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Lagoa artificial nas dunas de Florianópolis pode causar desequilíbrio ambiental

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Pesquisadores da UFSC alertam que lançamento de efluentes gera risco para espécie em extinção e proliferação de algas por causa da poluição

 

agua

Imagem Ilustrativa

 

Um estudo elaborado por pesquisadores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) lista uma série de impactos ambientais provocados pelo sistema de bombeamento da Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) instalado no dia 18 de junho, na lagoa artificial da Lagoa da Conceição, em Florianópolis.

O sistema foi a solução encontrada pela Casan para evitar um novo rompimento da ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), que operava próximo do limite e enfrentaria um fim de semana de chuvas intensas. Dois tubos foram instalados para escoar o excesso de água até uma área nas dunas. Até quinta-feira (8), o sistema permanecia instalado na região.

Tanto a estrutura quanto o despejo do efluente são responsáveis por um desequilíbrio ambiental na região, argumentam os pesquisadores de sete laboratórios e projetos da universidade. Eles visitaram a região uma semana depois da instalação das motobombas e produziram a nota técnica, publicada na terça-feira (6).

Um dos problemas apontados pelo estudo diz respeito ao corte sofrido pela duna para a instalação dos tubos que fazem o escoamento do efluente.

A professora Michele de Sá Dechoum, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, explica que isso gerou um processo de erosão que pode aumentar de proporção e se espalhar para outras áreas.

“O que acontece é que a areia começa a ser transportada para baixo e pode acabar removendo e soterrando a vegetação existente na região”, diz.

‘Rio’ nas dunas

O lançamento do efluente criou, ainda, uma nova lagoa artificial em uma área onde não havia água. Isso alterou a dinâmica do ambiente e a qualidade da água das lagoas temporárias e permanentes que já existem na região.

O efluente bombeado, conforme a professora, tem elevada concentração de matéria orgânica e nutrientes que causam um processo de poluição do ambiente e a consequente proliferação de algas. Processo semelhante ocorreu na Lagoa da Conceição, com a proliferação da maré-marrom em março deste ano.

“No caso objetivo, observa-se floração da Euglenophyta do gênero Lepocinclis, reconhecidos indicadores de ambientes poluídos por efluentes com elevada concentração de matéria orgânica e nutrientes”, diz a nota.

Conforme a especialista, essa espécie de alga em si não é considerada tóxica. No entanto, análises recentes apontaram que efluentes gerados por estações de tratamento em Florianópolis podem conter bactérias e vírus que trazem risco à saúde pública.

Além disso, o sistema instalado na região pode provocar a proliferação de larvas de mosquitos causadores de doenças, como o Aedes aegypti. A análise destaca que não há nenhum tipo de placa que alerte as pessoas sobre os potenciais riscos sanitários caso a água da nova lagoa artificial seja usada para consumo, recreação ou mesmo pelo contato acidental.


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Espécie ameaçada de extinção

O estudo elaborado pelos pesquisadores da UFSC destaca, ainda, que próximo da área onde foram instalados os equipamentos há exemplares da palmeira ameaçada de extinção Butia catarinensis Noblick & Lorenzi (Arecaceae), popularmente conhecida como butiá.

A erosão das dunas, assim como a potencial contaminação da água subterrânea por substâncias tóxicas e microrganismos, pode causar a morte dessas plantas. De acordo com a professora, poucas espécies da palmeira restaram na Ilha de Santa Catarina.

“O único local onde há a presença dos butiás no Parque da Lagoa da Conceição, que tem 700 hectares, é justamente onde foram instalados os tubos de bombeamento. Tem poucas plantas, no máximo 30”, diz.

Ela conta que a espécie é importante porque o fruto é apreciado não só pelas pessoas, mas também por animais, especialmente pequenos mamíferos que circulam pela região.

Presença de aves

A nota técnica destaca ainda que as lagunas e a vegetação do entorno onde houve a instalação das motobombas é essencial para diversas espécies de aves que dependem desses ambientes.

São citadas a marreca-pardinha (Anas flavirostris), marreca-toicinho (Anas bahamensis), marreca-cri-cri (Anas versicolor) e frango-d’água-carijó (Galinulla melanops).

Conforme o estudo, essas espécies vivem em ambientes aquáticos e dependem deles tanto para alimentação quanto para abrigo, “podendo ser altamente afetadas pela poluição das lagoas, pela diminuição de recurso alimentar, por doenças e pelo soterramento da vegetação”.

Recomendações

Os pesquisadores que assinam o estudo listam recomendações à Casan. Entre elas, está a retirada imediata dos tubos instalados e a apresentação de uma solução alternativa emergencial.

Sugerem, ainda, que a Casan seja cobrada judicialmente e que seja definido um prazo para a apresentação do projeto alternativo para disposição final do efluente.

Além disso, recomendam que seja realizado o monitoramento e eventual descontaminação da área atingida, caso a análise identifique a presença de substâncias químicas ou microrganismos que possam comprometer o meio ambiente.

Solução emergencial

Conforme a Casan, o sistema de bombeamento utilizado representa o que era possível ser feito com o prazo dado pela Prefeitura. A autorização ambiental para a obra foi expedida às 11h de quinta-feira, reservando um prazo de apenas de 30 horas para adotar uma medida emergencial antes da previsão de chuvas.

A prioridade de então era resguardar as famílias da Servidão Manoel Luiz Duarte e a própria Lagoa da Conceição. “O sistema escoou a água excedente das intensas chuvas – choveu 196 mm no intervalo de 24 horas, praticamente o triplo do volume previsto para todo o mês de junho”, informou a Casan, em nota.

Os tubos permanecerão no local para serem acionados em situações emergenciais até a conclusão das obras estruturais que estão sendo preparadas para a região, afirma a empresa. O objetivo é construir uma barragem de sete metros na ETE, para evitar deslizamentos.

A empresa informa ainda que na segunda-feira (12) realizará a limpeza do fundo lodoso da lagoa artificial, com o objetivo de devolver a infiltração natural.

Fonte: NDMais.


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