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Esgoto da Zona Oeste do Rio vira adubo para agricultura da Região Serrana

Esgoto vira adubo para agricultura

Concessionária Iguá, responsável pelo saneamento em 18 bairros da capital, manda 300 toneladas de lodo por mês para compostagem

Ao comprar alface na feira, o morador da Zona Oeste do Rio de Janeiro nem sabe, mas deve consumir um alimento que ajudou indiretamente a produzir. Desde novembro, a Iguá – concessionária de saneamento básico que atende 18 bairros da região – destina todo o lodo de esgoto de suas estações de tratamento para compostagem: são cerca de 300 toneladas mensais de lodo que viram adubo orgânico na Organosolo, empresa que tem como principais clientes produtores rurais dos estados do Rio, Espírito Santo e Minas Gerais. O lodo da Iguá vira adubo da Organosolo, usado por agricultores da Região Serrana, responsáveis por quase todo o alface consumido na capital – e também pela couve, brócolis, couve flor, bertalha, acelga, agrião e espinafre.

O caminho do esgoto para virar adubo de folhas, verduras e legumes é longo. Desde que assumiu os serviços de saneamento na Zona Oeste, a Iguá Rio recebe e trata cerca de 1 milhão de metros cúbicos de esgoto por mês, quase tudo concentrado na ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) da Barra da Tijuca – a concessionária opera mais quatro pequenas ETEs que serão progressivamente desativada.

“A Iguá tem a sustentabilidade em seu DNA e todas as empresas do grupo buscam processos operacionais mais limpos e com menor impacto no meio ambiente”, afirma o engenheiro ambiental Ícaro Maltha, gerente de Operações da Iguá Rio – o grupo opera serviços de saneamento em municípios de seis estados.

O esgoto captado pela empresa passa, primeiro, por um processo de separação, com uso de grades e peneiras, para retirar “resíduos sólidos não característicos do esgotamento sanitário”, na definição técnica.

“São frutos do mau uso da rede de esgoto. Chega de tudo: latas, garrafas pet, roupas”, explica Maltha. “Esses materiais prejudicam o sistema coletor e de tratamento, bem como areia e pedriscos que também separamos por outro processo”, acrescenta.

Só depois começa o processo de separação desse lodo de esgoto na ETE Barra da Tijuca, através de um sistema com decantador e de centrífuga.

“O objetivo desse processo é separar a parte líquida da sólida. Esse lodo tem grande percentual de massa líquida, seja para compostagem, seja para descarte em aterro sanitário. Nós fazemos um tratamento para aglutinar a parte sólida deste lodo”, conta o gerente de Operações da Iguá.

A parte líquida, então, é bombeada para o emissário submarino para ser atirada em alto mar.

O lodo orgânico mais sólido do esgoto segue seu destino para virar adubo. Todos os dias, caminhões carregados de logo saem da ETE Barra para a empresa de compostagem na Zona Norte do Rio.

“A empresa estabeleceu como meta que 75% do lodo gerado em todas as concessões da Iguá tenha como destino a compostagem ou outras formas de reutilização, alternativas ao aterro sanitário, até 2025”, frisa Ícaro Maltha.

No Rio, 100% do lodo do esgoto já está sendo encaminhado para Organosolo.

“Nós buscamos uma empresa parceira com experiência, qualificação e certificação do Ministério da Agricultura para fazer a compostagem e transformar resíduos potencialmente prejudiciais ao meio ambiente em produtos para a agricultura e outras atividades que integrem um ciclo de vida, com retorno para a população”, destaca engenheiro ambiental.

Ao receber o lodo do esgoto, com sua carga de resíduos orgânicos, a Organosolo promove o processo de compostagem.

“O tratamento não termina na estação. O final do saneamento é a disposição desse lodo. O que nós fazemos, através da compostagem, é criar o meio adequado para a decomposição dos resíduos. A decomposição é feita por bactérias e, para a compostagem, precisamos equilibrar os principais componentes que são os elementos de carbono e de nitrogênio”, explica Francisco Dantas, sócio-diretor da Organosolo.

