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Avaliação técnico-econômica do reuso de efluentes em indústria metal-mecânica

Resumo

O rápido desenvolvimento do setor industrial é motivo de preocupação quando relacionado ao uso da água e descarte de efluentes. Em face à atual crise hídrica e às mudanças climáticas, há uma grande responsabilidade por parte das indústrias para o tratamento eficiente e reutilização do efluente. As indústrias do setor metal-mecânico são responsáveis por uma grande quantidade de efluentes gerados, com potencial poluidor ao meio ambiente devido à presença de metais tóxicos. Além de ser fundamental o devido tratamento, o reuso é essencial por preservar os recursos ambientais diminuindo o consumo de água dos processos de fabricação. Apesar da existência de técnicas e equipamentos avançados de tratamento de efluentes, existe uma resistência empresarial, na sua utilização, baseada no custo econômico, fator de desestímulo da prática de reuso. Isto limita as opções de tratamento às técnicas mais comuns, sendo imperativo o aperfeiçoamento dos processos de tratamento existentes nas unidades industriais. Dessa forma, este trabalho teve como objetivo estudar a viabilidade técnica e econômica da reutilização de efluentes em uma indústria do setor metal-mecânico. Foi possível identificar equívocos no processo de tratamento e na dosagem de produtos químicos, o que impossibilitava a reutilização do efluente final. O aperfeiçoamento foi realizado através da identificação da composição química do efluente e testes em escala laboratorial e industrial. Com a nova metodologia proposta, foi constatada a redução de 50,96% nos custos com o processo de tratamento de efluentes sem a necessidade de novos investimentos. Também foram constatadas melhorias na condição de trabalho do operador, uma vez que o tratamento se dá de forma mais rápida e eficiente. A partir das intervenções para o aperfeiçoamento do processo, os parâmetros de qualidade do efluente tratado atingiram os padrões para reuso em descargas sanitárias e lavagens de pisos. Dessa forma, este trabalho promoveu ganhos ambientais, sociais e econômicos para a indústria e a sociedade envolvida.

Introdução

Atualmente, a água, recurso essencial para qualquer fonte de vida, tem sido utilizada e dispensada de forma inadequada por muitas indústrias. É comum se deparar com empresas que desperdiçam seus efluentes ao invés de tratá-los e reutilizá-los visando melhorias econômicas e ambientais.

Apesar de abundante, segundo Brito, a água doce corresponde a apenas 2,5% de toda a água do mundo. Dessa pequena parcela 68,9% está na forma de geleiras e calotas polares, 29,9% estão presentes como água subterrânea e 0,9% como umidade de solos e pântanos, impossibilitando o consumo humano. Assim sendo, todas as necessidades do homem e dos ecossistemas dependem de 0,3% de água doce disponível no planeta, ou seja, de fácil acesso sem que sejam necessários grandes investimentos ou tratamentos para sua utilização comum.

O Brasil pode ser considerado como um país privilegiado quanto ao volume de recursos hídricos disponíveis, já que possui cerca de 13,7% de toda a água doce do mundo. Por outro lado, o país registra elevado desperdício, podendo chegar até 60% de perda da água tratada para consumo durante a sua distribuição, condições de conservação e desperdício humano causado pela não conscientização e má utilização desse recurso.

Após o setor agrícola, o setor industrial é um dos maiores usuários de água (Figura 2), consumindo cerca de 5% a 10% das retiradas de águas globais. Isto ocorre porque este setor necessita de água em grandes quantidades e em diversas atividades, desde a incorporação ao produto até a lavagens de materiais, equipamentos, instalações, geração de vapor e sistemas de refrigeração.

Dependendo do ramo industrial, as águas resultantes dos processos de produção, chamadas de efluentes industriais, podem conter além de impurezas, substâncias tóxicas, como por exemplo os metais pesados que são de grande risco à saúde.

No setor metal-mecânico, o uso de água nos processos de produção industrial resulta em efluentes contendo metais tóxicos que, ao serem lançados nos corpos hídricos e solos sem o devido tratamento, comprometem a qualidade do ambiente. A diversidade e variedade da composição dos efluentes desse ramo industrial, por possuírem altas concentrações de óleos e elementos metálicos dissolvidos, são obstáculos para o seu tratamento adequado. Assim, coloca esse setor como um dos grandes responsáveis por despejos impactantes, já que possui grande quantidade de efluente para gerenciar de forma a não comprometer o meio ambiente e a sociedade.

Uma das formas de minimizar e controlar esse impacto se dá através do tratamento eficiente, que deve ser projetado de acordo com as características do efluente. A escolha da metodologia de tratamento a ser utilizada, depende da qualidade do efluente final almejado e dos compostos que se deseja remover.

Além da eficiência do tratamento de efluentes da planta industrial, é imprescindível o reuso do efluente tratado para prevenção ambiental. Ao discutir o tratamento para a reutilização, o objetivo principal é alcançar a qualidade que seja apropriada para o uso pretendido e que proteja a saúde humana e o meio ambiente. Os objetivos secundários estão diretamente ligados à aplicação final, e podem incluir objetivos estéticos (por exemplo, tratamento adicional para a cor ou a redução de odores) ou requisitos específicos de usuários (por exemplo, redução de concentração de sal ou reutilização industrial.

O reuso de efluentes é visto hoje como algo essencial para atender toda a demanda urbana e industrial crescente e preservar recursos finitos do meio ambiente. Traz inúmeros benefícios, entre eles: a melhoria da produção agrícola, redução do consumo de energia associada à produção, prevenção de escassez de água, proteção de recursos ambientais, conscientização ambiental, entre outros (7). Além disso, conservar, reciclar e reutilizar efluentes é uma alternativa de reduzir custos operacionais da empresa. “É necessário considerar medidas que propiciem um melhor aproveitamento das fontes disponíveis de água, as quais podem ser obtidas através da otimização do uso (eliminando perdas) e por meio de programas de conscientização”.

De um modo geral, as indústrias possuem um planejamento para que o tratamento de efluentes seja eficiente. Porém, muitas vezes, a questão ambiental é deixada em segundo plano devido às dificuldades econômicas que envolvem os investimentos necessários para o adequado tratamento.

Apesar da existência de técnicas avançadas para o tratamento eficiente de efluentes industriais, é observado na prática que parte significativa das empresas, abrangendo até mesmo as de grande porte e multinacionais, investem somente o mínimo necessário para estarem dentro dos padrões de qualidade determinados pelos órgãos ambientais. Mesmo que a modernização resulte em maior conforto, segurança e agregue o conceito de sustentabilidade, o fator econômico é determinante. A recomendação gerencial é de se fazer o máximo, utilizando o mínimo de recursos financeiros, ou seja, aperfeiçoar o processo sem gastos adicionais.

Dessa forma, este trabalho visa estudar a viabilidade técnica e econômica do processo de tratamento e reuso de efluentes de uma indústria metal-mecânica, com o intuito de aperfeiçoar o tratamento de efluentes com o menor custo associado. Nesse contexto, o estudo proposto se torna essencial, uma vez que discute as dificuldades encontradas dentro das indústrias por profissionais da área acadêmica na implantação, controle e aperfeiçoamento de técnicas ideais para tratamento de efluentes. Para isso, foram necessários o estudo e a adequação do modelo da planta de tratamento industrial existente, sem a possibilidade de novos investimentos, e a redução dos custos já inseridos no processo, para que os objetivos da indústria fossem alcançados de forma viável.

Autora: Marcela Grandinetti Marques.

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