BIBLIOTECA

Setor elétrico do Brasil está vulnerável às mudanças climáticas

Novo estudo do setor elétrico indica riscos de abastecimento com mudanças nos regimes de chuvas

Estudo da Coalizão Energia Limpa indica riscos de abastecimento com mudanças nos regimes de chuvas

Quase dois terços da energia produzida no Brasil é hidroelétrica, ou seja, é renovável.

Porém, os regimes de chuvas, cada vez mais alterados devido às mudanças climáticas, causam grave ameaça à geração de energia elétrica do país.

Para se ter ideia, em 2021, o Brasil viveu a pior crise hídrica dos últimos 90 anos. Este e outros apontamentos, que reforçam o despreparo e vulnerabilidade frente à crise do clima, constam no novo estudo da Coalizão Energia Limpa.

A pesquisa é Intitulada “Vulnerabilidade do setor elétrico brasileiro frente à crise climática global e propostas de adaptação”. Esta  pesquisa mostra que o Brasil ainda não tem uma política concreta para enfrentar os impactos da mudança climática sobre seu sistema elétrico.

Ao desconsiderar as alterações no clima, o planejamento elétrico nacional está contando com um volume de chuvas representado pelo histórico de precipitação que pode não ocorrer.

Dessa forma, tal situação obriga a tomada de medidas emergenciais que encarecem e poluem a matriz energética, como verificado na crise hídrica de 2021.

“Passamos em 2021 por uma crise hídrica, que convergiu para uma crise energética e nos obrigou a usar nossa capacidade de geração térmica”, lembra Luiz Eduardo Barata Ferreira, presidente da Frente dos Consumidores de Energia e Ex-Diretor Geral do ONS. Segundo ele, uma série de decisões para o setor tem sido tomadas sem que sejam levadas em conta questões absolutamente técnicas e econômicas, “o que acabam redundando na operação e no custo do sistema”, diz.

O estudo consiste em uma revisão dos principais achados científicos recentes e foi liderado pelos pesquisadores José Wanderley Marangon Lima, José Antonio Marengo e Lincoln Muniz Alves.

Mais vento e sol

O estudo não recomenda a inclusão de novas hidrelétricas na matriz energética. Sobretudo pelas previsões de diminuição da precipitação em certas regiões do país, como o Nordeste e parte da região Norte.

Entretanto, os modelos climáticos também apontam para um incremento nos ventos e na radiação solar na região nordeste, o que aumenta as oportunidades na produção de energia renovável.

Basicamente, é possível “aproveitar” a própria mudança climática para melhorar o sistema elétrico brasileiro e torná-lo mais resiliente.

“O Brasil pode exercer um papel estratégico na geopolítica global, sendo pioneiro na transição energética viabilizada a partir da construção de um sistema hidro-solar-eólico. Isto permitiria a redução dos custos da energia elétrica e uma maior competitividade global dos produtos brasileiros, o que, por sua vez, contribuiria para a retomada da economia e a redução das desigualdades sociais que assolam o país”, diz o estudo.

Destacamos abaixo 6 considerações do estudo para os tomadores de decisão:

1- A diminuição das precipitações esperada no Nordeste e no Norte do Brasil:  não recomenda a implantação de novas centrais hidrelétricas, principalmente se forem usinas a fio d´água.

É o caso, por exemplo, do complexo de usinas no Rio Tapajós, previsto para depois de 2030. Ele precisa ser reavaliado à luz das projeções climáticas.

2- O incremento nos ventos e na radiação solar projetados para o Nordeste brasileiro sugere que a região deverá ser uma grande exportadora de energia renovável.

3- Sistemas distribuídos tendem a ser mais resilientes a eventos extremos climáticos.

Entre as soluções locais, neste sentido, está a instalação de baterias com geração fotovoltaica. Ela pode minimizar os efeitos adversos do clima.

4- A diversificação da matriz energética.

Especialmente a partir de fontes renováveis (como a solar e a eólica), bem como por meio do desenvolvimento de tecnologias como armazenamento (baterias), hidrogênio verde e usinas hidrelétricas reversíveis.

Dessa forma, para lidar com situações de estresse climático, o acréscimo de novas termelétricas fósseis à matriz deve se dar somente em caráter emergencial e temporário.

5- Elaboração de um plano de resiliência do Sistema Integrado Nacional frente às mudanças climáticas nos segmentos de geração, transmissão e distribuição.

6- Incentivo para pesquisas em tecnologia de armazenamento de energia.

Fonte: ciclovivo


LEIA TAMBÉM: NO RIO, ANTIGO ATERRO SANITÁRIO VIRARÁ UMA USINA DE ENERGIA SOLAR DE 5 MW

ÚLTIMOS ARTIGOS: