LEITURA RECOMENDADA

Dia Mundial do Meio Ambiente

A contaminação por microplásticos ameaça cadeia alimentar da América Latina

Imagem Ilustrativa do Canva – Os microplásticos estão presentes em grande parte das fontes alimentícias

Representantes da Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água, ALADYR, alertaram que os microplásticos podem ter repercussões nocivas no abastecimento de alimentos proveniente dos rios da região e que a infraestrutura de saneamento é crucial para deter essa ameaça.

Imprensa ALADYR – Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, sob o lema “Sem contaminação por plásticos”, é feito um apelo global para enfrentar a crise ambiental relacionada a esse material. Segundo organizações internacionais, a reciclagem e o reúso de água são apresentados como soluções fundamentais para evitar que milhares de toneladas de plástico cheguem aos mares e rios todos os anos.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que aproximadamente 8 milhões de toneladas de plástico são despejadas nos oceanos anualmente, o que equivale à carga de um caminhão de lixo a cada minuto. Se não forem tomadas medidas adequadas, prevê-se que até 2050 haverá mais plástico do que peixe nos oceanos.

Nesse contexto, a reciclagem e o reúso de água surgem como soluções eficazes e alcançáveis para combater a contaminaça6o por plásticos. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), aproximadamente 79% de todo o plástico produzido na história ainda é encontrado em aterros sanitários, no meio ambiente ou nos oceanos. Incentivar a implementação de sistemas de reciclagem eficientes e promover o reúso de água pode reduzir significativamente a quantidade de plástico que chega aos corpos d’água.

De acordo com a Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água, ALADYR, o combate à contaminação por plásticos não se limita apenas aos resíduos visíveis. Os microplásticos, minúsculas partículas de plástico presentes em todos os corpos d’água do planeta, tornaram-se preocupantes contaminantes emergentes. Essas partículas estão presentes em todos os seres vivos, especialmente nos peixes, que são uma fonte essencial de alimento para muitas pessoas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) determinou que uma pessoa média consome até 5 gramas de microplásticos por semana, o que equivale ao peso de um cartão de crédito. Embora os efeitos a longo prazo na saúde humana ainda estejam sendo investigados, vários estudos científicos têm associado a exposição a microplásticos com possíveis distúrbios hormonais, efeitos tóxicos no sistema reprodutivo e riscos para o sistema imunológico.

Os microplásticos contêm uma mistura de produtos químicos adicionados durante sua fabricação que podem se espalhar para o meio ambiente. Essas partículas também absorvem efetivamente substâncias tóxicas presentes no ambiente aquático, como contaminantes orgânicos persistentes.

“Além disso, os microplásticos são um substrato no qual vivem organismos marinhos como invertebrados, microalgas, bactérias, fungos ou vírus (fenômeno conhecido como bioincrustação), alguns dos quais representam patógenos potenciais”, disse a FAO.

Pesquisa do CONICET detectaram microplásticos no Río de la Plata.

Uma pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina (Conicet) encontrou esses componentes no trato digestivo de peixes do Río de la Plata e do Río Paraná em espécies como surubim, tarpon, pati, peixe-rei e carpa que, eventualmente, poderiam afetar sua qualidade para consumo humano.

No caso específico do tarpon do Médio Paraná estudado, sabia-se que elas estavam contaminadas com pelo menos um microplástico e os pesquisadores afirmam que as pesquisas nesse sentido estão apenas começando na América Latina e que o problema pode ser muito pior do que se vê à primeira vista.

Gerry Ross, presidente da ALADYR, declarou: “A reciclagem e o reúso de água são soluções eficazes e alcançáveis para reduzir a quantidade de plástico que chega aos nossos corpos de água através das águas residuais. Além de preservar o meio ambiente, essas práticas também oferecem benefícios econômicos e sociais, gerando empregos e promovendo a economia circular”.

Acrescentou que é urgente que os governos, a indústria e a sociedade em geral colaborem na implementação de políticas e ações concretas para conter a contaminação por plásticos e microplásticos.

“Grande parte da cadeia alimentar na América Latina está em perigo por causa desse problema e, por mais que retiremos todo o plástico que vemos flutuando nos rios, não estaríamos abordando o problema em toda a sua dimensão, porque os microplásticos são liberados das fibras de roupas sintéticas e outros componentes do cotidiano que trafegam pela rede de esgoto e os sistemas convencionais de tratamento não os removem.”

Soluções alcançáveis

A ALADYR explicou ainda que o investimento na adequação do sistema de tratamento de águas residuais desempenha um papel crucial e que a incorporação de tratamentos terciários nas estações existentes permitiria que a água fosse levada a uma qualidade adequada para diferentes utilizações, como agrícolas, industriais e até potável, se a legislação o permitir. Exemplos internacionais como Singapura, que desenvolveu um avançado sistema de tratamento de águas residuais, ou Israel, que fez grandes progressos no reúso de água para fins agrícolas, demonstram a viabilidade e os benefícios destas práticas.

