Mais de 12 mil litros por segundo foram tirados para abastecer o Vale do Paraíba e o estado do Rio. Maior reservatório da região metropolitana está em estado de alerta há onze dias.
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) está “devolvendo” água que o Sistema Cantareira mandou para o Rio Jaguari em abril deste ano.
De acordo com a Sabesp, 12.200 litros por segundo passaram a sair do Cantareira no dia 6 de abril para abastecer o Vale do Paraíba e o estado do Rio de Janeiro.
O Sistema Cantareira, que operava com 39,9% de seu volume nesta quarta-feira (8), está em estado de alerta há 11 dias.
Procurada pela reportagem, a Sabesp disse que o bombeamento funcionou em alguns dias de abril, em caráter experimental, para que fosse possível testar o equipamento de bombeamento.
“Neste momento, a água está sendo enviada somente sentido Cantareira. A interligação tem capacidade para enviar até 162 bilhões de litros de água por ano (sentido Cantareira) – volume equivalente a uma represa Guarapiranga cheia”. informou a Sabesp.
De acordo com o professora da USP Pedro Luiz Côrtes, a medida contribuiu para reduzir o nível de água do sistema, que agora opera em estado de alerta.
“Está mais baixo do que seria esperado para esta época do ano, especialmente considerando que o prognóstico climático não é dos mais favoráveis até meados deste semestre”, salientou.
Na avaliação da professora, falta transparência da Sabesp com realçao ao procedimento realizado.
“Ela deveria informar, diariamente, o volume de água que está sendo transferida de uma bacia para a outra e qual é o sentido dessa transferência – se do Sistema Cantareira para a bacia do Rio Paraíba do Sul ou vice-versa. Isso ajudaria a população a entender melhor a real situação em que estamos.”
Segundo a Sabesp, a obra de transposição que passou a permitir a transferência de água da represa Atibainha (que abastece o Sistema Cantareira) para o Jaguari (bacia do Paraíba do Sul) custou R$ 555 milhões e tinha como objetivo beneficiar 39 milhões de pessoas na Grande São Paulo, Região Metropolitana de Campinas, Vale do Paraíba e o estado do Rio de Janeiro, incluindo a capital fluminense.
A operação no sentido contrário, de até 5.130 litros por segundo para o Sistema Cantareira, foi inaugurada no início de março.
Sabesp não considera previsões climáticas para prevenção de crises
A Sabesp considera apenas os índices históricos de pluviometria para traçar cenários de enfrentamento para períodos secos. De acordo com Côrtes, dados históricos são importantes, mas é necessário olhar também para os prognósticos futuros e verificar as alterações previstas.
“No planejamento, eles administram olhando o passado do clima, apenas. Imaginam que o que aconteceu no passado vai se reproduzir no futuro, mesmo em um cenário de mudanças climáticas”, diz o professor.
Novo El Niño
Um fenômeno que precisa ser considerado, na opinião de Côrtes, é a possibilidade de um novo El Niño (fenômeno atmosférico-oceânico que altera o clima, mudando os padrões de vento e afetando os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias).
“Isso pode fazer com que chuvas no Sudeste aumentem, mas ele também pode ser de baixa intensidade e não ser o suficiente para mudar esse panorama (de seca). Em paralelo podemos ter um aumento de temperatura, o que faz com que o consumo de água aumente.”
Em nota, a Sabesp disse que com o acompanhamento de índices históricos pluviométricos se traçam cenários para enfrentamento de períodos mais secos.
“Trata-se de uma análise técnica diária por meio da qual é possível tomar decisões como ampliar ou diminuir transferência de água entre represas ou até mudar o sistema que abastece uma região para poupar um sistema que estiver em situação pior. Exemplo disso é a Mooca, que pode receber água de até 4 sistemas distintos.”
Fonte: G1.