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Avaliação da variação do parâmetro turbidez no Rio Gualaxo do Norte após o rompimento da barragem de Fundão no distrito de Bento Rodrigues – Mariana/MG (estudo de caso)

Resumo

O rompimento da barragem de Fundão ocorrido em 2015, na Cidade de Mariana/MG, culminou no maior desastre socioambiental da história brasileira e suscitou na contaminação de mais de 600 quilômetros de rios, com lama de rejeitos proveniente da mineração de ferro. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi analisar a variação dos níveis de turbidez (devido ao seu caráter indicativo e prático da determinação da qualidade da água) no rio Gualaxo do Norte (um dos mais afetados pelo lamaçal e sedimentos carreados) encontrados no período entre novembro de 2015 a janeiro de 2017, e buscar justifica-la.

Complementarmente, buscou-se investigar os possíveis impactos, em função da descarga de toda esta lama ao corpo hídrico. A metodologia baseou-se na coleta e comparação de informações e resultados, retiradas dos relatórios de monitoramento emergenciais da qualidade das águas superficiais do Rio Doce, no Estado de Minas Gerais e realizado pelo IGAM – Instituto Mineiro de Gestão de Águas. A implantação da estação de monitoramento no rio Gualaxo do Norte iniciou-se somente a partir de 25 de novembro de 2015 – em decorrência do acidente, o que impossibilitou a comparação dos resultados com informações históricas do próprio rio. Sendo assim, o estudo baseou-se nos valores limites estabelecidos para sua Classe (II) para contraposição dos dados. Os valores de turbidez variaram entre 32.510 a 74 Unidades Nefelométricas de Turbidez (NTU) ao longo dos nove primeiros meses de monitoramento, sendo este último abaixo do limite disposto pelo CONAMA 357/2005, para rios Classe II. Porém, no período chuvoso, iniciado no mês de novembro de 2016, os resultados voltaram a apresentar valores elevados (máxima de 4105 NTU). Haja vista que a suposta precipitação de sólidos suspensos possa ter corroborado para a drástica diminuição da turbidez, verifica-se a fragilidade no embasamento da determinação da qualidade deste rio visando somente este parâmetro, tornando assim a determinação de sólidos crucial e indispensável ao seu monitoramento.

Introdução

A turbidez é um parâmetro físico relacionado à água, e considerada um dos principais para a determinação de sua qualidade, principalmente àquelas destinadas ao consumo humano, e está relacionada à capacidade ótica de absorção e reflexão da luz, e não depende tão somente da concentração dos sedimentos em suspensão, mas também de aspectos como tamanho, composição mineral, cor e quantidade de matéria orgânica (LIBÂNIO, 2010).

Inicialmente, respondem pela turbidez de águas naturais, em geral, sólidos em suspensão provenientes da erosão dos solos (especialmente nos períodos chuvosos, onde as águas pluviais carreiam quantidades significativas de material sólido para os corpos d’água), plânctons, microorganismos e matéria orgânica e inorgânica particulada. No entanto, as ações antrópicas, como as atividades de mineração, lançamento de esgotos domésticos e efluentes industriais, são as principais e mais importantes fontes da elevação da turbidez das águas.

A alta turbidez e cor verdadeira acarretam a elevação de custos relacionados ao tratamento de água em ETAS [por requererem maior quantidade de produtos químicos (como coagulantes), e/ou reduzirem a carreira de filtração dos filtros] para adequá-la ao padrão de potabilidade vigente. Ademais, perturbam a preservação dos organismos aquáticos, a utilização industrial das águas, as atividades de recreação, além de alterar a harmonia paisagística da região onde se encontra o curso d’água.

No dia 05 de novembro de 2015, com o rompimento da barragem de Fundão, cerca de 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração de ferro foram lançados no meio ambiente, alcançando toda a extensão do rio Doce. Primeiramente, toda esta lama alcançou a barragem de Santarém, mais à jusante, transpondo seu limite e forçando a passagem de uma onda de lama por 55 km no rio Gualaxo do Norte, até desembocar no rio do Carmo (IBAMA, 2015). A inserção de toda esta lama no leito do rio provocou uma elevação drástica dos níveis de turbidez, chegando a valores aproximados de 32.500 NTU no rio Gualaxo do Norte, um dos mais afetados com o episódio (GOVERNO DE MG et al, 2016).

O rio Gualaxo do Norte encontra-se na região Leste Sudeste do Quadrilátero Ferrífero (QF), Minas Gerais – Brasil e é um subafluente do rio Doce (responsável pelo abastecimento de diversas cidades de Minas Gerais e Espírito Santo). Sua cabeceira está a uma altitude aproximada de 1380 metros, na Serra do Espinhaço, no município de Ouro Preto. Seu leito passa pelas cidades de Mariana e Barra Longa, desaguando no rio do Carmo a uma altitude de 390 metros. Além disso, suas águas são utilizadas para a geração de energia elétrica por uma pequena central hidrelétrica, a PCH Bicas, com autonomia de 1560 kWde potência instalada, localizada no município de Mariana.

Todas as águas pertencentes à bacia do Doce, como o rio Gualaxo do Norte, são consideradas classe II e são destinadas principalmente ao abastecimento humano (após tratamento convencional), à proteção da vida aquática, aos usos não consultivos de contato primário e à criação de espécies para consumo humano e à irrigação, não devendo exceder 100 NTU.

À vista disso, objetivou-se avaliar e comparar os valores de turbidez (obtidos pelo laboratório do Instituto Mineiro de Gestão de Águas – IGAM) em momentos posteriores à contaminação por lama de rejeitos oriunda da barragem de Fundão com os valores limites estabelecidos pela Deliberação Normativa Conjunta Copam/CERH-MG 01/2008 (DN 01/08) e identificar possíveis causas para as drásticas oscilações encontradas. E ainda, verificar os possíveis impactos para a qualidade das águas do rio Gualaxo do Norte, em virtude do volume de sólidos incorporado ao mesmo.

Autores: Thamires Noelle Oliveira Santos e Valter de Souza Lucas Júnior.

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