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Análise da viabilidade econômica e ambiental de irrigação com água de reúso da estação de tratamento de esgoto do campus UFERSA – Caraúbas – RN

Resumo

O reúso de águas servidas é um exemplo de sustentabilidade, é importante que seja disseminado e praticado por todos, tendo em vista a diversos cenários de escassez hídrica. Em muitos países, já é comum a prática do reúso, como também na adoção de programas de conscientização e medidas específicas para a diminuição do desperdício de recursos hídricos, nada mais interessante do que aliar uma solução ambiental e que apresente economia. Sendo assim, esse trabalho objetiva estudar a viabilidade ambiental e econômica da implantação de um sistema de reuso de água para ser utilizada na irrigação, análise esta realizada na Universidade Federal Rural do Semiárido – UFERSA, Campus de Caraúbas-Rn. Para o desenvolvimento da pesquisa do modelo analítico-descritivo, foram realizadas coletas de dados primários e secundários, no intuito de avaliar a viabilidade ambiental com base nas características do efluente e na viabilidade econômica, onde foi calculado o custo de implantação e manutenção de um modelo de sistema de reuso, no intuito de avaliar o retorno do investimento, que é um indicador de viabilidade, sabendo em quanto tempo vai recuperar todo o dinheiro. Apresenta como resultado, a conclusão de que o projeto de sistema é eficaz para viabilidade, levando se consideração um curto prazo de retorno de investimento de 24 meses e tendo uma economia mensal de 4860 litros de água potável, na componente ambiental, não foi amplamente constatada em virtude de alguns parâmetros que não foram analisados.

Introdução

Fator determinante no desenvolvimento das sociedades humanas, a água é grande responsável pela maior concentração populacional ao redor de grandes rios e em regiões costeiras. O valor estimado para o volume total de água sobre a terra atinge aproximadamente 1.330 milhões de km3. No entanto, 98% são constituídos de água salgada, somente 2% é de água doce, do qual 2,7% faz referência às geleiras, vapor de água na atmosfera e a lençóis presentes em grandes profundidades, sendo que somente 0,3% do volume total de água existente no planeta pode ser aproveitada para o consumo humano (BURSZTYN, 2017).

Devido à renovação contínua da água através do ciclo hidrológico, é potencialmente inesgotável, fato que a diferencia dos outros recursos naturais, tais como petróleo, gás, carvão, etc. Todavia, a velocidade de renovação pode não estar em concordância da velocidade em que é utilizado. Em 2050, a expectativa é que a demanda hídrica mundial aumente em 55%, devido ao crescimento populacional desordenado, o aumento da demanda por água, associado às mudanças climáticas e o mau uso dos recursos hídricos, tem provocado uma ameaça global de escassez de água (UNESCO, 2018).

Em regiões áridas e semi-áridas, como o nordeste brasileiro, a água se tornou um fator limitante para o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Gestores dos recursos hídricos procuram, continuadamente, novas fontes para complementar a pequena disponibilidade hídrica ainda disponível. Logo, o conceito da substituição da fonte, apresenta uma alternativa plausível para corresponder a demandas menos restritivas, liberando as águas de melhor qualidade para usos mais nobres, como o abastecimento doméstico.

A água uma vez poluída pode ser recuperada e reusada para fins benéficos diversos. O reaproveitamento ou reúso da água é o procedimento pelo qual a água, tratada ou não, é reutilizada para a mesma finalidade ou outro fim, podendo suprir em curto prazo o uso não potável, correspondendo a uma parte considerável da demanda da população.

O reúso de água reduz a descarga de poluentes em corpos receptores, conservando os recursos hídricos potáveis para o abastecimento público, reduz os custos associados à poluição, contribui para a proteção do meio ambiente e da saúde pública, além ser instrumento eficaz de logística para garantir a sustentabilidade da gestão dos recursos hídricos nacionais (LUCENA, 2018).

A qualidade da água utilizada e o objeto específico do reúso estabelecerão os níveis de tratamento recomendados, os critérios de segurança a serem adotados e os custos de capital, operação e manutenção associados. Essa prática deve ser considerada parte de uma atividade mais abrangente que é o uso racional da água, o qual inclui também, o controle de perdas, redução do consumo de água e a minimização da geração de efluentes (MORELLI p.4, 2005 apud DA SILVA; DE SANTANA, 2014).

