A ciência comprova: produção de biocombustíveis e de alimentos crescem juntas
A academia e o setor industrial reuniram um compilado de estudos internacionais que demonstram de forma inequívoca que não há concorrência entre a produção de alimentos e a de biocombustíveis
O que ocorre é exatamente o contrário. A pesquisa avaliou uma vasta literatura sobre o tema e, ao comparar artigos científicos por meio de análise estatística, descobriu que as correlações com a segurança alimentar se baseiam em modelagens, sem considerar, na prática, o que acontece no campo da agricultura, nem observar os dados reais.
O trabalho foi liderado pela professora da USP e coordenadora do programa de Pesquisa em Bioenergia Fapesp, além de líder da Força-Tarefa de Descarbonização do Transporte com Biocombustíveis da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), Glaucia Souza. Para esclarecer essa falsa percepção de competição, a professora apresentou o modelo das práticas da agricultura brasileira que muitos países não conhecem.
O compilado de mais de 80 pesquisas científicas foi apresentado em um evento paralelo às reuniões da Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês). Onde se discutiu mecanismos para a descarbonização de navios no horizonte até 2050. A iniciativa contou com apoio da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (APROBIO).
- LEIA TAMBÉM: SOLUÇÕES PARA O SETOR DE BIOCOMBUSTÍVEIS E ETANOL
Biocombustíveis e Transição Justa
O estudo nasceu durante o G20, no ano passado. Além disso, reforça a necessidade de demonstrar que os países do Sul Global podem contribuir de maneira significativa na trajetória carbono zero líquido da navegação.
Uma consequência da análise desse documento é que fica evidente o potencial das economias emergentes em países que não produzem, mas já têm cultivo e vocação para a agricultura, de produzir biocombustíveis. Já nos países que são protagonistas nesse setor, como na região da América Latina, é possível dobrar a produção de biocombustíveis. Além disso, atender às demandas da transição energética.
O Brasil já é uma referência em produção de alimentos e de bicombustíveis. Por isso, deve crescer ainda mais nessas áreas por meio da transição energética de uma forma socialmente justa e escalável. Podemos demonstrar que todo o Cone Sul pode contribuir com a descarbonização. Por outro lado, isso se apresenta como um contraponto à defesa de rotas tecnológicas específicas que ainda não estão disponíveis em larga escala.
O nosso pleito principal é permitir que todos participem. Permitir uma transição energética em base global, em que as regras sejam globais, mas que cada região possa contribuir com o que tiver de melhor, e não simplesmente predefinir rotas tecnológicas, que apenas um grupo de indústrias possa acreditar que queira desenvolver. Sem dúvidas, devemos seguir esse caminho.
Fonte: Cana Online