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Desafios na setorização do sistema de abastecimento de água costa norte em Florianópolis/SC para controle e redução de perdas

Resumo

O controle de perdas por meio da criação de distritos de medição e controle (DMC) requer investimentos e esforços significativos, tanto a curto prazo, para o planejamento e implementação das ações, como a longo prazo, monitorar e controlar o sistema em termos de funcionamento, análise de dados e agilidade na localização e conserto de vazamentos. Este estudo teve como objetivo setorizar o Sistema de Abastecimento de Água Costa Norte, em Florianópolis/SC, a fim de controlar e reduzir as perdas neste SAA. Nessa primeira etapa foram propostos 8 DMC: 1- Ratones, 2 – Daniela, 3 – Praia Brava, 4 – Vargem Pequena, 5 – Praia do Forte, 6 – Cachoeira do Bom Jesus, 7 – Lagoinha e 8 – Santinho, sendo acompanhados atualmente os DMC 1 a 4. O DMC 1 apresenta constantes vazamentos, possivelmente por falta de qualidade de execução durante a obra da adutora principal do bairro. O DMC 7 registra as vazões fornecidas a este setor e ao DMC 3. Através do monitoramento diário, foram observadas vazões similares nestes DMC e constatada manobra de registro sem autorização, que desfez a delimitação hidráulica do DMC 7, um dos principais problemas detectados no monitoramento e controle de setores operacionais. Foi também criada equipe de busca por vazamentos ocultos, cujo trabalho teve início no DMC 4, devido as vazões mínimas noturnas ficarem próximas as vazões máximos diárias. A principal ação realizada foi a substituição de um trecho de rede que se encontrava em terrenos particulares e áreas pantanosas, inviabilizando o geofonamento. Durante a execução foram encontradas ligações clandestinas, cortadas durante o procedimento. Depois da substituição de rede, as vazões mínimas noturnas reduziram de 7,26 para 3,21 l/s, mas ainda são necessárias fiscalizações comerciais. Por meio do cálculo de indicadores de desempenho do SNIS, foi observado um maior consumo de água na temporada de verão. Destaca-se o DMC 3, que em janeiro/2017 apresentou o ID IN022 e IN053 iguais a 158,7 l/hab.dia e 19,7 m³/mês/economia, respectivamente, e no mês de março valores 43% menores. Em relação a perdas de água o DMC 4 foi o setor que apresentou os maiores valores para os IDs IN049, IN050 e IN051 iguais a 52,8%, 24,5 m³/dia.km e 636,1 litros/dia/ligação, nessa ordem, em abril/2017. Outro fator interessante é que o DMC 3 apresenta um ID IN051 de 5 a 16 vezes maior que os outros setores, devido à proporção entre o número de ligações e economias ser significativa, comparado a outros setores. É importante sempre observar o contexto de cada DMC e não avaliar um ID isoladamente para evitar interpretações errôneas.

Introdução

A necessidade pela prestação de um serviço eficiente e de qualidade é critério básico no atual cenário mundial, tendo em vista o aumento da demanda de água e a crise hídrica em muitos países (KUSTERKO, ENSSLIN; ENSSLIN, 2015). Diante disso, a gestão de perdas em sistemas de abastecimento se mostra relevante a todos os serviços de água (KUSTERKO et al, 2018). Mutikanga et al. (2010, p. 471) percebem que este problema é mais acentuado nos países em desenvolvimento, com infraestrutura envelhecida e recursos inadequados para uma gestão de ativos eficaz.

De acordo com Mutikanga, Sharma e Vairavamoorthy (2013), existem diferenças no foco das perdas em cada país. Geralmente países mais desenvolvidos têm focado em controle de vazamentos, enquanto países menos desenvolvidos se preocupam com perdas aparentes. Quanto às perdas reais, cabe às empresas de saneamento investir em manutenção preventiva, controle de qualidade de obras e materiais, agilidade e priorização no conserto de vazamento, busca por vazamentos invisíveis, modernização de equipamentos, capacitação de equipes, manutenção preventiva, dentre outros (LAMBERT, 2000, MUTIKANGA; SHARMA; VAIRAVAMOORTHY, 2011a, 2011b, MARQUES; MONTEIRO, 2003).

Para Lambert (2000), métodos de avaliação das perdas reais, além de balanços hídricos, incluem: análise vazões noturnas; registros de vazamentos quanto ao número, tipos, suas vazões médias e durações e; modelagem que permitam simular os acontecimentos de vazamento e pressão.

Uma gestão ativa para controle de perdas de água só é possível utilizando a setorização, em que o sistema como um todo é dividido em diversos subsistemas em que as perdas de água podem ser calculadas individualmente. Estes subsistemas, denominados de distritos de medição e controle (DMC), devem ser hidraulicamente isolados de modo que seja possível calcular o volume de água não faturado dentro do DMC. Utilizar a setorização permite aos operadores de rede gerenciar o sistema de forma mais eficaz em termos de controle de pressão, qualidade da água e quantificar a água não faturada (FARLEY et al., 2008).

A abordagem tradicional de controle de vazamentos é passiva, são reparados vazamentos apenas quando se tornam visíveis. O desenvolvimento de instrumentos acústicos melhorou significativamente esta situação, permitindo a localização de vazamentos invisíveis. Entretanto, a utilização desses equipamentos em toda a rede é uma atividade que demanda investimentos elevados e tempo. A criação de DMC faz-se necessária, otimizando o tempo e os investimentos nos setores com maiores necessidades. Para esta escolha é utilizado o método das vazões mínimas noturnas (ALEGRE et al., 2004).

Como forma de avaliar o nível de serviço de uma empresa de saneamento, Alegre et. al. (2004) aponta a utilização de indicadores de desempenho (ID), sendo esses um instrumento de apoio, de uma forma mais simplificada, do monitoramento da eficiência e da eficácia da empresa. Silva (2003) acrescenta que os ID permite um ganho rápido em sensibilidade provendo meios unificados de diagnóstico, sendo uma valiosa ajuda para planejar, operar e reabilitar sistemas de distribuição de água.

As informações contidas no indicador de desempenho, inevitavelmente, fornecem uma visão parcial da realidade da gestão da empresa, não incorporando toda a sua complexidade. Assim, o seu uso descontextualizado pode levar a interpretações errôneas. A análise de indicadores deve ser sempre associada a um contexto com conhecimento de causa e das características mais relevantes do sistema e da região (ALEGRE et al., 2004). Soares, Dalsasso e Trennepohl (2015) ressalvam em seu trabalho a importância da utilização dos ID na comparação entre setores e outras empresas no diagnóstico da gestão de uma empresa de saneamento ao longo do tempo.

Este estudo teve como objetivo a setorização do Sistema de Abastecimento de Água Costa Norte, em Florianópolis/SC. Como objetivos específicos, pretendeu-se: avaliar as condições técnicas e operacionais para implantação da setorização e dificuldades encontradas; monitoramento dos dados dos DMC criados; redução das vazões mínimas noturnas através de busca por vazamentos ocultos e análise de indicadores de desempenho.

Autores: Andréia Senna Soares; Sheila Karoline Kusterko; Rodrigo Henrique e Joana Andreazza Claudino dos Santos.

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