Os usos urbanos não potáveis envolvem menores riscos sanitários e devem ser priorizados em relação aos usos potáveis. Entre suas competências, os esgotos tratados podem ser empregados na irrigação de parques e jardins públicos, centros esportivos, campos de futebol, jardins de escolas e universidades, gramados, árvores e arbustos decorativos ao longo de avenidas e rodovias, sistemas decorativos aquáticos tais como fontes e chafarizes, espelhos e quedas d’água, descarga sanitária em banheiros públicos e em edifícios comerciais e industriais (NAKAMURA, 2017).

Os usos urbanos não potáveis envolvem menores riscos sanitários e devem ser priorizados em relação aos usos potáveis. Entre suas competências, os esgotos tratados podem ser empregados na irrigação de parques e jardins públicos, centros esportivos, campos de futebol, jardins de escolas e universidades, gramados, árvores e arbustos decorativos ao longo de avenidas e rodovias, sistemas decorativos aquáticos tais como fontes e chafarizes, espelhos e quedas d’água, descarga sanitária em banheiros públicos e em edifícios comerciais e industriais (NAKAMURA, 2017)As problemáticas atreladas ao reúso urbano não potável são, principalmente, seus custos elevados de sistemas duplos de distribuição, dificuldades operacionais e riscos potenciais de ocorrência de conexões cruzadas. Porém, deve ser considerado em relação aos benefícios de economizar água potável e de retardar ou suspender a necessidade de desenvolvimento de novos mananciais para abastecimento público (HESPANHOL et al., 2002).

O reúso já é realidade em muitos países e é aplicado principalmente para fins agrícolas, recarga de aquíferos, uso industrial e não para o abastecimento doméstico. Como exemplo, o caso de Israel, país com uma das menores disponibilidades hídricas, aproveita cerca de 80% dos esgotos domésticos na agricultura e no controle da interface marinha nos aquíferos (SANTOS; MATSURA; SANTOS, 2015).

O reaproveitamento pode ser empregado na irrigação, em usos potáveis (direto ou indireto) e não potáveis, como em usos industriais, na recarga de aquíferos ou em diversos outros fins, dependendo da qualidade e da quantidade desejada (BALASSIANO, 2018). Um exemplo é o sistema de Windhoek, na República da Namíbia, sudoeste da África, ao sul do deserto do Saara, que há décadas inclui o reúso potável em seu sistema de suprimento, sem que problemas de saúde pública associados à água potável tenham sido identificados (VAN DER MERWE et al., 2008 apud HESPANHOL, 2015).

Já existem práticas de reúso urbano sendo realizadas no Brasil, como exemplo bem sucedido, o projeto de reúso em um parque temático nas proximidades da cidade de São Paulo, onde o esgoto bruto proveniente dos sanitários, bares e restaurantes é direcionado até um tanque de homogeneização onde é submetido à aeração e em seguida, encaminhado a outro tanque que utiliza membrana de alto poder filtrante para remover as impurezas restantes gerando assim um efluente que pode ser classificado como água de reúso. Este efluente, por ter parâmetros qualitativos adequados, é utilizado pela administração do parque em tarefas onde não há necessidade do uso de água de excelente qualidade tais como: lavagem de pisos, irrigação de áreas verdes e em vasos sanitários (PHILLIPI, 2006).

Em São Paulo existe o caso da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP), em que a água de reúso é transportada por caminhões-pipa terceirizados, para ser usada em atividades secundárias, como limpeza de lixeiras, de pátios, de calçadas, jardinagem e até a lavagem dos carros (CUNHA, 2015). No nordeste brasileiro, na cidade de Natal-RN, foi construído um edifício residencial com cinco pavimentos com sistema de reaproveitamento das águas provenientes do chuveiro, lavatórios, tanques, máquinas de lavar roupa, e também as águas pluviais decorrentes das calhas, após tratamento primário, na descarga de bacias sanitárias (MOREIRA, 2001 apud CUNHA, 2015).

