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Gestão das perdas de água e energia em sistemas de abastecimento de água da embasa: um estudo dos fatores intervenientes na RMS

Resumo

No Brasil, apesar das experiências de diversos programas e projetos para o controle das perdas de água e de eficiência energética, os prestadores de serviços públicos de abastecimento de água e de esgotamento sanitário ainda apresentam números elevados em relação aos padrões internacionais de países desenvolvidos. A Embasa como um dos principais prestadores de serviços públicos do País, também apresenta essa dura realidade, principalmente considerando os seus grandes centros urbanos, e, em especial, Salvador, a capital do estado. A presente pesquisa objetivou analisar os fatores técnicos, operacionais, administrativos e gerenciais que têm influenciado na efetividade da gestão das perdas de água e energia em sistemas de abastecimento operados pela Embasa na RMS. A investigação foi guiada por um marco conceitual de referência que possibilitou a identificação de seis categorias analíticas, a saber: fatores técnicos, operacionais, administrativos, gerenciais, ambientais e sociais. Para cada categoria foram identificadas variáveis capazes de auxiliar no estudo dos fenômenos da gestão eficiente da água e energia. Para o desenvolvimento da presente pesquisa foram utilizadas técnicas de investigação tanto qualitativas como quantitativas, valendo-se das possibilidades da triangulação de informações e dados que esse procedimento possibilita. A análise documental dos programas de controle de perdas de água e eficiência energética já implementados pela Embasa na RMS permitiu entender as ações planejadas ao longo do tempo e seus reflexos na gestão das perdas. Foram avaliados durante o período de 1996-2011 todos os programas e projetos para controle das perdas de água desenvolvidos para a Região Metropolitana de Salvador e, também, o programa de eficientização energética da Estação Elevatória Teodoro Sampaio/R1 Duna. Foi avaliado o planejamento estratégico da Embasa e verificado os objetivos, metas, indicadores e iniciativas estratégicas de curto, médio e longo prazos que levem a redução gradativa e contínua das perdas de água e eficiência energética. A avaliação dos dados secundários permitiu verificar os indicadores relacionados às perdas de água extraídos do sistema de informação da Embasa (COPAE), possibilitando verificar se os programas e projetos produziram resultados para o controle das perdas de água na Embasa/RMS, mais especificamente, para o SIAA de Salvador, Simões Filho e Lauro de Freitas. Quanto aos indicadores de eficiência energética foi avaliado o Programa Teodoro Sampaio/R1 Duna, analisando o indicador relacionado à capacidade específica (kWh/m3 ) antes e depois da implementação do mesmo. Foram avaliados os dados primários obtidos por meio dos questionários aplicados ao corpo funcional que permitiram verificar a percepção desse grupo estudado sobre o desempenho dos programas, projetos e ações implementados, sobre suas dificuldades e os possíveis ganhos alcançados. Os resultados evidenciaram que se faz necessária uma atuação da Alta Direção da Embasa, não apenas com o intuito do estabelecimento e cobrança de metas, mas também na promoção de capacitação, disponibilidade de recursos e planejamento das ações, visando desenvolver um corpo técnico específico e preparado tecnicamente para a atuação na área das perdas de água e eficiência energética, e, ainda para coordenar e disseminar as ações no seio da Empresa. Um dos desafios para os gestores que atuam no controle de perdas de água e eficiência energética é a necessidade de conhecer as tecnologias e metodologias existentes, com suas respectivas potencialidades e limitações, permitindo adequar e utilizar todos os recursos disponíveis de maneira a atingir seus objetivos e metas, visando construir uma cultura efetiva por meio de medidas continuadas para a Embasa. Como consequência desse planejamento pode-se obter resultados adequados a curto, médio e longo prazos proporcionando uma maior eficiência e eficácia da gestão dos sistemas de abastecimento de água, buscando garantir sua sustentabilidade, tendo em vista a universalização dos serviços.

Introdução

A água, elemento essencial à vida e às atividades humanas, tornou-se ao longo da última década um dos principais temas de discussão e interesse da humanidade. Se por um lado o acesso à água potável ainda não é universal, por outro, os níveis de desperdício e poluição são crescentes. Atualmente, no mundo, aproximadamente 1 bilhão de pessoas têm dificuldade de acesso à água potável e os mananciais vêm sendo alvo de intensa exploração e degradação. Além disso, cerca de 2,6 bilhões de pessoas não têm um acesso a solução adequada para os excretas/esgotos sanitários (UN-HABITAT, 2011). Foi diante da importância da água para os povos do mundo, principalmente os pobres, que recentemente, a Organização das Nações Unidas definiu o acesso à água potável como um direito humano fundamental.

Os recursos hídricos estão sendo comprometidos pela degradação urbana, industrial e agrícola e por desequilíbrios ambientais resultantes do desmatamento e uso indevido do solo. A cada dia cresce a disputa entre os setores da agricultura, indústria e abastecimento humano, o que tem gerado sérios conflitos entre estes usuários.

Atualmente, há uma grande quantidade de centros urbanos e localidades rurais que enfrentam graves problemas de abastecimento de água. Entre os fatores concorrentes para essa situação estão: a carência de políticas públicas e correspondentes investimentos; o aumento dos grandes períodos de estiagens; o uso irracional da água e seu consequente desperdício; a carência de manutenção e a inadequada operação nos sistemas de abastecimento de água, dentre outros.

As alterações climáticas têm potencial de reduzir a disponibilidade de água nos mananciais subterrâneos e superficiais e como consequência poderão prejudicar o abastecimento em várias localidades, desencadeando impactos negativos na saúde da população e aumentando os custos da produção nos sistemas de abastecimento.

