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Após crise hídrica, paulistano volta a gastar mais água

A lição de que é necessário reduzir o consumo de água e poupar os recursos naturais, aprendida na marra durante a crise hídrica, começa dar sinais de que não foi completamente assimilada pelo paulistano.

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Pelo segundo ano consecutivo, o gasto per capita subiu na capital. O consumo ainda é menor, e está até distante do período em que as represas quase secaram, mas já registra alta de 6,6%.

Em 2014, ano inicial da crise hídrica, o paulistano consumiu, em média, 153 litros de água por dia no primeiro semestre. No ano seguinte, o índice caiu para 121 litros. Em 2016, já com a crise superada, o gasto subiu para 126 litros e, neste ano, cresceu novamente, passando para 129 litros. Os dados são de levantamento realizado pela Sabesp a pedido do Metro Jornal.

Erros dos dois lados

Pós-doutor em geociências pela Unicamp, Maurício Waldman afirmou que os números são questionáveis, pois há “uma aferição contábil, por faixa de consumo, e que despreza a perda de água.”

“Essa é uma questão, mas há outra e, de fato, há muita desinformação e mau comportamento das pessoas. Faltam também campanhas educativas, não só pedindo para fechar a torneira, mas que mostrem como podemos consumir alimentos com menor impacto hídrico ou como o lixo é o maior poluente das águas. Essas políticas públicas não são integradas.”

Porta-voz da Aliança pela Água, que reúne mais 70 organizações em prol da defesa dos recursos hídricos, Marussia Whately afirmou que a multa para os gastadores de água ajudou a criar as condições para a queda do consumo durante a crise hídrica, mas não se foi além.

Em lugares com redução de consumo, foram feitos investimentos privados, como em prédios que se adaptaram para o reúso da água e que trocaram equipamentos, mas porque havia multa para quem gastasse mais água. Para que isso se mantivesse por mais tempo e fosse incorporado como política pública, era necessário uma reflexão sobre os padrões de consumo, que não houve.”

Análise da Sabesp

Na avaliação da Sabesp, “o paulistano colaborou com a redução no consumo de água durante o período da crise hídrica e incorporou alguns hábitos de economia no dia a dia, mesmo após a crise”.

Mesmo projetando que não haverá alta no consumo neste verão e que irá aumentar “a segurança hídrica” com um novo sistema produtor e uma interligação, a Sabesp reafirmou que “é essencial” que a população “faça uso racional da água, evitando desperdício”.

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Mananciais ainda se recuperam

Mesmo que a crise hídrica tenha sido superada, de acordo com o próprio governo do Estado, e o volume de chuva tenha voltado para índices de normalidade, as represas ainda não se recuperaram em definitivo.

Dos seis sistemas produtores, quatro estão “mais secos” do que estavam há um ano e apenas dois têm mais água disponível (veja acima). O Guarapiranga tem hoje 12,3 pontos percentuais a menos de volume do que tinha no ano passado. O Cantareira, menos 2 pontos.

“O fantasma ainda existe e como os problemas estruturais não foram solucionados, uma nova crise hídrica pode ser ainda mais grave”, afirmou o pós-doutor em geociências pela Unicamp Maurício Waldman. Para a Sabesp, os mananciais estão com níveis “satisfatórios”.

Por necessidade ou consciência, boa parte da população passou a “cuidar” melhor da água, mas ainda quem não se importe. “Eu fiquei mais consciente depois da crise hídrica”, disse a cuidadora de idosos Dirlene Souza, 48 anos. “Eu voltei a agir como agia antes, não me preocupo muito”, afirmou o programador Alex Lima, 30 anos. 

 

Por Fabíola Salani e André Vieira/Metro Jornal

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