Na planta da empresa, são feitas pilhas – leiras – em formato cônico para ação das bactérias; de tempos em tempos, é necessário revolver essas leiras para facilitar a ação das bactérias que vão decompondo o lodo.

“Assim, nós vamos transformar o resíduo num composto orgânico, que tem todos esses benefícios agronômicos”, acrescenta Dantas.

O sócio da Organosolo explica que, no processo de compostagem, a bactéria gera calor como consequência de sua atividade na decomposição.

“Esse calor, que chega a 70 graus, garante a higienização e a sanitização do nosso produto final”, afirma Dantas,

adicionando que o produto final gerado pela compostagem pode ser condicionador de solo, composto (adubo) orgânico, substrato para mudas e fertilizante orgânico – são produtos com características muito semelhantes, diferenciados principalmente pelo seu uso final. As 300 toneladas de lodo, em média, enviadas pela concessionária de esgoto viram 120 toneladas após a decomposição feita pelo processo de compostagem.

É esse produto final que é comercializado, como adubo, para a produção agrícola. No caso da Organosolo, 90% vai para a agricultura, principalmente para produtores rurais da Região Serrana do Rio, da Baixada Fluminense, da Zona da Mata mineira e do Espírito Santo.

“Aquela área da Região Serrana, esse cinturão verde da serra de Teresópolis e Nova Friburgo são grandes produtores de legumes, verduras e folhosas. Se você come um alface no Rio, certamente está comendo um alface cultivado em Teresópolis e região”, conta Francisco Dantas.

O adubo orgânico a partir do lodo do esgoto do Rio também serve a produção de abacaxi, café e gengibre de agricultores mineiros e capixabas.

O desafio do saneamento na Zona Oeste

Vencedora da concessão para prestar serviços de saneamento básico na Zona Oeste do Rio de Janeiro, a Iguá tem como meta estabelecida em contrato que a cobertura de esgoto deve chegar a 90% em 12 anos – o edital afirma que hoje essa cobertura está em 70%.

“Nós ainda estamos fazendo um mapeamento da região, da vazão de esgoto produzida e toda a modelagem da ETE Barra”, explica Ícaro Maltha.

Essa área da Zona Oeste ocupa quase um terço do território da capital fluminense, onde moram cerca de 1,2 milhão de pessoas – uma região plana, com muitas favelas e muitas comunidades espalhadas ao longo das lagoas e canais.

Pelo contrato, a concessionária deve investir, em 35 anos, R$ 2,1 bilhões no Rio de Janeiro – além dos 18 bairros da Zona Oeste da capital, a Iguá também ficou responsável pelos municípios de Paty do Alferes e Miguel Pereira que, juntos, têm pouco mais de 50 mil habitantes. O maior desafio é a capital onde a Iguá deve destinar 300 milhões para a expansão da rede de esgotamento sanitário nas áreas irregulares não-urbanizadas para melhorar – em muitos casos, instalar – os sistemas de água e esgoto.

No processo para alcançar a cobertura de 90% da cobertura do esgotamento sanitário, a concessionária prevê o aumento natural do esgoto destinado à ETE Barra da Tijuca, que será adequada para receber e tratar todo esse volume.

“Conforme aumente o volume de esgoto, vai aumentar também o lodo produzido. E ele continuará sem 100% destinado à compostagem dentro do nosso compromisso com a redução dos impactos ambientais da nossa operação”, assegura Maltha.

Francisco Dantas, da Organosolo, destaca que, com o Marco Legal do Saneamento, aprovado em 2020, foram criadas novas também para os compostos orgânicos.

“É muito importante que essas empresas de saneamento tenham essa preocupação de dar um destino adequado e ambientalmente correto aos resíduos. O planeta agradece”, afirma o sócio-diretor da empresa, que já tinha grandes indústrias como seus principais parceiros e hoje, após o novo Marco Legal, também atende a outras concessionárias de serviços de saneamento.

Fonte: COLABORA


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