O investimento em infraestruturas de tratamento de águas residuais e a promoção de práticas de reciclagem e reúso da água não só contribuiriam para fechar a lacuna no acesso ao saneamento, como também reforçariam a proteção ambiental e a preservação dos recursos hídricos. Além disso, segundo dados da OMS e do Banco Mundial, cada dólar investido em saneamento gera um retorno econômico e social de até 5 vezes, melhorando a saúde da população e aumentando a produtividade.

O Banco Mundial destaca ainda que 70% das águas residuais produzidas na América Latina son descartadas sem nenhum tratamento, o que supõe uma lacuna de grande preocupação para a ALADYR, mas que também pode ser tratada como uma oportunidade.

“Podemos ver essa quantidade de efluentes como uma oportunidade de adaptar nossa infraestrutura de coleta e tratamento, ao mesmo tempo em que fazemos um círculo virtuoso no qual seu potencial hídrico, energético e econômico é explorado”, disse Ross.

Legislação e regulamentação

Luiz Bezerra, representante da ALADYR no Brasil, disse que na América Latina há falta de consistência legislativa e tomou como exemplo o caso do Chile, que tem duas leis federais centrais que regulamentam a questão dos resíduos plásticos em todo o território e a contrasta com a do Brasil, com mais de 150 regulamentações sobre o tema.

Continuou dizendo ainda que, no Brasil existe um excesso de leis e regulamentações de “baixa qualidade” que estão causando danos e custos ao sistema regulatório. Considerou que quando se trata de problemas globais como a presença de microplásticos, é necessária uma legislação estratégica que implique uma análise no contexto internacional que aborde, por meio de políticas públicas apoiadas em regulamentações, a contaminação da água, do solo e até do ar por plásticos para desenvolver medidas que possam atingir metas e ações no curto, médio e longo prazo.

“Estamos falando de modelos legislativos complexos que precisam coordenar seus planos e efeitos com as necessidades e objetivos de diversos setores da sociedade, especialmente do setor do agronegócio”, disse.

Explicou que os plásticos lançados ao meio ambiente, devido a diversas ações humanas, são expostos a condições exógenas e processos físico-químicos e que essas transformações resultam na formação de microplásticos, pequenas partículas alteradas pela força mecânica e na absorção de organismos contaminantes, como cádmio, zinco e níquel, além de microrganismos, possíveis vetores patogênicos.

“É fundamental não apenas regular o uso de plásticos, mas também incentivar e orientar o uso das tecnologias disponíveis para evitar que os microplásticos entrem na cadeia de abastecimento de água potável e na produção de alimentos. Embora o uso de plásticos seja drasticamente reduzido, ainda há um passivo circulante que requer tratamento adequado”, completou Bezerra.

Por sua vez, Alejandro Sturniolo, vice-presidente da Associação Internacional de Dessalinização, IDA, acrescentou que o problema não está no material em si e apontou que a principal fonte dessa contaminação são as águas residuais tratadas e não tratadas, sendo o vestuário sintético um dos principais contribuintes.

“Mais do que no próprio plástico, o problema está na sua má gestão e falta de educação. É essencial não demonizar os materiais, mas focar na gestão adequada dos resíduos. A reutilização de efluentes poderia ser uma solução viável, obtendo água de excelente qualidade e tratando de forma mais econômica um fluxo concentrado de contaminantes “, declarou.

“Questões são levantadas para refletir, como: Por que usamos plásticos descartáveis se os criamos para serem duráveis? Por que liberamos microplásticos no meio ambiente se não queremos que eles estejam em nossa cadeia alimentar? E, se seria benéfico substituir todo o plástico que usamos diariamente por madeira ou papel? Entender e agir em torno dessas questões poderiam ter um impacto significativo no futuro do planeta, promovendo uma mudança de perspectiva, hábitos ajustados e educação adequada.”

Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, é fundamental que governos, indústria e sociedade como um todo assumam a responsabilidade de combater a contaminação por plásticos e promover práticas sustentáveis. A vontade política é crucial para destinar recursos financeiros, estabelecer marcos regulatórios adequados e incentivar o investimento em infraestruturas de tratamento de águas residuais.

Fonte: ALADYR


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Mais sobre este autor:

Fundada em 30 de novembro de 2010, no âmbito do II Seminário Internacional de Dessalinização na cidade de Antofagasta, Chile. A AADYR é uma associação sem fins lucrativos que promove conhecimentos oportunos e experiências em torno de tecnologias de dessalinização, reuso de água e tratamento de efluentes, a fim de otimizar a gestão hídrica na América Latina e garantir o acesso à água potável dentro de padrões de qualidade, eficiência, sustentabilidade, desenvolvimento econômico e futuro social.

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