionário, e o Brasil tem tudo para ser um dos líderes globais — reforça Gustavo Pinheiro.
Títulos e ações verdes
Outras iniciativas que visam estimular o crescimento de investimentos sustentáveis no mercado se referem aos chamados títulos e ações verdes.
Conforme a B3, principal bolsa de valores do Brasil, são considerados verdes os títulos de dívida usados para captar recursos com o objetivo de implantar ou refinanciar projetos e compra de ativos capazes de trazer benefícios ao meio ambiente, ou ainda contribuir para amenizar os efeitos das mudanças climáticas. Entre os títulos que se enquadram nesses parâmetros estão debêntures, Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), por exemplo.
Já as ações verdes formam uma designação que a B3 adota desde 2024, para destacar empresas que contribuem para a economia verde. Podem solicitar a classificação as companhias listadas que tenham mais de 50% da sua receita bruta anual proveniente de atividades consideradas verdes, mais de 50% dos investimentos e despesas operacionais anuais destinados a tais atividades. Além disso, devem ter menos de 5% da receita bruta anual derivada de combustíveis fósseis.
Como investir em bioeconomia
Para quem deseja ingressar neste universo de investimento, os fundos especializados em bioeconomia podem ser um bom começo. Contudo, mesmo consultorias regulares podem oferecer um bom direcionamento, como destaca Gustavo Pinheiro.
— Quando falamos em investimentos, é sempre importante fazer a lição de casa, se informar sobre a área que deseja investir. No caso da bioeconomia e investimentos sustentáveis, as consultorias especializadas oferecem um bom caminho, mas se o investidor já tem uma agência ou corretor de confiança, mesmo que não seja especialista, pode também ser demandado para se aprofundar no assunto e oferecer um direcionamento — aponta.
Fonte GZH