Setores de refino, fertilizantes e amônia devem estar entre principais clientes, identifica estudo da CNI
Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre as perspectivas de aplicação do hidrogênio na indústria brasileira identificou que os setores de refino e fertilizantes — grandes consumidores de hidrogênio cinza — têm potencial de uso imediato das opções sustentáveis como estratégia de descarbonização.
O hidrogênio cinza é produzido com gás natural. As alternativas sustentáveis analisadas pela CNI consideram o azul (gás natural com captura e armazenamento de carbono) e o verde (eletrólise da água com energia renovável).
Já no curto e médio prazos (três a cinco anos), siderurgia, metalurgia, cerâmica, vidro e cimento aparecem como os potenciais consumidores.
O refino tende a ser o principal cliente — hoje, cerca de 74% do hidrogênio consumido na indústria brasileira são destinados às refinarias.
O documento destaca o crescimento da demanda por H₂ para o hidro tratamento de derivados de petróleo para atender regulações ambientais cada vez mais exigentes, e, mais recentemente, a adoção crescente de óleos vegetais como matéria-prima no refino.
De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a capacidade mundial de produção de HVO (óleo vegetal hidro tratado, também conhecido como diesel verde) atingiu 1,9 milhão de barris por dia no ano passado e deve duplicar até 2023.
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Mas fazer essa transição no segmento vai demandar muita água e geração de energia.
Para substituir a produção anual de H₂ cinza da Petrobras por verde, por exemplo, seria necessário o consumo de 16.000 GWh de energia, uma potência da ordem de 1,82 GW de capacidade, pelos cálculos da CNI.
“Assumindo disponibilidade de 40% para energia eólica, substituir a totalidade de H2 produzido pela Petrobras requereria capacidade instalada de energia eólica de 4,55 GW”, diz o documento.
Os setores de fertilizantes e amônia vêm logo em seguida. Na análise, a CNI indica “grande potencial” na produção de amônia a partir de hidrogênio verde próxima ao agronegócio, que hoje consome 87 mil toneladas por ano de H₂.
O H₂ de eletrólise ou biomassa poderia substituir o gás natural na produção de fertilizantes, ajudando a resolver questões de custo e logística:
Como o preço do gás natural brasileiro é historicamente alto em comparação com os preços internacionais, hoje vale mais a pena importar o produto — o agro importa 85% dos volumes de fertilizantes nitrogenados.
O custo de transporte de fertilizantes desde as plantas de produção localizadas no Nordeste ou dos portos de importação até as principais fronteiras agrícolas do país é muito elevado.
Além disso, a amônia também desponta como o combustível da transição no transporte marítimo.
Em abril deste ano, Yara International e Azane Fuel Solutions assinaram um acordo comercial para estabelecer uma rede de bunkers — combustível de navios– à base de amônia verde na Escandinávia até 2024.
Enquanto Maersk, Keppel Offshore & Marine e Sumitomo Corporation estudam a viabilidade do uso da amônia verde para estabelecer uma cadeia de suprimento no Porto de Cingapura, o maior porto de bunkering do mundo.
Como chegar lá?
Desenvolver a cadeia de hidrogênio sustentável depende, no entanto, de medidas estruturantes, como uma política industrial para impulsionar a produção de equipamentos e prestação de serviços, ressaltam os representantes da indústria.
“O foco é a construção de marcos regulatórios que tragam segurança aos investimentos, incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias, adoção das melhores práticas internacionais e promoção de estudos que dimensionem adequadamente o potencial do segmento”, resume Robson Braga de Andrade, presidente da CNI.
O setor reconhece um avanço do governo federal para assumir um protagonismo na formulação de políticas para o setor, mas considera que “a velocidade de elaboração das políticas para o hidrogênio não é compatível com a rápida multiplicação de projetos” do setor privado, nem com o “tamanho do desafio que representa a criação de uma nova indústria energética no país”.
Veja o estudo na íntegra (.pdf)
Fonte: Epbr
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