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Viabilidade de um AVAD não superior a 10^-4 por pessoa por ano, para reúso agrícola de água em países em desenvolvimento

Resumo

AVADs são medidas do estado de saúde de uma população ou da carga associada a uma doença específica ou a um determinado fator de risco. Avalia o período de vida perdido devido á morte ou a fatores de desabilidade, provocados por doenças, em comparação com uma vida longa, livre de desabilidade e sem doenças. AVADs são calculados como a soma de anos de vida perdidos devido à morte prematura (AVM) e anos de vida saudável perdidos em estados de doenças, isto é, anos vividos em desabilidade, (AVD) que são padronizados por meio de pesos de severidade, portanto: AVAD = AVM+AVD. A Organização Mundial da Saúde – OMS – estabeleceu, para uso de esgotos em irrigação, o mesmo nível de proteção da saúde pública previamente estabelecido para consumo de água potável, isto é, a carga adicional de doenças oriundas pelo consumo de produtos irrigados com esgotos não deverá exceder 10-6 AVAD (anos de vida perdidos por pessoa por ano, PPPA). Um nível de risco tão restritivo é quase impossível de ser obtido em uma grande maioria de países em desenvolvimento, que não terão condições de implementar as medidas protetoras preconizadas, principalmente em relação a tratamento de esgotos, mesmo para irrigação irrestrita. Este trabalho analisa quais são as medidas protetoras viáveis de serem estabelecidas em países em desenvolvimento, propondo uma carga tolerável de doenças não superior a 10-4 AVAD por pessoa por ano. Para analisar a validade dessa proposta é necessário adotar uma metodologia de risco/benefício, ., particularmente as de saúde pública, ambientais, técnicas, econômicas e socioculturais.

Carga global de doençãs e AVADs

Murray e Lopes (1996) introduziram o conceito de “carga global de doenças e injúrias” descrevendo a carga atribuída a 107 doenças e injúrias e 10 fatores de risco ou grupos de risco para diversos grupos etários e regiões geográficas. Numa de suas primeiras fases de desenvolvimento, o trabalho introduziu o conceito de AVAD (anos de vida ajustados em desabilidade), como uma medida comum para avaliar a consequência de diversas doenças. Esse parâmetro permite avaliar efeitos sobre a saúde quantificando, inclusive, efeitos não fatais. Tradicionalmente, as políticas relativas à saúde pública exprimem a severidade de doenças em termos de taxas de mortalidade, devidas a causas específicas. Entretanto, muitas doenças não implicam mortalidade, mas podem se associar a taxas elevadas de morbidade. O conceito de AVAD engloba ambos os eventos, uma vez que mede a diferença entre o status de saúde vigente em uma determinada população de referência e uma meta pré-selecionada, como por exemplo um estado ideal de saúde. Essa medida integrada combina anos de vida perdidos por morte prematura (AVM) e anos vividos em desabilidade (AVD), que é padronizada por meio de pesos de severidade, que variam de 0 a 1. Os pesos são multiplicados pela duração do efeito, isto é, pelo tempo na qual a doença se manifesta e pelo número de pessoas afetadas. Quando o efeito de uma doença é a morte, a duração do evento é considerada como a diferença entre a esperança de vida local e a idade na qual ocorreu a morte. AVADs se constituem, portanto, em uma medida métrica que permite avaliar doenças de qualquer natureza, sejam microbiológicas, químicas ou radiológicas. Além disso, o foco é dirigido para perigos atuais e não perigos potenciais, o que permite a tomada de medidas de saúde pública objetivas e diretas.

Tem-se, portanto:

avad-reuso-agricola-agua

  • i = índice para diferentes classes de idade;
  • ei= esperança de vida na classe de idade i;
  • j = índice para diferentes categorias de doenças; e
  • fij = número de casos fatais por classe de idade.

Os anos de vida perdida por morte prematura (AVM) correspondem, portanto, à somatória do número de mortes, f, relativos a diversas classes de idades (i) associados a diversas categorias de doenças (j), multiplicados pela somatória das esperanças de vida, ei , em cada classe de idade considerada.

Os anos vividos em desabilidade são representados pela equação:

avad-reuso-agricola-agua

  • j = índice para diferentes categorias de doenças;
  • N = número de pacientes;
  • T = duração da doença; e
  • S = severidade da desabilidade.

A desabilidade é acessada em termos físicos, psicológicos e sociais, em função de dados levantados por meio de questionários específicos, caracterizando o período e o número de pacientes afetados por tipos distintos de doenças. Os anos de vida vividos em desabilidade correspondem, portanto, à somatória do produto, para cada categoria de doença (j), do número de pacientes, N pelo tempo de duração da doença, T, e por um peso S, variando de 0 a 1, que caracteriza a severidade de cada doença considerada (Pruss e Havelaar, 2001). Se forem consideradas apenas uma classe de idade e uma única doença, as equações (2) e (3), assumem, respectivamente, as seguintes formas:

avad-reuso-agricola-agua

A tabela 1 relaciona valores globais de mortalidade e de AVADs associados a alguns fatores de risco, levantados por Murray e Lopez (1996), e a tabela 2, pesos de severidade (S) relativos a sete classes de desabilidade, incluindo exemplos de doenças associados a cada uma dessas classes (Murray e Lopez, 1996).

Autor: Ivanildo Hespanhol

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