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Avaliação da toxicidade do lixiviado de aterro sanitário pós tratamento foto-Fenton

Resumo

A concentração crescente de resíduos líquidos de aterro sanitário em ecossistemas aquáticos tem despertado cada vez mais interesse, devido à toxicidade que podem provocar nos organismos habitantes. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo, avaliar a toxicidade em amostras de lixiviado tratado por processo foto-Fenton com irradiação artificial, frente às espécies de Artemia salina e Lactuca sativa. Para tanto, as condições de tratamento utilizadas para o processo foto-Fenton, foram o pH inicial do efluente de 2,4 e concentrações de Fe2+ de 80 ppm e H2O2 de 3400 ppm. Sendo retiradas alíquotas do efluente em tempos de tratamento pré-determinados para a análise da toxicidade. Durante os testes de toxicidade foram determinados a inibição do crescimento das raízes e radículas da Lactuca sativa, o efeito sobre a germinação das sementes e o efeito sobre a mortalidade dos microcrustáceos, além da concentração letal (DL50) para cada espécie. O tratamento foto-Fenton demonstrou-se capaz de reduzir a toxicidade do chorume, apresentando-se eficaz em tempos de tratamento superiores a 20 min.

Introdução

Atualmente, uma das grandes preocupações ambientais da sociedade está relacionada aos resíduos sólidos gerados pela produção de bens e serviços. Com o crescimento urbano, a industrialização e a decorrente elevação dos patamares de consumo, vêm ocorrendo um aumento da geração de resíduos sólidos, impondo grandes demandas (Roth e Garcias, 2009).

A disposição de resíduos em aterros sanitários constitui a técnica mais utilizada mundialmente para a remediação de resíduos sólidos (Moravia, 2010). Os resíduos em decomposição sob o solo, juntamente com a água proveniente principalmente da chuva, geram o chorume, o qual percola até a base do aterro e, posteriormente, deverá ser drenado. O percolado é um líquido escuro e com forte odor, que apresenta em sua composição altos teores de compostos orgânicos e inorgânicos, nas suas formas dissolvida e coloidal, liberados no processo de decomposição do lixo. A composição do chorume é variável e complexa e está condicionada a uma série de fatores, dependendo muito dos tipos de resíduos que são depositados no terreno (Carniato et al., 2007; De Morais et al., 2006).

De acordo com Moravia (2010), o chorume possui alto potencial patogênico e toxicológico e sua percolação pode provocar a poluição das águas subterrâneas e superficiais, sendo que uma das primeiras alterações observadas é a redução do teor de oxigênio dissolvido, que pode prejudicar a fauna e a flora aquática. Portanto, a correta coleta, destinação e tratamento do percolado se fazem extremamente necessárias, uma vez que se trata de um líquido altamente tóxico para o meio ambiente, sobretudo para os ambientes aquáticos.

Como alternativa de tratamento, têm-se os Processos Oxidativos Avançados (POAs), que são altamente eficientes para destruir substâncias orgânicas de difícil degradação. Estes processos são, em geral, baseados na formação do radical •OH que atua oxidando os poluentes orgânicos a CO2, H2O e íons inorgânicos. Dentre os POAs, destaca-se o processo foto-Fenton, baseado na geração de •OH a partir da decomposição de peróxido de hidrogênio catalisada por íons ferrosos (Fe+2) em condição ácida e na presença de luz UV (Palácio et al., 2012; Borba et al., 2013; Hermosilla et al., 2009).

Os sistemas de tratamento de efluentes são monitorados convencionalmente por análises físico-químicas, tais como demanda química de oxigênio (DQO), demanda bioquímica de oxigênio (DBO), sólidos suspensos, concentrações de metais e de outras substâncias de caráter orgânico ou inorgânico. No entanto, somente as análises físico-químicas tradicionalmente realizadas não são capazes de distinguir entre as substâncias que afetam os sistemas biológicos e as que são inertes no ambiente e, por isso, não são suficientes para avaliar o potencial de risco ambiental dos contaminantes. Portanto, testes de toxicidade são ferramentas desejáveis para avaliar a qualidade das águas e a carga poluidora de efluentes (Costa et al., 2008).

Segundo Costa et al. (2008), os testes de toxicidade podem ser classificados em agudos e crônicos. Esses testes diferem na duração e nas respostas finais que são medidas. Os testes de toxicidade aguda são utilizados para medir os efeitos de agentes tóxicos sobre espécies aquáticas durante um curto período de tempo em relação ao período de vida do organismo teste.

Testes de toxicidade crônica são realizados para medir os efeitos de substâncias químicas sobre espécies aquáticas por um período que pode abranger parte ou todo o ciclo de vida do organismo-teste. Os testes de toxicidade podem ainda ser classificados em estáticos, semi-estáticos e dinâmicos, de acordo com o método de adição das soluções-teste (Costa et al., 2008; Magalhães e Filho, 2008.).

Em relação aos organismos-teste utilizados, destacam-se as espécies Artemia salina e Lactuca sativa. A Artemia salina é um microcrustáceo de água salgada, que se sobressai por compor um bioensaio de toxicidade de baixo custo, rapidez na obtenção dos resultados e por não exigir técnicas assépticas. Em função de seu habitat natural, representa um importante indicador biológico para meios com elevadas concentrações de sais. Já a espécie Lactuca sativa é normalmente recomendada devido ao crescimento rápido e a pouca reserva de energia necessária para sua germinação (Palácio et al., 2012; Costa et al., 2008).

Deste modo, o presente estudo teve como objetivo avaliar a toxicidade aguda em amostras de lixiviado tratado por processo foto-Fenton com irradiação artificial, frente às espécies de Artemia salina e Lactuca sativa.

Autores: Bruna Lariane de Medeiros; Aparecido Nivaldo Módenes; Isabella Cristina Dall’ Oglio; Aline Roberta de Pauli e Andréia Colombo.

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