Quanto à legislação, o Brasil ainda não dispõe de normatização técnica específica para os sistemas de reúso, os critérios se baseiam na NBR 13969/1997 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que estabelece alguns critérios para reutilização de águas residuárias para fins não potáveis. Inclusive, há resoluções estaduais e leis municipais que regulamentam essa prática e restringem alguns parâmetros.

A nível estadual, podemos citar a Resolução COEMA nº 2 de 2017 do Estado do Ceará, essa resolução atribui condições e padrões para reúso. Entre as leis municipais, pode-se citar a Lei n° 2.856 de 2011 da cidade de Niterói-RJ e a Lei nº 4593 de 2013, da cidade de Caicó-RN. A Lei n° 2.856 de 2011 estimula à instalação de sistema de coleta e reúso de águas servidas em edificações públicas e privadas, já na Lei nº 4593 de 2013, sugere critérios e padrões de qualidade para água de reúso, que pode ser empregada em atividades de produção agrícola, fins urbanos, como irrigação paisagística, lavagem de calçadas, vias públicas pavimentadas, desobstrução de tubulações, construção civil, combate a incêndio, entre outros.

Na cidade de Caraúbas-RN, localizada no oeste potiguar, distante 300 km de Natal, ocorreu um acréscimo na economia do município, logo após a chegada ao município da Universidade Federal – UFERSA (Universidade Federal Rural do Semi- Árido) em 2010. Deu-se início a uma grande procura por parte dos estudantes a moradia, o que contribuiu para a ascensão da construção civil, e crescimento de praticamente todos os setores, com o acréscimo na demanda de serviços básicos de comércios, restaurantes, entre outros. Nesse sentido causou um déficit no abastecimento de água; a população por sua vez prejudicada, começou a adotar medidas para resolver o problema, como superdimensionando reservatórios de água para resistirem aos períodos de não abastecimento.

Tendo em vista essa carência ao município, os moradores da cidade estimam pelo racionamento. Quando o abastecimento é normalizado, a população utiliza reservatórios e tanques para armazenar água no receio de que volte a faltar. Essa situação ocorre com frequência, tendo que por muitas vezes a população a contratação do serviço de carros pipa, serviço muito comum na região, ou para aqueles que possuem melhor condição de vida, contratam empresas de perfuração de poços artesianos, que em muitos casos ocorre de forma ilegal, pois o poço deveria ser cedido para a empresa que tem o direito legal de explorar e distribuir tal recurso.

O objetivo primordial da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) em questão é reduzir a concentração de sólidos em suspensão, material orgânico biodegradável e os organismos patogênicos. A remoção de nutrientes não será contemplada no tratamento. O referido sistema propõe-se a remover entre 85-95% de matéria carbonácea e sólidos em suspensão, bem como a eliminação dos organismos patogênicos por meio da desinfecção com cloro, permitindo a disposição final ou reuso do efluente tratado (A&E, 2005). Nos dados apresentados no trabalho de Costa (2017), pode-se observar as características do efluente final, em detrimento das diretrizes e suas limitações.

Os edifícios escolares em geral, possuem características interessantes para a implantação de sistemas prediais de aproveitamento das águas de reúso para usos não potáveis, pois geralmente apresentam grande consumo de água. Para a implantação desses sistemas, são necessários estudos de viabilidade técnica e econômica, que verifiquem o potencial de economia de água potável e determinem a relação entre custo e benefício (SCHERER, 2003 apud BRAGA, 2017).

No caso, a UFERSA seria lugar interessante para implementar o sistema de reúso, uma vez que há uma vazão considerável de efluente sendo lançada ao solo natural nas proximidades da ETE, aumentando assim, as chances de contaminação do lençol freático e o solo da região de Caraúbas. Já com o reúso desse recurso, poderia ser evitada essa problemática, como evitar desperdícios.

Portanto, este trabalho tem como objetivo verificar a viabilidade ambiental e econômica de irrigação com água de reúso da ETE da UFERSA. Nesse sentido, o reúso de águas residuárias atua como forma de reduzir o consumo de água potável e, consequentemente, a redução de custos. Além disso, essa prática contribui positivamente para a sustentabilidade ambiental.

Autores: Antonio Rogério Bezerra Pinho Sobrinho e Ana Cláudia Araújo Fernandes.

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