Milton Pilão, CEO da Orizon VR, empresa de tratamento e valorização de resíduos, fala sobre o “Triplo M”, um mecanismo para mitigação do metano, e diz que fechamento de lixões pode dar gás à luta climática
Se somos um só planeta, as crises ambientais que assolam as sociedades, cedo ou tarde, dão as mãos e viram um problema ainda maior. A má gestão de resíduos sólidos, por exemplo, é um sinal deficitário de saneamento básico (que não tem esse nome à toa) e que agrava a poluição do meio ambiente, além de jorrar para atmosfera um potente gás de feito estufa, o metano, com cerca de 80 vezes o potencial de aquecimento global do CO2 no curto prazo.
Embora permaneça menos tempo na atmosfera — cerca de uma década apenas ao passo que o CO2 pode ficar de 300 a 1000 anos — suas concentrações têm aumentado. Segundo a ONU, o metano responde por 30% do aquecimento global desde a época pré-industrial e está proliferando mais rapidamente do que em qualquer outra época desde que os registros históricos começaram nos anos 1980.
O gás mobilizou as nações para frear suas emissões crescentes em acordo mundial firmado durante a COP26, em Glasgow, onde mais de 100 países se comprometeram a reduzir os níveis de emissão de metano (CH4) em 30% até 2030 como parte dos esforços para mitigar o aquecimento do Planeta. O texto do Global Stocktake, principal documento aguardado na conclusão da COP28, que ocorrem em Dubai, também deve demandar reduções substanciais nas emissões.
Atualmente, cerca de 60% das emissões de metano têm origem nas atividades humanas. Fontes naturais, como áreas alagáveis, pântanos, manguezais e várzeas respondem pelos 40% do restante. O metano da atividade humana tem origem em três setores principais: agropecuária (40%), combustíveis fósseis (35%) e tratamento de resíduos orgânicos e esgoto (20%). Há uma série de soluções possíveis para lidar com o metano. Muitos dos caminhos atualmente disponíveis envolvem a recuperação e o uso desse gás como combustível para gerar eletricidade, reduzindo, assim, as emissões das instalações industriais e dos aterros sanitários.
Iniciativa inédita na COP28
Milton Pilão, CEO da Orizon VR, empresa brasileira de tratamento e valorização de resíduos (dona de um market share de aproximadamente 20% do lixo tratado no país), diz que o fechamento de lixões no Brasil pode dar gás à luta climática e gerar benefícios vultosos para os negócios, a sociedade e a economia, rompendo a bola de neve de problemas ambientais e sociais relacionados à má gestão de resíduos no país.
Em meio às negociações da COP28, em Dubai, ele apresentou uma parceria com a International Solid Waste Association (ISWA, da sigla em inglês) e o Global Methane Hub para desenvolver um estudo inédito sobre o Mecanismo de Mitigação do Metano (M3), ou “Triplo M” O objetivo é aprimorar metodologias e fomentar a criação de um mercado para o uso do créditos de metano. Por meio do maior aproveitamento dos resíduos orgânicos, com novas tecnologias, triagem, compostagem e biodigestão controlada, a iniciativa pode contribuir para o enfrentamento da tripla crise planetária, da poluição, do clima e da perda biodiversidade
De acordo com o levantamento preliminar da ISWA, em 2024, créditos de metano teriam potencial de gerar mais de 195 bilhões de euros no mundo, valor que pode chegar a 585 bilhões de euros em 2030. O cálculo considera o total de produção de biogás no mundo. “Hoje os 2500 lixões que existem no Brasil estão jogando metano na atmosfera”, diz Pilão, ressaltando que a má gestão de resíduos além de gerar danos ambientais representa perda de oportunidades.
“Se tivéssemos um crédito de metano atrelado a isso, eu não tenho dúvida que a iniciativa pública e privada iriam se movimentar para enfrentar o problema”, afirmou em conversa com Um Só Planeta em um café na Blue Zone, da Expo City Dubai, sede futurista da COP. Minutos antes ele havia participado de uma reunião com o Banco Mundial. “A mitigação do metano é um dos temas prioritários do BM”, comentou.
Com o fechamento dos lixões, os resíduos seriam alocados em aterros apropriados para geração de biogás e biometano, fontes de energia renovável, e a emissão de metano evitada poderia ser transformada em crédito com potencial de atingir US$ 25 por unidade, valor bem acima dos atuais US$5 no Brasil. Cada tonelada do gás que deixa de ser emitida equivale a um crédito.
Pilão destaca que a regulação do mercado de carbono, que atualmente tramita no Congresso, é importante e será determinante para a criação de um mercado específico para metano associado ao setor de resíduos.
“Essa regulação vai mostrar quem é qual o papel dos mitigadores [de emissões] e dos poluidores, que terão de se adequar à nova realidade”, ponderou.
O Grupo Orizon opera 16 HUBs de Transformação de Resíduos em 11 estados brasileiros que promovem a destinação ambientalmente correta de mais de 10 milhões de toneladas de resíduos por ano. Os HUBs estão sendo preparados para a produção de biogás, biometano, energia elétrica renovável, promover a reciclagem com a separação de materiais que podem ser novamente utilizados pela indústria, produzir fertilizantes verdes e gerar créditos de carbono.
Atualmente, a empresa gera 3 milhões de toneladas de créditos de carbono por ano e a ideia é que a expansão dos bioparques e a formação de um mercado específico de créditos de metano onde este atributo seja mais valorizado também gere mais benefícios para as comunidades locais onde estes processos se inserem, facilitando o desenvolvimento e engajando futuras gerações. Atualmente, a empresa atua na geração de renda, empregando prioritariamente quem mora próximo de suas unidades e investindo em projetos locais esportivos, culturais e sociais.
Fonte: UM SÓ PLANETA
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