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Benomil e carbendazim em águas brasileiras: estado da arte

Resumo

O aumento da demanda de alimentos e matérias-primas fez com que novas técnicas agrícolas fossem empregadas a fim de melhorar a produtividade das lavouras. O uso de defensivos agrícolas, também chamados de pesticidas, se tornou uma das técnicas mais comuns, porém estes podem ser carreados para diferentes matrizes ambientais após a aplicação nas culturas, atingindo corpos hídricos superficiais e subterrâneos, muitas vezes utilizados como mananciais de abastecimento público. As tecnologias empregadas nas estações de tratamento de água não são suficientes para remover estes compostos de forma a atender o padrão de potabilidade estabelecido pela Portaria nº2914/2011, sendo necessária a utilização de processos mais eficientes. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é levantar o estado da arte a respeito dos pesticidas Benomil e Carbendazim com relação à toxicidade, dinâmica ambiental, ocorrência em corpos d’água e remoção em técnicas de tratamento de água. Para isso, foram feitas buscas em bancos de dados de artigos, dissertações e teses, a fim de se obter estes dados. Verificou-se que, com relação a toxicidade, os dois compostos podem causar alterações no sistema reprodutivo e no desenvolvimento humano. Já com relação à dinâmica ambiental destes pesticidas, foi possível observar que estes apresentam tendência à volatilização, considerando que compostos com relação KH’/Kow maior que 10-9 são propensos a este processo. No monitoramento dos compostos em amostras de água superficial e subterrânea, observou-se a presença apenas do Carbendazim, já que o Benomil se degrada rapidamente no mesmo. Todas as amostras de águas brasileiras atenderam o padrão de potabilidade (120 µg.L-1). Por fim, das técnicas empregadas para a remoção destes compostos, apenas a adsorção em carvão ativado e a fotólise garantiram a eficiência de remoção dos compostos (99 e 95%, respectivamente), utilizando tempos de contato aplicáveis em ETAs. Não foram encontrados dados sobre remoção dos pesticidas em ETAs de ciclo completo, indicando a necessidade de mais estudos sobre estas técnicas.

Introdução

Nas últimas décadas, o aumento exponencial da população mundial acarretou numa maior demanda de alimentos, fazendo-se necessária a utilização de práticas para aumentar a produtividade agrícola. O uso de pesticidas é uma das mais importantes técnicas adotadas, pois auxilia no controle de doenças e insetos que podem prejudicar o desenvolvimento das culturas.

Contudo, a utilização destes compostos tem ocasionado a contaminação do solo e das águas superficiais e subterrâneas. Após a aplicação nas culturas, a molécula do pesticida atinge o solo podendo sofrer processos como a adsorção a partículas sólidas ou se dissolver na água presente no mesmo, e em seguida pode ser carreada para aquíferos subterrâneos ou corpos d’água superficiais, dependendo das condições ambientais e das propriedades químicas da substância. Adicionalmente, os compostos podem ainda sofrer processos como a biodegradação, fotólise ou hidrólise (HOLVOET et al., 2007; PROSAB, 2009; STEFFEN et al., 2011).

Em áreas de atividade agrícola intensa, pesticidas podem estar presentes em corpos hídricos, dependendo das propriedades físico-químicas destes. Estes corpos hídricos podem ser usados como mananciais de abastecimento e logo chegam até as Estações de Tratamento de Água (ETAs). A Portaria nº 2914/2011 do Ministério da Saúde, que define o padrão de potabilidade no Brasil, estabelece Valores Máximos Permitidos em água de consumo humano para uma série de compostos químicos, entre estes os pesticidas. Conhecendo o risco que os pesticidas podem oferecer à saúde da população exposta, o tratamento de águas deve garantir a remoção de tais substâncias, caso estejam presentes no manancial, de forma que suas concentrações estejam de acordo com o padrão de potabilidade estabelecido na Portaria nº 2914/2011 (BRASIL, 2011; OLIVEIRA, 2011; ORMAD et al., 2008).

Nas ETAs de ciclo completo, as etapas de coagulação/floculação, decantação e filtração geralmente não são capazes de remover determinados pesticidas. Porém a etapa de desinfecção oferece uma maior remoção das substâncias, apresentando a desvantagem de possiblidade de formação de subprodutos, caso sejam utilizados oxidantes como cloro e ozônio (ORMAD et al., 2008). Já o uso da radiação ultravioleta (UV) e processos oxidativos avançados (POAs) se mostram eficientes para remoção de pesticidas, porém muitas vezes o tempo de exposição necessário para alcançá-las é alto, tornando inviável a utilização destes nas ETAs (ABDESSALEM et al., 2010; DERBALAH et al., 2013; HUNG et al., 2002; OLIVEIRA, 2011; PIMENTA, 2013; SANCHES et al., 2010; SANCHES et al., 2013).

Autores: Andressa Rezende Pereira; Joane Mariela Miari Corrêa e Sérgio Francisco de Aquino.

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