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Quebrando paradigmas no setor de águas e efluentes

Antes de mais nada, vamos à definição de “paradigma”: do grego “parádeigma”, se traduz literalmente por “padrão” ou “modelo”. É a representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização científica com métodos e valores que são concebidos como modelo.

Pois bem, quebrar paradigmas não é por si só uma prática boa ou ruim, mas deixar de analisar a possibilidade de fazê-lo, aí sim, podemos afirmar que é muito ruim. Isso porque podemos estar agindo por comodismo, por receio de correr riscos, ou por reconhecida falta de capacidade para inovar, atualizar, criar ou simplesmente, corrigir.

Meu objetivo neste artigo é convidá-los à reflexão sobre paradigmas típicos do nosso setor de águas e efluentes. Vamos a alguns deles:

1) O controle operacional de um sistema de tratamento biológico de efluentes se faz pelas análises físico-químicas de entrada e saída.

Sem dúvida, parâmetros como DBO, DQO, nitrogênio, sólidos suspensos, sólidos voláteis e outros são importantes e devem sim ser analisados. No entanto, o verdadeiro controle operacional de um sistema de tratamento biológico exige o conhecimento da vida microbiana que está ali (bactérias, rotíferos, protozoários etc.), já que são estes organismos que fazem efetivamente o trabalho da depuração da matéria orgânica. São raros os sistemas em operação hoje (não só no Brasil), onde se faz um controle detalhado da vida microbiana para se obter o melhor rendimento do sistema.

2) O controle operacional de um sistema de desmineralização de água por membranas de osmose reversa se faz pelo monitoramento do SDI (silt density index).

Sim, esse parâmetro não só é importante como é mencionado nos termos de garantia de todos os fabricantes de membranas que, em geral, especificam o valor máximo de 3,0. Esse índice é um número puro e representa a capacidade de colmatação de uma água por elementos coloidais. Ou seja, para um SDI maior que 3,0, a probabilidade de entupimento prematuro é maior. No entanto, já sabemos que o pior tipo de colmatação de uma membrana é o que chamamos de “bio-fouling”. Trata-se da formação de colônias bacterianas que se desenvolvem nas membranas e isso se dá pela presença de compostos orgânicos denominados “biodisponíveis”, ou seja, que podem ser assimilados pelas bactérias e permitem a sua multiplicação. O problema é que isso pode acontecer numa água com SDI menor que 3,0, já que são compostos solúveis.

É por isso que não basta monitorar o SDI. Temos que verificar também a concentração de compostos orgânicos dissolvidos na água com o monitoramento, por exemplo, da TOC (concentração de carbono orgânico total). Ou seja, os planos de manutenção das membranas requerem muito mais cuidados do que a simples dosagem de uma solução anti-incrustante. Deve-se estudar a aplicação correta de soluções biocidas e programar limpezas químicas (ácida e alcalina) periódicas.

3) Sistemas de tratamento de água e efluentes por membranas de ultrafiltração não se aplicam ao setor municipal (saneamento básico).

Apesar de já existirem inúmeras aplicações de ultra-filtração em diversas partes do mundo tanto para água potável como para esgotos domésticos, ainda há, principalmente no Brasil, uma impressão generalizada de que são sistemas economicamente inviáveis. Pois bem, a SANASA (companhia de saneamento de Campinas – SP) acaba de assinar contrato para execução da primeira fase de um “MBR” (bio-reator a membranas) para tratar cerca de 600 m³/h de esgotos domésticos. O projeto completo é da ordem de 2.500 m³/h. Além de ser uma implantação de custo competitivo frente aos sistemas tradicionais, principalmente por ter muito menos volume de concreto lançado, permite ao órgão negociar esse efluente tratado com empresas da região, já que a qualidade esperada de saída é muito superior e permite a sua aplicação como água industrial.

4) Devemos sempre buscar o menor preço para implantação de um sistema de tratamento de água ou efluente.

A afirmação é válida se você souber entender e diferenciar o que é “menor” preço e o que é “melhor” preço. Em primeiro lugar, deve-se fazer o que chamamos de “equalização técnica”, ou seja, verificar se todos os fornecedores estão seguindo as mesmas especificações técnicas, os mesmos quantitativos e oferecendo as mesmas garantias. Em segundo lugar, assim como é muito importante avaliar os “custos de aquisição”, também é preciso avaliar os “custos de operação e manutenção” de cada alternativa. Se você comprar, por exemplo, um equipamento importado mais barato mas que não te ofereça condições de manutenção rápida e economicamente aceitável, você certamente errou na decisão. Uma compra técnica não pode ser simplista e precisa seguir roteiros rigorosos de qualificação.

Pessoal, estes foram apenas alguns exemplos para uma breve reflexão. Fiquem atentos no seu dia-a-dia para os paradigmas que nascem como sinônimos de “experiência” e acabam por engessar, principalmente, a nossa criatividade. Façam uma autoanálise e tentem identificar se estão sendo reativos a novos conceitos, idéias e possibilidades.

Eng. Eduardo Pacheco

Diretor Técnico do Portal www.tratamentodeagua.com.br e Technical Manager da Divisão “IWM – Integrated Water Management” da NALCO para América Latina

http://www.meiofiltrante.com.br/

 

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