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COP27: evento no Egito será oportunidade para priorizar demandas de países africanos e sobre justiça climática

COP 27 Egito 

Responsável pela menor fatia de emissões de gases de efeito estufa, continente africano é um dos mais vulneráveis à mudança do clima

COP 27 Egito Foto: Getty Images

COP 27 Egito – Em novembro deste ano, a realização da COP27 em Sharm el-Sheikh, no Egito, marcará a quinta vez que uma edição da Conferência das Partes, a reunião do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), será realizada em um país do continente africano.

O último encontro na região aconteceu há seis anos em Marrakech, no Marrocos, na edição da COP22. O endereço do evento deste ano coincidiu com temas que estão cada vez mais presentes nas discussões sobre o enfrentamento à mudança do clima: a justiça climática e a necessidade de apoio para adaptação aos países em desenvolvimento.

No caso do Egito, cerca de 96% do território do país corresponde a áreas de deserto. Com uma população de mais de 100 milhões de cidadãos – como base de comparação, o Brasil tem mais de 210 milhões de habitantes –, as pessoas vivem, principalmente, ao longo do rio Nilo, um dos mais extensos do planeta. O país tornou-se o mais populoso no mundo árabe e a taxa de crescimento demográfico é de 2% ao ano. A tendência em meio a um contexto de insegurança hídrica e alimentar demonstra como o Egito é um país vulnerável aos efeitos da mudança do clima.

De acordo com o arqueólogo e professor de arqueologia egípcia na Universidade de Cambridge Rennan Lemos, o tema das mudanças climáticas está no centro e na essência da civilização egípcia.

“O Egito está passando por grandes desafios, sobretudo em relação ao acesso à água. Há projetos de represas ao longo do Nilo desde a década de 1950 e eles afetam o país de maneira muito forte. O acesso à água é a principal questão que o Egito terá que enfrentar, além da expansão do deserto e do aquecimento global”, disse Lemos.

Em maio deste ano, o país lançou a Estratégia Nacional para a Mudança do Clima para 2050. De acordo com o documento, “o Egito está comprometido a entregar sua parcela justa de ação climática como parte da ação global para abordar as mudanças climáticas. No entanto, dada a alta vulnerabilidade do Egito às mudanças climáticas, adaptar-se aos impactos adversos das mudanças climáticas é uma necessidade imperativa”.

Ainda, a publicação reitera que a estratégia “coloca a qualidade de vida do cidadão egípcio como prioridade, onde a visão é: enfrentar efetivamente os impactos das mudanças climáticas, o que contribui para melhorar a qualidade de vida do cidadão egípcio, alcançar o desenvolvimento sustentável e o crescimento econômico sustentável, preservando os recursos naturais e os ecossistemas e fortalecendo a liderança do Egito em nível internacional no campo das mudanças climáticas”.

Segundo a ONU, a África contribuiu com apenas 2% a 3% das emissões globais de gases de efeito estufa. Ao mesmo tempo, o continente é um dos mais vulneráveis às consequências do aquecimento global. De acordo com o relatório mais recente do IPCC, “a variabilidade extrema recente nas chuvas e na descarga dos rios em toda a África teve impactos amplamente negativos e multissetoriais em setores dependentes da água. As mudanças projetadas apresentam riscos transversais elevados para os setores dependentes da água e exigem planejamento sob profunda incerteza para a ampla gama de extremos esperados no futuro”.


 

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Além disso, com relação à produção de alimentos, o documento destacou que “o crescimento da produtividade agrícola foi reduzido em 34% desde 1961 devido às mudanças climáticas, mais do que em qualquer outra região. O aquecimento futuro afetará negativamente os sistemas alimentares na África, encurtando as estações de cultivo e aumentando o estresse hídrico”.

De acordo com o físico e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) Paulo Artaxo, as mudanças climáticas estão trazendo alterações muito profundas no padrão de chuvas ao redor do mundo como um todo.

“Regiões no centro dos Estados Unidos estão sofrendo a pior seca dos últimos três anos de todo este século. A África é outro continente vulnerável, e o Brasil central também”, disse. Segundo Artaxo, da mesma maneira como a seca quebrou as safras agrícolas no Brasil e aumentou a conta de luz em 2021, os mesmos padrões aconteceram no norte da África. “A região é densamente povoada e pode trazer um problema humanitário de grande porte, do ponto de vista de fome e de falta de alimentos”, afirmou.

Para o físico e professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE) Alexandre Araújo Costa, ainda há dúvidas sobre o contexto geopolítico para a COP27. Há um grau de tensão internacional elevado, com a guerra na Ucrânia, por exemplo, que não contribui com as discussões mais favoráveis ao Sul Global.

“Além disso, o Brasil tinha um papel positivo nas negociações e hoje não tem. Embora, no geral, tenhamos o contexto de COP na África, com abertura para os temas sobre justiça climática, há um receio de que a pauta seja anulada pelas questões geopolíticas”, afirmou.

Um exemplo de reassentamento interno é o que ocorreu com o povo Núbio no Egito na década de 1960. Com a justificativa de construção da Represa de Assuã no sul do país, o governo removeu cerca de 135 mil núbios que viviam em 44 vilas residenciais de frente para o Lago Nasser. As pessoas foram levadas a uma região árida e imprópria para a agricultura.

“É um sofrimento muito grande até hoje. Eles lutam para manter viva a sua cultura. Ao mesmo tempo, eles ensinam uma lição sobre adaptação e resiliência”, disse Lemos. “Estamos na beira do colapso. Muita gente vai ser empurrada para fora dos lugares onde vivem tradicionalmente. As populações que sempre enfrentaram dificuldades imensas ensinam sobre resiliência e sobre manter vivo o que importa”.

fonte: umsoplaneta


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