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Estudo encontra microplásticos na água potável de Porto Seguro

Estudos recentes conduzidos por pesquisadores da Universidade Federal do Sul da Bahia confirmaram a presença de microplásticos na água potável da cidade de Porto Seguro.

Microplásticos são fragmentos plásticos com menos de 5 milímetros e podem causar riscos à saúde, com as menores partículas (abaixo de 130 micrômetros) alojando-se nos tecidos do corpo humano e liberando produtos químicos tóxicos. Os riscos potenciais à saúde associados aos microplásticos também incluem o desencadeamento de respostas imunes por parte do corpo. A complexidade e a distribuição desses microplásticos ainda dificultam uma avaliação completa dos riscos para a saúde.

A pesquisa realizada pela estudante Raiane Silva da Cruz como parte de seu mestrado no Programa de Pós-graduação em Ciências e Tecnologias Ambientais (PPGCTA), sob orientação do professor Silvio Tarou Sasaki. O objetivo do estudo é entender a extensão e os impactos da contaminação por microplásticos no abastecimento de água da região de Porto Seguro.

A ideia para o projeto surgiu pela falta de dados sobre a eficiência de remoção de microplásticos nas diferentes fases do tratamento de água em estações convencionais. Nos últimos dez anos, a preocupação com a presença de microplásticos nos sistemas de abastecimento de água — embora tenha evoluído de forma lenta — incentivou pesquisadores ao redor do mundo a investigarem o tema por meio de diversos estudos.

A pesquisa buscou verificar a presença de microplásticos em cada fase do tratamento da água. Também analisou sua composição química e otimizou uma metodologia de baixo custo.

“Estamos buscando não só entender a presença desses poluentes, mas também melhorar os métodos de detecção e remoção”, explica Sasaki.

Em sua pesquisa, Raiane Silva da Cruz aborda a crescente preocupação com a contaminação por microplásticos. Destaca suas múltiplas fontes e a importância de um gerenciamento adequado de resíduos.

“A indústria, esgoto e fragmentos liberados por tecidos durante a lavagem também contribuem para essa contaminação”, diz a estudante.

Raiane enfatiza que, além dos hábitos de consumo e descarte inadequado, a indústria é uma fonte significativa de microplásticos.

“Produtos como esfoliantes e glitter são exemplos de como microplásticos entram no mercado”, afirma a pesquisadora.

Esses materiais, quando descartados de forma inadequada, se fragmentam e acabam poluindo o meio ambiente.

Quatro grupos de polímeros foram identificados: PVC, polietileno de baixa densidade, polipropileno e poliestireno. Assim também, apesar da alta eficiência do tratamento convencional, a pesquisa destacou que a água pode ainda carregar microplásticos após o tratamento, especialmente fibras.

Método de pesquisa e resultados

A metodologia empregada na pesquisa incluiu a separação por densidade utilizando cloreto de sódio (sal) para isolar os microplásticos da água. Bem como, a identificação dos microplásticos foi realizada com a técnica de espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR). Os resultados mostraram que fragmentos e fibras de microplásticos foram encontrados em todas as amostras da Estação de Tratamento de Água (ETA). A água bruta apresentou uma média de 1.156 fragmentos.

Os pesquisadores encontraram fragmentos e fibras de microplásticos em todas as amostras da estação de tratamento. O tratamento convencional mostrou uma alta eficiência na remoção, com uma média de 98,3% de remoção, mas foi menos eficiente na remoção de fibras, segundo destaca Sasaki.

Os próximos passos da pesquisa incluem a avaliação das águas que chegam às residências e um possível monitoramento a longo prazo.

“Estamos planejando expandir a pesquisa para entender melhor o impacto em diferentes pontos da rede de abastecimento”, concluiu Sasaki.

Os pesquisadores apontam que é difícil comparar a concentração de microplásticos encontrada em Porto Seguro com outras regiões, devido à falta de estudos semelhantes. Atualmente, segundo eles, existem poucos estudos relacionados à presença de microplásticos nas estações de tratamento de água do Brasil – há exemplos de pesquisas recentes nas regiões de Curitiba e Campinas.

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório abrangente sobre a presença de microplásticos na água potável, com base em uma análise de múltiplos estudos existentes. O relatório constatou a ampla presença de microplásticos e destacou essa realidade. No entanto, também ressaltou que ainda há evidências limitadas sobre os possíveis impactos à saúde humana.

A Orb Media, uma organização de jornalismo investigativo, conduziu um dos estudos pioneiros que ganhou grande destaque. Além disso, a equipe analisou amostras de água potável de cinco continentes e constatou que 83% delas continham fibras plásticas microscópicas, com uma média de 4,34 partículas por litro. As fontes identificadas variam desde resíduos industriais até roupas sintéticas e plásticos descartados.

A Universidade de Minnesota realizou outra pesquisa relevante, em colaboração com o Instituto de Água Doce da Universidade Estadual de Nova York. O estudo identificou microplásticos em 81% das amostras de água potável coletadas em 14 países, incluindo os Estados Unidos.

O que diz a Embasa

Portanto, em nota enviada à reportagem, a Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A (Embasa) informou o seguinte:

“A Embasa atualmente não realiza o monitoramento de microplásticos na água tratada distribuída, visto não se tratar de um parâmetro da portaria de potabilidade (Anexo XX da PCR N° 05/2017 alterada pela portaria N° 888 de 04 de Maio de 2021). Seguimos o padrão de análises determinado pelo Ministério da Saúde”.

Um projeto de lei apresentado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), o PL 260/2024, propõe alterações no Marco Legal do Saneamento Básico para estabelecer metas progressivas de remoção de poluentes, como microplásticos, das águas potáveis e residuais. O projeto busca garantir a evolução dos sistemas de saneamento e a descontaminação efetiva da água.

Fonte: Ansuba


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