No Brasil, ainda são necessários esforços para a universalização do acesso à água potável. Atualmente, 83% dos domícilios são atendidos com rede geral de abastecimento de água (IBGE, 2010). Os déficits em termo de contigente populacional se concentram nas periferias urbanas (marcadas por carências de infraestrutura e serviços públicos) e nas zonas rurais. Tal realidade possui vínculo com o processo de urbanização brasileiro, considerado acelerado e desigual.

Atualmente, mais de 84% da população brasileira vive em área urbana (IBGE, 2010), o que evidencia a necessidade de uma atenção particular para as populações das cidades quanto à garantia ao abastecimento humano. A urbanização teve início em meados da década de 50, no século XX, consequência de um modelo de desenvolvimento pautado na industrialização, gerando um crescimento acelerado das cidades, desacompanhado da implementação dos serviços de infraestrutura urbana, notadamente nas áreas de periferia. Os municípios das regiões metropolitanas do Brasil cresceram sem um planejamento do uso e ocupação do solo e carentes de infraestrutura e serviços públicos como abastecimento de água, esgotamento sanitário, saúde, educação, segurança pública, entre outros. O problema do abastecimento de água potável é maior na periferia das cidades, pois essa, muitas vezes, sofre com a falta total ou a intermitência na prestação do serviço.

A crescente demanda por água para os diversos usos e a intensificação da degradação do meio ambiente fez emergir no Brasil uma série de políticas e programas para a adoção de tecnologias e práticas de uso racional da água e controle de perdas em sistemas de abastecimento. Em termos qualitativos, exige-se a preservação dos mananciais e o controle da qualidade da água para consumo humano. O atendimento a esses requisitos visa proporcionar uma maior eficiência e eficácia dos sistemas de abastecimento de água, garantindo, assim, o direito social à água.

Um dos principais problemas enfrentados pelos prestadores de serviços públicos de abrangência regional no Brasil são as questões das elevadas perdas. De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS (2011), dentro da amostra de sistemas pesquisados, são perdidos cerca de 43% do volume da água distribuído em relação à água captada, sendo então fundamental estabelecer estratégias de controle das perdas de água, principalmente, em regiões com escassez e conflitos pelo seu uso. No caso do estado da Bahia e dos municípios atendidos pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento S/A (Embasa) o volume de água não contabilizada assumiu um percentual em torno de 38% no ano de 2009 (SNIS, 2011).

Também, os sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário têm demandado consumo crescente de energia, ampliando os custos de operação. Dados da ASE (2002), revelam que entre 2 a 3% do consumo de energia mundial é usado no bombeamento e tratamento de água para residências e indústrias. No Brasil, os sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário operados pelos prestadores públicos regionais consomem, aproximadamente, 7,8 bilhões de kWh por ano, segundo dados de 2009 do SNIS. Esse montante representa um gasto anual com energia elétrica da ordem de R$ 2 bilhões (SNIS, 2011). Mais de 2% do consumo total de energia elétrica do Brasil, o equivalente a 8,3 bilhões de kWh/ano, são utilizados por prestadores de serviços públicos de abastecimento de água e de esgotamento sanitário em todo o País. Vale destacar que os sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, com destaque para os conjuntos motorbombas, são responsáveis por 90% do consumo (ReCESA, 2008).

As despesas totais dos prestadores de serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário com energia elétrica no Brasil, variam entre 6,5% a 23,8%, com média de 12,2%, para os sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário operados por companhias estaduais (ELETROBRÁS, 2005).

Estima-se que a ineficiência energética na área de saneamento básico seja de 25% a 30% (GOMES et al., 2009). Considerando uma margem estimada, possível de economia mínima, de cerca de 25%, o custo anual da ineficiência energética representa um gasto adicional de cerca de R$ 475 milhões (ELETROBRÁS, 2005), que poderia ser evitado. Essa despesa gerada pelo desperdício normalmente é repassada ao consumidor por meio da tarifa.

De acordo com Tsutiya (2001), o consumo de energia tem relação direta com as perdas de água, pois é necessário cerca de 0,6 a 0,7 kWh para produzir 1m3 de água potável. Dessa forma, fica estabelecida uma relação direta entre a necessidade de uma eficiência hidráulica e energética para o bom gerenciamento dos sistemas de abastecimento de água (CHEUNG et al., 2009).

A Embasa, prestadora de serviços públicos de abastecimento de água e de esgotamento sanitário no estado da Bahia, tem um gasto anual de, aproximadamente, 123 milhões de reais com o insumo energia elétrica para uso nos seus mais diversos sistemas. Atualmente, esse insumo representa o 2o maior custo da Empresa, sendo o primeiro os custos com a folha de pagamento de pessoal (EMBASA, 2011a).

Além do constante aumento dos custos com energia elétrica ao longo dos anos, seja pelos aumentos de tarifas, seja pelo crescimento dos sistemas existentes ou incorporação de novos sistemas, observa-se um elevado percentual nas perdas totais de água na distribuição, índices estes que em alguns municípios e na capital do Estado alcançam patamares acima de 40% (EMBASA, 2012a).

Dessa forma, o gerenciamento integrado das perdas de água e eficiência energética nos sistemas é hoje um imperativo, devendo esse esforço ser adicionado ao escopo dos projetos, por razões de caráter ambiental, social e econômico, de forma a garantir o direito universal à água de qualidade.

(…)

Autor: Renavan Andrade Sobrinho.

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