ALADYR
Para produzir 250 ml de cerveja, são utilizados 74 litros de água
No dia 4 de agosto comemora-se o Dia Mundial da Cerveja, bebida que costuma ser composta por mais de 95% de água e representa um importante segmento da economia latino-americana que conta com mais de um milhão de empregos diretos e indiretos no continente. Em seu conjunto, a gestão hídrica dessa indústria tem a capacidade de fazer a diferença na sustentabilidade de cada ambiente em que atua.
A Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reuso de Água (ALADYR) aproveitou a comemoração e convocou as cervejarias a aderirem à tendência Water Positive, que busca que as empresas não sejam apenas eficientes em sua gestão hídrica, mas também gerem um impacto positivo ao devolver mais água à natureza ou às redes municipais do que consomem.
“Sabemos que as grandes cervejarias estão entre as indústrias que mais investem na otimização da gestão hídrica com a incorporação de processos e tecnologias de ponta, mas é possível ir além para gerar mais água do que consomem”, afirma Gerald Ross, presidente da ALADYR.
Segundo Ross, alcançar o saldo positivo nesta indústria cuja pegada hídrica gira em torno de 74 litros de água por 250 mililitros de cerveja – de acordo com a waterfootprint – não é fácil, mas não impossível e os benefícios valem a pena.
“É preciso medir o consumo desde a matéria-prima até a fabricação, reduzi-la ao mínimo e depois compensar”, acrescentou.
A compensação pode ser feita por meio de investimentos em projetos de conservação, reciclagem de água e dessalinização da água do mar ou poços salobres. A dessalinização possibilita a conversão de água do mar ou água salobra em água doce, que pode ser usada em processos de produção de cerveja. Por outro lado, o reúso de água consiste no tratamento e reciclar a água residual em processos dentro da própria fábrica ou para a recuperação da vazão de rios e recarga de aquíferos, em conformidade com a regulamentação para esses fins.
A ALADYR detalha que as tecnologias disponíveis no mercado permitem que as cervejarias adotem fontes hídricas alternativas (reúso e dessalinização), tornando seus negócios mais resilientes ao ataque das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, tenham a oportunidade de se posicionar como colaboradores essenciais no abastecimento das comunidades que mais precisam do recurso.
“Imagine uma cervejaria que dessaliniza a água para a produção do seu produto, que é eficiente no seu uso até zero de descarga líquida e, portanto, não afeta fontes superficiais ou biota. Que também sabe quanta água consome em cada um de seus processos produtivos a partir da matéria-prima e que compensa essa diferença doando parte de sua água dessalinizada para comunidades ou para recarga de aquíferos. Essa seria uma das muitas maneiras de ser Water Positive“, disse Ross.
Nesse sentido, diversas cervejarias latino-americanas já implementaram iniciativas de eficiência hídrica. Por exemplo, a cervejaria costarriquenha Imperial se promove como a primeira cerveja Water Positive do mundo e adotou várias iniciativas para melhorar o acesso à água, conservação, limpeza e sustentabilidade com investimentos em projetos locais.
Outras iniciativas que se destacam são as da Antares, da Argentina, que tem uma cerveja feita apenas com água do mar dessalinizada, e a Ambev do Brasil, cujas metas de redução de consumo nos últimos anos a fizeram destacar como uma das mais eficientes da região.
Ser Water Positive é rentável
Ao adotar essas iniciativas, as cervejarias podem economizar na conta de água e evitar multas onerosas por não conformidade com as regulamentações ambientais, além de melhorar sua reputação entre consumidores, investidores e outras partes interessadas.
Brasil e México estão posicionados em terceiro e quarto lugar entre os mercados mais importantes do mundo para essa bebida e, segundo consultoras como a IWSR, espera-se que continuem crescendo nos próximos anos acompanhados de investimentos. Para isso, a ALADYR reitera a importância de destinar recursos para a sustentabilidade, resiliência e relacionamento com as comunidades para minimizar as probabilidades de que o crescimento seja prejudicado por eventualidades climáticas, sociais ou políticas.
É prudente lembrar os impasses entre o governo do México e as indústrias de bebidas durante a seca do ano passado, quando o presidente Manuel López Obrador indicou que não daria novas licenças para a fabricação de cerveja nas regiões do norte do país, como Monterrey, onde fica uma das fábricas mais importantes da marca Heineken.
Os programas de eficiência hídrica da Heineken no México estão entre os melhores do mundo, mas em circunstâncias como a crise hídrica de Monterrey do ano passado, até mesmo empresas como essa podem se deparar com dificuldades.
“Maiores níveis de demanda e redução de disponibilidade de recursos hídricos exigem que a indústria e sua cadeia produtiva seja exemplar e sustentável. A opinião pública está cada vez mais atenta aos temas de sustentabilidade o que impacta no valor da marca. Somar a distinção de Water Positive não só é uma oportunidade comercial, mas um imperativo do mercado, o melhor é sair na frente e tornar a América Latina protagonista nessa tendência”, concluiu o presidente da ALADYR.
Fonte: ALADYR