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Hydro planeja deixar de usar barragem convencional no país

Novo modelo desenvolvido pela norueguesa consiste em dispor os resíduos em um reservatório horizontal equivalente a 280 campos de futebol, onde a companhia faz a secagem do depósito

A produtora de alumínio norueguesa Hydro deve deixar de usar o modelo convencional de barragens de rejeitos no Brasil. As unidades tradicionais armazenam rejeitos úmidos que vão sendo empilhados à medida que avança a extração de matéria-prima na minas. O novo modelo desenvolvido pela Hydro consiste em dispor os resíduos em um reservatório horizontal equivalente a 280 campos de futebol, onde a companhia faz a secagem do depósito. Após essa etapa, os rejeitos são usados para preencher as áreas mineradas, conhecidas como “cavas”, grandes perfurações no solo que, após preenchidas, são reflorestadas.

O novo modelo aplicado pela Hydro no Brasil se mostrou financeira e ambientalmente mais eficiente do que o convencional. Cerca de 80% dos rejeitos da Hydro em Paragominas (PA), onde se concentra a atividade mineral da empresa no Estado, são operados por esse novo sistema. A previsão é que os 20% restantes migrem para o novo sistema até 2040, mas o prazo pode ser antecipado.

Desde 2020, a Hydro utiliza nas minas de bauxita, insumo para a produção de alumínio, esse modelo inédito no país de preenchimento de cavas com rejeitos secos, chamado pela multinacional de “Tailing Dry Backfill”. Segundo a Hydro, o rejeito é devolvido à natureza com redução da pegada ambiental e mais segurança operacional. A companhia começou os testes com o novo modelo de barragem em julho de 2019 com investimentos de US$ 5,5 milhões (R$ 30 milhões à época).

O gerente de operação da mina de Paragominas da Hydro, Edil Pimentel, diz que o método da empresa não tem relação com o caso de Brumadinho, mina da Vale que se rompeu em Minas Gerais em janeiro de 2019 matando 270 pessoas e causando grande impacto ambiental.

“Os acidentes no Brasil não foram os fatores motivadores [para a Hydro]. Lógico que, quando aconteceram, pensamos que podíamos fazer diferente na movimentação de rejeitos. Mas antes disso estávamos buscando alternativas para operar de maneira mais sustentável.”

Os testes foram concluídos em 2020, quando a Hydro recebeu licença operacional. “Como o rejeito fica seco e sólido depois que fica nas barragens, pensamos em levá-lo de volta para a cava. Além de mais sustentável, o modelo reduz custos com alteamento de barragens”, disse Pimentel. Paragominas devolveu 20 milhões de metros cúbicos de rejeitos para áreas mineradas desde 2019, quando começou a implementar o modelo. O preenchimento é feito conforme avança a lavra.

Antes do novo modelo, a Hydro utilizava somente barragens tradicionais, construídas pelo método a jusante. O sistema é diferente do método a montante, utilizado nas estruturas de Mariana e Brumadinho, ambas em Minas Gerais, que se romperam em 2015 e em 2019.

Na Hydro, a barragem tradicional é elevada, pelo processo chamado de alteamento, à medida que atinge certo nível de disposição, o que requer de uma nova licença para cada etapa: “Paramos de ter a necessidade de construção e alteamento de barragens porque fizemos essa grande área de secagem.” O volume acumulado na barragem antiga vai permanecer no local.

Presente em 40 países, a Hydro está no Brasil em toda a cadeia do alumínio, desde a mineração de bauxita até a produção do alumínio primário. A produção de bauxita em Paragominas é levada por mineroduto de 244 quilômetros até Barcarena (PA) para abastecer a Alunorte, produtora da alumina, matéria-prima do alumínio. A Hydro é acionista majoritária da Alunorte, com 62%. Em Paragominas, são operadas quatro áreas de lavra por dia.

Apesar dos avanços no tratamento de resíduos, a Hydro segue usando água no processo de beneficiamento da bauxita. Ela é incorporada no processo, diz a empresa, formando uma polpa que é bombeada pelo mineroduto até a Alunorte. São cerca de 11 milhões de toneladas de bauxita transportadas por ano via duto. Na Alunorte, a água que compõe a polpa é extraída e reutilizada em etapas de resfriamento e outras atividades. Em Paragominas, a mina de bauxita tem aumentado o percentual de reutilização. Mais de 80% da água utilizada é reaproveitada.

Para o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), a solução de rejeitos da Hydro indica um caminho que a indústria busca, com mais tecnologia e segurança. Segundo Aline Nunes, gerente de assuntos minerários do Ibram, a depender do tipo de mineração, não é possível se desfazer totalmente de barragens tradicionais.

“Na Hydro, pelas características do depósito, do material e da região, há a possibilidade de fazer o processo de secagem”, disse Nunes. “Em alguns contextos geológicos, não é possível fazer esse modelo. Mas as soluções mais seguras devem ser priorizadas, sejam pilhas ou barragens, desde que não sejam a montante, agora proibidas no Brasil.”

Em julho de 2024, a Hydro foi condenada pela 9ª Vara da Justiça Federal no Pará à pena de prestação de serviços à comunidade por contaminação e poluição de área em Barcarena, em 2009, após o transbordamento de rejeitos sólidos da Alunorte. A companhia foi obrigada a pagar R$ 100 milhões como contribuição a entidades públicas. AAlunorte recorreu da decisão, nega a acusação e diz que foi demonstrado, por meio de provas, a inexistência de crime ambiental.

Outro processo envolvendo a Hydro corre na Holanda. A ação é movida pela associação Cainquiama, que representa 11 mil caboclos, indígenas e quilombolas da Amazônia. Segundo o escritório Pogust Goodhead, que representa autores da ação, em fevereiro de 2018 uma lama vermelha vazou da bacia de rejeitos da Alunorte e poluiu nascentes e rios. As leis da União Europeia determinam que empresas que causam danos ambientais devem ser processadas no país em que estão domiciliadas. Seis unidades holandesas do grupo Norsk e a matriz norueguesa são rés. Segundo o Pogust Goodhead, moradores de Barcarena sofreram intoxicação por rejeitos químicos. Ainda conforme o escritório, a audiência ocorreu em 12 de março de 2025 e a sentença será proferida em 24 de setembro deste ano.

A Alunorte também nega essas acusações e diz que a ação no tribunal holandês se sobrepõe a outras já julgadas improcedentes no Brasil. A companhia diz que nenhum transbordo aconteceu nas chuvas em 2018.

Fonte: Valor Econômico


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