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Como a restauração florestal pode reduzir o custo do tratamento de água em São Paulo

A restauração florestal na bacia do Cantareira pode ser uma boa estratégia para enfrentar crises e melhorar a qualidade da água de São Paulo.

Restauração florestal Cantareira

A região metropolitana de São Paulo enfrentou uma crise hídrica severa em 2014-2015.

Essa crise, no entanto, pode se repetir: com os efeitos das mudanças climáticas, o clima de São Paulo pode ficar ainda mais extremo, com enchentes e secas se revezando e comprometendo o abastecimento.

A principal estratégia para lidar com essas crises tem sido o investimento em infraestrutura convencional, como a construção de canais e reservatórios.

Uma série de estudos vêm mostrando que essas obras têm muito a ganhar se, junto com elas, os tomadores de decisão investirem também em infraestrutura natural, como as florestas.

Um relatório publicado em setembro de 2018 calculou quanto custa investir em plantar florestas na bacia do Cantareira e qual seria o benefício desse investimento, mostrando que a restauração florestal pode ser uma boa estratégia para enfrentar crises e melhorar a qualidade da água de São Paulo.

Não só isso: o estudo mostra que plantar florestas também faz sentido do ponto de vista econômico.

A abordagem inovadora do estudo “Infraestrutura Natural no Sistema Hídrico de São Paulo” foi fazer para a infraestrutura natural os mesmos cálculos que empresas de saneamento fazem quando querem saber o retorno de seus investimentos em obras de infraestrutura convencional.

Para fazer isso, o relatório olhou para um horizonte de 30 anos, o mesmo usado para obras como criação de reservatórios, aplicou taxas de desconto para calcular a inflação e o risco financeiro, e avaliou custos, despesas e lucros, como manda qualquer bom projeto convencional.

O resultado foi surpreendente. Segundo o estudo, a restauração de 4 mil hectares de florestas em áreas prioritárias na bacia do Cantareira consegue reduzir em até 36% o aporte de sedimentos, como sujeira e terra, nos rios que correm para os reservatórios.

Com menos sedimentos entrando nos reservatórios, a empresa de saneamento gasta menos com a limpeza da água.

Não são necessárias tantas operações de dragagem nos rios, por exemplo, e a empresa pode usar uma quantidade menor de produtos químicos para tratar a água.

Ao longo de trinta anos, essa redução de gastos representa uma economia de US$ 69 milhões – ou, na linguagem dos investidores, um retorno de investimento de 28%, compatível com obras de infraestrutura tradicional do setor de abastecimento.

O trabalho foi desenvolvido pelo WRI Brasil e pelo escritório internacional do WRI, em parceria com a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, The Nature Conservancy (TNC), Fundação FEMSA, União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), Instituto BioAtlântica (IBio) e Natural Capital Coalition.

Área de pastagem na bacia do Sistema Cantareira

Pastagem degradada na região do Cantareira. A restauração de 4 mil hectares prioritários em locais onde hoje são pastagens pode melhorar a qualidade da água em São Paulo (Foto: Erik Lopes/TNC

Benefícios reais para a sociedade

O relatório analisou apenas um benefício da restauração de florestas – o quanto ela melhora a qualidade da água que será abastecida nos grandes centros.

Mas plantar florestas gera outros inúmeros serviços para a população. Por exemplo, as florestas têm papel importante em mitigar e minimizar os efeitos das mudanças climáticas. Árvores sequestram carbono da atmosfera, contribuindo na redução da concentração de gases de efeito estufa e, portanto, limitando o aquecimento global.

Além disso, são uma estratégia eficiente para adaptação a um clima mais extremos, já que os ambientes naturais tornam o sistema de abastecimento de água mais seguro e resiliente. Isso sem falar em outros serviços ambientais, como conservação da biodiversidade ou a melhora da qualidade do ar.

Esses benefícios estão tão evidentes que 45 cidades do mundo se uniram na iniciativa Cities4Forests, comprometendo-se a proteger, gerenciar e restaurar florestas em três escalas: florestas internas, próximas e distantes. São Paulo é uma dessas cidades.

Cálculos para outras cidades

A metodologia usada para a Cantareira, chamada “Análise de investimentos em infraestrutura natural”, já foi aplicada em outras cidades do mundo, especialmente nos Estados Unidos, como Denver e Portland. No Brasil, no entanto, ela é inédita. Os próximos passos é aplicar o método em outros sistemas de abastecimento. O WRI Brasil publicará, nos próximos meses, análises como essa para os sistemas de abastecimento do Rio de Janeiro e de Vitória.

O uso dessas análise pode ajudar empresas de saneamento e tomadores de decisão a melhor planejar os sistemas de abastecimento. Mesclando infraestruturas natural e convencional, é possível abastecer os grandes centros urbanos, reduzir custos e conservar florestas.

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