Má distribuição de chuvas afeta recarga do maior reservatório de água da Grande São Paulo, afirma especialista
Apesar das chuvas mais intensas neste verão, o volume do Sistema Cantareira continua preocupando. Em fevereiro, houve um acréscimo de apenas 4% no nível do sistema, que está em 47,2%. Nos dois primeiros meses do ano, o acumulado foi de apenas 7,7%. A situação é pior do que nos dois anos anteriores. Por que isso está acontecendo? Para responder a pergunta, Jornal da USP no Ar conversou com Pedro Luiz Côrtes, livre-docente, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEA) da USP.
O El Niño traz um pouco mais de chuva para a Região Metropolitana de São Paulo, mas ela é mal distribuída. O fenômeno também provoca um aumento de temperatura. “Isso não é bom para os mananciais, porque uma chuva intensa não permite sua infiltração no solo. Assim, a recarga do lençol freático e das represas fica prejudicada”, explica Côrtes.
Está chovendo menos no Sistema Cantareira
Em comparação com a média histórica, está chovendo menos no Sistema Cantareira. Em novembro e dezembro, choveu 81% da média histórica para os meses. Da mesma forma, janeiro apresentou índice de apenas 84% da média histórica. Somente em fevereiro houve uma alta de 16% acima da média histórica. “Mesmo assim, ontem o nível do sistema estava em 47,2%, pior do que em 2018 na mesma época (52,4%) e em 2017 (62,8%).” E nos dois anos anteriores, o volume acumulado em janeiro e fevereiro foi maior do que neste ano.
“Se não houver um padrão regular de chuvas, pode ser que tenhamos dificuldades com o abastecimento”, alerta o professor. Tudo vai depender do clima no segundo semestre. “Não é possível ter uma previsão concreta. O El Niño termina por volta de abril e início de maio. Depois disso, acontece uma fase neutra em que não há El Niño nem La Niña, mas é claro que todo padrão de chuva de toda região metropolitana também depende de outros fenômenos associados, como o do Atlântico Sul”, explica. De acordo com ele, se chegarmos no período da estiagem com pouco mais de 50%, é possível que haja apenas 30% do nível de água do Sistema Cantareira no segundo semestre.
Durante a crise hídrica, especialistas comentaram que a recuperação do Sistema Cantareira poderia levar muitos anos. A situação atual mostra. “Apenas em 2017 a gente entra no período de estiagem com uma recarga boa. O pouco de água que está entrando no sistema não é adequado para mantê-lo.”
Fonte: Jornal da USP.