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Moradores recebem ‘água verde’ e 200 têm sintomas de contaminação no Piauí

Na cidade de Curimatá, a 775 km de Teresina, a água recebida nas torneiras tem uma coloração esverdeada e moradores têm sentido no corpo as consequências. Segundo o analista bioquímico Túlio Lustosa, pelo menos 200 pessoas apresentaram sintomas de contaminação entre janeiro e julho deste ano. A situação agrava o problema da crise hídrica no estado. Em todo o Piauí, 30 localidades estão em racionamento sob ordem do governo e mais de 25 em situação de emergência devido à seca.

Túlio é morador de Curimatá, possui um laboratório na cidade que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e afirmou ao G1 que desde janeiro o número de bactérias encontradas em exames de moradores teve um significativo aumento. “Tenho percebido que o número de microrganismos, como amebas, tem aumentado. Os pacientes vêm fazer os exames parasitológicos de fezes e urina e notamos o crescimento desses microrganismos que pode ter relação com a má qualidade da água, com má higiene ou alimentos contaminados”, disse.

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Morador mostra em um copo as condições da água recebida em sua casa (Foto: G1)

De acordo com o laboratório, em uma análise comparada da água e de exames de moradores foram detectadas bactérias compatíveis e mais de 200 pacientes ao longo de seis meses apresentaram casos de vômito, náuseas e diarréia, característicos de contaminação.

Os locais de captação de água têm reduzido drasticamente os níveis, devido à estiagem, e o governo tem buscado diversos meios de abastecer a população. Contudo, a suspeita é de que em algumas residências a água esteja chegando sem tratamento.

A irmã de uma das pessoas que adoeceu enviou uma foto do exame parasitológico, que mostra a presença da ameba Entamoeba Coli, encontrada em locais de água contaminada. Quando ingerido, esse microrganismo causa febre alta, desconforto abdominal e evacuações podendo conter sangue nas fezes.

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Exame parasitológico aponta presença de ameba comum em águas contaminadas (Foto: G1)

“Minha irmã fez um exame, foi encontrado nela um ‘verme’ e há indícios de que essa contaminação foi causada pelo uso da água. Ela sente enjôos, vômitos e fraqueza, entre outras coisas”, afirmou a irmã da paciente que preferiu não se identificar. A data do exame parasitológico coincide com o período de pouco mais de um mês quando a água começou a apresentar a cor verde.

Autoridades comentam a situação

Ao G1, o prefeito de Curimatá, Valdecir Júnior, disse que o município não possui registros de doenças causadas por conta da contaminação. “Se houver casos de doenças, o município será o primeiro a buscar meios de solucionar”, afirmou.

Ele também falou sobre o trabalho do governo do estado e da prefeitura na solução do abastecimento da cidade.

“Estamos com duas máquinas perfuratrizes modernas do Exército, uma da Agespisa [que faz o tratamento e abastecimento de água] e uma particular bancada pelo município, além de cinco carros-pipa atendendo a cidade e zona rural”, completou o prefeito.

O secretário da Defesa Civil do Piauí, Hélio Isaías, disse que membros da secretaria e da Agespisa conheceram as estações de tratamento e constataram que o sistema de abastecimento não estaria tão comprometido. Ele disse ainda que os municípios de Júlio Gomes e Avelino Lopes vão buscar água em Curimatá.

“No momento da visita a coloração da água estava normal. O estado determinou a criação de mais poços para auxiliar no abastecimento, mas as barragens vão continuar a fornecer água”, pontuou o secretário.

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Bomba de água em uma das barragens que abastecem a cidade de Curimatá, coloração é semelhante à recebida nas torneiras (Foto: G1)

A Agespisa falou apenas sobre o problema no abastecimento de água na cidade. Em nota, afirmou que está perfurando um poço em Curimatá para amenizar o racionamento causado pelo baixo nível da Barragem de Algodões. Com esse poço, a empresa espera aumentar a oferta de água.

‘Água verde’ nas torneiras

Contudo, no mesmo dia em que a prefeitura e a Defesa Civil responderam ao G1, moradores enviaram vídeos sobre a realidade que têm enfrentado diariamente. Nas imagens, é possível ver a condição imprópria da água que sai das torneiras. A coloração esverdeada e um conteúdo denso com mau cheiro, segundo os moradores, impossibilitam o consumo do líquido.

Condições da água têm causado transtorno à população de Curimatá (Foto: G1)
Condições da água têm causado transtorno à população de Curimatá (Foto: G1)

Mais dificuldades

Apesar das medidas tomadas pelas autoridades, mais problemas aparecem com o passar dos dias. Moradores da região próxima à Estação de Tratamento de Água de Curimatá informaram ao G1 que um dos poços, que estavam sendo perfurados pela Agespisa na primeira semana de julho, desmoronou e os profissionais da área estariam em busca de outro local para realizar a escavação.

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Situação atual do açude Vereda da Cruz, que abastece Curimatá e municípios vizinhos, é crítica (Foto: G1)

A cidade de Curimatá conta com três estações de abastecimento de água. A mais antiga é a barragem de Sertão, construída na década de 80. A segunda maior, Vereda da Cruz, está completamente seca. Já a maior estação, o Açude de Algodões II, fornece água a Curimatá e municípios vizinhos e não possui adutora, o que gera um grande prejuízo devido à abertura das comportas no intuito de conduzir a água para uma subestação. Até o riacho perenizar para poder abastecer a cidade, leva mais de dez dias.

Fonte: G1.

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